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Erotico-->9. CONGRAÇAMENTO, AFINAL -- 27/07/2002 - 09:06 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A ilusão da vida apagou-se nesse momento de extraordinário enlevo para o casal. Restava a realidade do serviço a cumprir. Diante do quadro final de ternura e união, desvaneceu-se-lhes a idéia de perquirir quem foram aqueles seres que se introduziram, um dia, tão arraigadamente em seus corações, mas que depois foram desprendendo-se com a vida. Os efeitos estavam muito visíveis para irem à busca das causas longínquas. Admitiam, e nisso estavam plenamente de acordo, que ambos haviam falhado. Não se acusariam, porém, inutilmente: agora era a hora de trabalhar. Fá-lo-iam pelo amor que os unira. Fá-lo-iam pelo bem daquelas criaturas desarvoradas.

Evocado por forças misteriosas, compareceu o amigo Virgílio para aviso oportuno:

— Caros irmãos, se vocês estivessem diante de seres que lhes tivessem sido totalmente estranhos durante toda a existência, agiriam do mesmo modo? Não sentem certo impulso íntimo a dizer-lhes que é chegada a hora do socorro oportuno? Vocês estão preocupando-se porque as criaturas que lhes interessam são os três filhos de suas dores e expectativas, mas saibam que deveriam agir, igualmente impulsionados para o socorro, se tivessem recebido por missão atender à jovem que atraiu Marcos, ou o desafeto de Carlos, ou qualquer dos iludidos de Alfredo. Vejam que não sejam dominados por egoísmo tolo e acrescentem real interesse pela salvação dos filhos, envidando esforços para que ninguém se veja arremessado nos catres infectos das masmorras do báratro. Senti, na demonstração dos problemas que afetam seus meninos, que a luta será árdua e o trabalho extenuante. Não há pressa, contudo. Confiem em que Deus é pai de misericórdia e ajam com tranqüilidade, em busca da felicidade da atenuação dos males. Principalmente, dediquem boa parte do tempo à oração contrita, no sentido de solicitar a ajuda das forças do bem que se dispõem ao auxílio dos novatos do socorrismo e façam-no em nome de Jesus. Fiquem com Deus!

Nepomuceno reconheceu que Virgílio estava rapidamente afastando-se do círculo que os prendia, por força de seus ganhos no campo da moralidade. Se não quisessem perder a companhia do amigo, deveriam esforçar-se mais para a consecução da missão que lhes estava afeta.

Assim, deliberaram separar-se no acompanhamento dos filhos, na tentativa de obstar os dois que se viam soltos no campo terrestre. Carlos ficaria durante bom tempo preso ao leito. Josineida acompanharia Marcos. Nepomuceno tentaria seguir os passos a Alfredo. Encontrar-se-iam todo dia para relatório circunstanciado e para possíveis decisões conjuntas a respeito do que fazer, momento em que se dedicariam às orações tão insistentemente recomendadas pelo amigo.

A mãe passou a seguir o filho mais velho, enquanto o pai ficava com o mais novo. Parecia-lhes que a decisão fora acertada, pois as falhas que perceberam em Marcos eram sentimentais e as virtudes em falta em Alfredo, inteiramente morais.

Como resultado da primeira assistência, ambos descobriram que deveriam defrontar-se com ampla caterva de espíritos impuros que assediavam os filhos. Deveriam rezar não só por eles, mas por todos os que necessitavam de esclarecimentos. Deliberaram voltar à presença de Carlos, para caracterizar com firmeza a extensão das más influenciações que, por certo, estariam estimulando-o a afastar-se da atitude mais correta diante da vida. Ali também encontraram vários seres malignos, atraídos pelos sentimentos de vingança que revoluteavam na forma de negras nuvens a se adensarem em torno de seu perispírito.

Naquele instante de profundo pavor, ambos se ajoelharam ao pé da cama e, com sentimento de impotência e frustração, elevaram os pensamentos ao Alto, rogando por ajuda, pois se sentiam inferiorizados diante de tarefa tão penosa. Arrependiam-se de não se terem dedicado mais proficientemente às meditações de caráter doutrinal e de não terem praticado mais ações meritórias, para combaterem, com mais denodo e segurança, a terrível afronta impingida às intenções daqueles que neles haviam confiado para o socorro oportuno.

Nesse instante, sentiram-se soerguidos e receberam o influxo amoroso de alguma entidade que os amparava. Observaram as criaturas que volitavam ao derredor do filho e animaram-se à exortação à virtude e ao amor.

