Entrei no mundo da fedilidade impossível, levado ao colo, pela mão e enfim tão só de pé, tacitamente obrigado a seguir a única via que me abriram. E caí no hábito, até que, presumo, o raciocínio vindo não sei de onde, se encarregou de demonstrar-me a diversidade da farsa em que estupidamente estava a participar.
De joelhos, ai Jesus, amém, Avé Maria cheia de graça, Pai Nosso - ainda não sei porque é que o "Nosso" tem maiúscula - que estais no céu, venha a nós o Vosso reino "$", em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, suportando dia a dia uma cambada de hipócritas - uns imbecis e outros ignorantemente espertos - que só fazem merda em cada minuto que estejam em acção, espreitando as bundas e as tetas das Madalenas que ainda não se arrependeram.
Tarde, muito tarde aprendi que a inteligência de Moisés, logo que apresentou à turba a estupidez dos dez mandamentos, valia uma cabeça do tamanho de um enorme armazém, do chão ao tecto, pleno de sacos de batata a grelar.
Aquela, na América, dos condenados à morte, uns minutos antes da execução, receberem a visita de um padre, é mesmo de caixão à cova. Se matuto um pouco sobre tal sofisma, começo logo a sentir formigueiro na garganta. O gfdp do governador, que é cristão e vai à missa todos os domingos, perante o derradeiro telefonema solicitando misericórdia, está-se cagando pró "não matarás".
Também muito interessante é a ideia luminosa dos comunistas que, interpretando muitíssimo bem a lengalenga da Santa Madre Igreja, viraram o catecismo ao contrário, pintaram-lhe a capa de vermelho vivo e criam a consabida cassete do "avante camarada: o povo unido jamais será vencido".
Pulhas-pulhas, pulhas até dar com um pau, seitas de sanguessugas que sobrevivem lautamente à custa da arregimentação espiritual e ideológica dos legionários tansos que mais e mais lhes vão caindo nas malhas.
E lá estão, no aprazado dia de festa em favor do povo, os cadeirões aveludados da melrada que vai mudando o nome das coisas na mesma coisa: o presidente corrupto, ladeado pelos corruptores, e o cardeal, vestido de bailarina, plenipotenciário assexuado, para dar a santíssima benção à bicharada toda. Lindo !
António Torre da Guia |