queria perguntar ao amor, uma noite dessas,
olhando os seus olhos profundos, sempre surpreendidos na noite,
por que o verso ausente, por que a lua fria, por que a fogueira fumacenta
queria perguntar ao amor...
mas não posso, seus olhos fogem, só me chega seu perfume
e a fuligem da velha chama que não apaga, se esconde.
agora mesmo está lá, me olhando,
com sua vontade de dizer tudo.
eu sei, conheço, ouço, vem-me o cheiro.
esse sentir não se esconde, eu o pressinto.
sequer me dá o poema que está preso na garganta,
sequer me diz da sua angústia, do que lhe dói,
além da busca que é inerente à própria condição humana.
não há respostas nesse céu que olha, nem no silêncio que lhe cerca.
queda-se, tomado da mais profunda angústia, enleia-se em enganos,
sabendo tudo, ou quase tudo e por não poder mergulhar,
não toma a mão da vida, não toma a mão do sonho
vai, homem, que teu destino está escrito.
só podes por-lhe umas flores, uns perfumes.
vem buscá-lo, para não perdê-lo nas mãos alheias,
ou na própria vida, ou no próprio vento.
toma nas mãos a aventura de novo, o amanhecer rubro,
as montanhas de seda, o poema que esqueceste nos dias vazios,
o sonho que guardas, escondido, mastigado, que te amarga a língua.
bem sabes o que conquistastes.
brincas de esconder com tua alma?
ou com a minha?
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