Enquanto Nepomuceno permanecia ajoelhado, em prece, Josineida endereçou terna vibração de compreensão e afeto por aqueles seres que sentia desarvorados e ignorantes. Sua manifestação, surpreendentemente, conseguiu estabelecer vigoroso elo de relacionamento, de sorte que a primeira sensação que percebeu chegar a si foi de medo e de fúria, logo transformada em indefinido sentimento de culpa. Não expunha em palavras o que julgava dever transmitir aos irmãos sofredores, mas percebia que todos os sentidos se punham a serviço da intenção de encaminhá-los para o bem. Não havia diálogo entre eles, mas ficava claro que as suas vibrações como que respondiam às que sentia atingir a sua sede de compreensão e percepção da realidade.

Quando chegaram, havia diversas entidades.; quando Josineida deu por encerrada a dissertação de muito amor e de muito júbilo, por se ver capaz de trabalho tão importante, restava junto ao leito tão-só infeliz criatura, a pedir perdão ao paciente pelos males que lhe havia produzido.

Josineida aproximou-se dela em lágrimas e abraçou-a ternamente. Era figura de mulher, de fisionomia jovem, embora de idade indefinida.

Estaria ali a primeira chave para que pudessem abrir a porta trancada do coração do filho? Que misterioso relacionamento poderia ter havido entre ambos, que se denunciava inteiramente infeliz pela atitude de repulsão que, instintivamente, se poderia perceber nas reações de desagrado do enfermo?

Com o afastamento dos obsessores, Carlos conseguiu dormir, serenando as angústias íntimas que o agitavam no leito. Dormindo, o espírito se desligou brandamente da prisão, colocando imenso pavor na expressão da criatura que lutava por se desprender dos braços da socorrista.

Nepomuceno aproximou-se do filho, mentalizando a sua ascendência dos tempos da infância do garoto traquinas, que precisava trazer sob rigorosa disciplina, tanto que foi quem lhe herdara todos os negócios.

Carlos sentiu a presença coercitiva de entidade de poderio superior ao seu e resignou-se a não perseguir aquela que via debater-se em sofrimento, como que presa por invisíveis laços.

Em longa conversa, truncada por acusações da parte do homem e por sentidos pedidos de perdão provindos da mulher, puderam aquilatar os pais a extensão do problema que cingia os dois seres. A moça fora esposa do rapaz em precedente encarnação e o havia assassinado, ao descobrir que era traída. Precisava, agora, de seu perdão, para poder compenetrar-se de que o crime não o atingira tão amargamente que se estaria constituindo em peso a carregar no carma desta outra vida na carne. Parecia a ela que, sem a boa vontade do antigo companheiro, jamais iria ter sossego na erraticidade. Os rogos de perdão, porém, não se limitavam às atitudes que tomara anteriormente, mas incidiam nas iniciativas mais recentes de perseguição, pelo fato de ter-se afastado para novos relacionamentos. O princípio do ciúme persistira e a mulher agora percebia que todo o comprometimento baseado no ódio só servira para prejudicar a ambos. Arrependia-se, finalmente, e punha-se a seu serviço, sob o amor que sentira um dia, para saldar os débitos.

Carlos avaliou a intenção da mulher e foi incapaz de reagir grosseiramente àquele sentimento fundamentado na convicção da verdade. Pela primeira vez, reconheceu que ele mesmo estava dominado por impulsos de vingança e que a sensação de amor que os unira estava reacendendo a vontade de se livrar de peso tão forte. Parecia-lhe que o crime de que fora vítima tivera tido causa possível de configurar-se em atitudes injustas tomadas em relação àquela criatura.

A análise de sua condição não poderia efetuar-se de modo perfeito, mas os sentimentos para com aquela figura lacrimejante se amoldavam agora, segundo procedimentos mais consentâneos com a harmonia e o equilíbrio que se requerem de quem age sob o influxo do amor e da caridade.

Josineida não mais precisava prender a mulher.; Nepomuceno não mais necessitava sofrear os impulsos ao filho.

Finalmente, para alegria de todos, forte luz impregnou o ambiente e puderam reconhecer-se uns aos outros.

Naquela noite, ao recolherem-se para a avaliação do trabalho, o casal não pôde manifestar palavra a respeito do que quer que fosse. Tudo que fizeram foi orar em profundo agradecimento. A selva dos sentimentos começava a ser desbravada.

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