Usina de Letras
Usina de Letras
145 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62265 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50654)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6203)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->PRISIONEIRA DO PASSADO -- 09/02/2002 - 16:29 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PRISIONEIRA DO PASSADO


© Nandinha Guimarães e J. B Xavier


Olhou aquela paisagem mais uma vez...Quase nada se modificara. O vilarejo mantinha a tranqüilidade de outrora, embora fosse possível observar alguns flashes de modernidade, como aquele cyber recentemente inaugurado. Haviam decorrido anos, desde a última vez que ali estivera. Jamais esquecera de cada detalhe dos dias que ali vivera. Deitada na varanda do pequeno hotel assistia o último suspiro da tarde, enquanto deixava-se levar pelas nuvens das recordações. Era uma mulher ainda jovem, mas o rosto trazia marcas que denunciavam uma tristeza infinita. Os olhos inquietos e perturbadores tinham uma expressão de busca, como se algo tivessem perdido em algum momento da vida. Sentia-se como um navio à deriva, sem cais ou porto. Seus passos andavam perdidos pelo mundo, sem que qualquer estrada os acolhesse, porque naquele lugar, deixara-se naufragar num encontro que findara em despedida.
Molhou os lábios, como se por um milagre, pudesse os beijos dele sentir. Em sua boca ficara um sabor de espera para dos beijos dele novamente provar...Beijos que permaneceram a olhar seus lábios, suspensos num tênue desejo a saciar...Braços estendidos aguardando abraços que se sonhavam em eternidade. Sua face sorriu, quando fechou os olhos e escutou a voz dele que o vento do coração lhe soprou. Preservara aquele amor silenciosamente durante anos, porque era uma maneira de lembrar-lhe da própria existência. Aliciada pela saudade, quase pode sentir o toque das mãos dele a margearem seu corpo. Não conseguia conceber sua existência sem essa expectativa que cuidadosamente tentava transformar em esperança. Magicamente, deixou-se dominar pela recordação do dia em que o viu pela primeira vez. Não tinha os gestos suaves e estudados dos príncipes dos contos de fada, como ela tanto esperava; nem viera montado num cavalo branco com sela dourada. O corpo dele exalava determinação; tinha as mãos fortes e o olhar decidido de um guerreiro. Foi com a seta certeira daquele olhar penetrante que ele a conquistara e a mantivera prisioneira por todos esses anos.
Uma brisa suave brincava com as folhas na calçada, como a espalhar pela noite um perfume secreto que recendia daquele amor incontrolável. As andorinhas voavam rasantes bebendo na fonte, em frente à Matriz e o brilho do luar trazia-o à lembrança, como um vulcão a explodir em seu peito. Ela era, definitivamente, inexoravelmente, prisioneira de seu passado e espectadora ansiosa de seu futuro.
A quietude avançava sobre o vilarejo de mãos dadas com o silêncio, apenas quebrado pelo som triste dos sinos, convidando os crentes à prece. Um leve tremor percorreu-lhe o corpo, quando quase foi perceptível o beijo de adeus...Depois um aceno à distância, e o vazio no fim da rua. Sua vida começara e terminara em uns poucos dias, como se fosse possível condensar assim toda uma existência!
Enquanto a noite vestia o céu, entregava seus olhares a uma estrela que a fitava curiosa. Aquela mesma estrela que tempos atrás presenciara a dança secreta de dois corpos que transbordavam em um brinde de completa entrega.
Alguém, na calçada, passou assobiando a música que serviu de pretexto para o primeiro encontro...Ela quase pode sentir a presença dele. E assim, recostou-se na cadeira de vime, fechou os olhos e esperou pelo beijo que sabia, viria um dia...
A seiva que escorre do sonho fertiliza a esperança de um novo encontro.

* * *
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui