Vocês um dia foram só uma idéia.
Foram só um sonho, que póde se tornar realidade.
Mal posso crer vendo-os agora que já foram tão pequeninos, tão pequeninos!
Vocês estiveram em meu ventre, cada um ao seu tempo.
Sugaram de meus seios e eu sempre os amei tanto, tanto...
Esqueci tão depressa as noites mal dormidas, e aquelas loucuras todas que vivemos quando temos a responsabilidade imensa cuidar de um recém-nascido, de um bebê. Aquelas coisas todas que depois acabamos esquecendo, mas que na hora em que se vive é um bicho de sete cabeças.
Estive me lembrando hoje, vendo-os tão moços, de uma poesia que li há muitos anos atrás.
Ela é tão linda que vou encaixá-la nesta crónica para que as pessoas que não tiveram a oportunidade de conhecê-la a conheçam agora.
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os frutos da Vida ansiando por si mesma.
Vêm por vosso intermédio, mas não de vós.
E embora estejam convosco não vos pertencem.
Podeis dar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos.
Pois têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas.
Pois estas moram na casa do amanhã.
Que não podeis visitar nem mesmo em vossos sonhos.
Podeis esforçar-vos para ser como eles, mas empenhai-vos em não
Fazê-los à vossa semelhança.
Pois a vida não retrocede com o ontem.
Sois os arcos de que vossos filhos, qual setas viva, são desferidos.
O profeta de Kahlil Gilran
Gostaram? Eu gosto.
É difícil aceitar isso, mas é a verdade da vida.
Sei que meus filhos têm sonhos próprios e tão logo estejam suficientemente maduros irão cuidar da própria vida.
Os pássaros ganham asas e voam.
Acontece com todo mundo, aconteceu comigo.
Por enquanto aproveito o que a vida me oferece: a presença luminosa deles enchendo minha vida com seus enormes corpos (os dois se aproximavam do metro e noventa e cinco de altura), com seus vozeirões, com seus carinhos a toda hora.
A casa cheia de música, de alegria, de juventude. O viço da juventude é algo emocionante de se ver!
Aproveito cada minuto porque já sei de antemão, que um dia tudo isso que vivemos agora, ficará só nas lembranças.
Vou contar um pouco de cada um aqui, mas o espaço sempre seria pequeno, porque vivemos nestes anos todos tão intensamente e fomos sempre uma família tão unida!
Meu filho mais velho trouxe-me um amadurecimento que jamais conheceria não fosse tudo o que precisamos passar juntos.
As mães já deveriam nascer sabendo tudo, já deveriam saber todos os cuidados que devem ter com um bebê.
Eu li nos manuais, ouvi conselhos de mulheres experientes. Mas tudo na prática é tão diferente do que na teoria!
As coisas com a gente parecem sempre acontecer de formas diferentes.
Olhando-o até hoje eu lhe peço perdão silenciosamente dentro do meu coração, por ele ter sido algumas vezes uma cobaia em minhas mãos (afinal eu estava naquela situação pela primeira vez, era como se diz "marinheira de primeira viagem").
O motivo do choro não era cólica, tantas vezes. Era fome! Ou era só manha mesmo! Ou era muito mais que isso...
Como ele gostava de colo! E como eu gostava de embalá-lo!
Com o primeiro filho nós erramos tantas vezes querendo que ande quando as outras crianças da mesma faixa etária andam, que tenham certos comportamentos que só podem adquirir quando estão maduros para isso.
Só mais tarde compreendi essas coisas.
Este meu filho é duma generosidade imensa e possui tantas qualidades que encanta quem o conhece.
Por ele sofri todas as dores que alguém pode sofrer e tive a maior felicidade que se consegue alcançar.
Amo-o tanto que chega a doer este amor em mim.
Meu filho mais novo nasceu depois de quase sete anos e fez-me sentir completa como mãe. Com ele tudo foi tão diferente.
Foi tudo tão fácil, que parece que nem o vi crescer. Ele andou antes dos nove meses, foi precoce em tudo e encheu ainda mais o nosso lar de alegria com sua vivacidade.
Foi desde o pré o melhor aluno da sala e desenha divinamente (não sabemos se um dia fará desta sua arte uma profissão).
Logo terminará o ensino médio e peço a Deus que lhe abra as portas para o sucesso, seja em qual campo escolher.
Existe uma afinidade muito grande entre nós e grande semelhança facial, nossos olhos são de mesmo formato e cor parecida. Temos também mãos idênticas.
Também o amo tanto que jamais conseguiria me expressar com palavras.
Sou piegas, careta e todo dia declaro meu amor a eles.
Sou suspeita para falar que os acho lindos. Mas os acho mesmo e pronto! São tão saudáveis, tão fortes.
Custo a crer que nasceram de mim e me acho tão pequenina agora perto deles.
Sei que os ajudei a vir ao mundo, embora não me pertençam (são de Deus) . Respeito suas individualidades e rezo para que só encontrem pelos caminhos da vida a felicidade, o amor, a paz. Que nunca percam os valores que nós lhes passamos. Que continuem sendo pela vida afora tão maravilhosos como sempre foram.
E no dia em que eu me for poderei dizer que trouxe à terra boas sementes, que germinaram em solo fecundo.
