Volta a Escola de Samba Beija-Flor a interromper a dolce vita do sambódromo com os planos de colocar setenta bambas do samba vestidos de nazistas e outros tantos, como centuriões romanos. Ambos mataram judeus - os nazistas no século passado, os centuriões, em 33 D.C., quando assassinaram o judeu Jesus. Parece que a Escola de Samba está a competir com programas escolares - está tentando ensinar história universal.
Há coisas que deveriam ser evitadas, como colocar homens vestidos de nazistas nas ruas do Rio, mesmo que seja para criticar, condenar, o que foi o nazismo. Não tem cabimento uma turma de homens vestidos de nazistas num ambiente carnavalesco. É estragar de forma irremediável uma atmosfera de festa e de alegria. É trazer à memória -de forma bizarra, para dizer o mínimo - um período horroroso que o mundo viu, observou e sobre ele silenciou. Não há porquê levantar aquele cenário dentro de um espírito carnavalesco. É trazer de volta um aspecto sombrio dos nossos erros, como humanos, que ainda não foram devidamente expurgados.
Desfile de escola de samba é um ótimo condutor de mensagens, e disto sabem muito bem os seus diretores. Sugiro que se substituam os nazistas dançarino no Sambódromo por um cenário onde se mostrem nossas falhas, de agora, retinindo ao sol ou escamoteando-se pelas noites sem lua - os xenófobos, os que matam, incendeiam, mutilam mendigos, índios, pobres das sarjetas, das favelas, meninos e meninas já jogadas na miséria da vida. Mostrem claramente o que alguns brasileiros fazem contra seus próprios irmãos brasileiros - negando-lhes o direito de viver como querem ou podem. Já que a Escola de Samba Beija-Flor tem a presunção de educar o povo, eduque-o mostrando o que fazemos de mal - nossas matanças nas prisões, nas ruas, nos recantos brasileiros que pouca gente vê, na asfixia a que submetemos crianças levadas à prostituição.... já que se outorga o direito de "ensinar", Escola de Samba, ensine sobre o que está sendo perpretado aqui mesmo. Muita gente que não vê ou não quer ver, vai ter o que pensar depois que o seu desfile passar. Se é para educar o povo - já que nas escolas pouco se fala disto, mostre-se o que é xenofobia, o que é preconceito, mostre como somos no Brasil em relação aos negros, aos índios, aos homos e a todos os que moram nas periferias sociais.
Mostrar nazistas sambando, fazendo o gesto de saudação SS, batendo calcanhares em botas pretas - isto não é lição de história e nunca foi. É mais, digo eu, uma forma dissimulada de estender, expor, expandir os preceitos nazistas. Os centuriões são lá espertamente jogados para minimizar os efeitos, uma espécie de catalisador, uma forma ridícula de se mostrarem - os donos da Beija-Flor - como neutros, já que ampliam o quadro, não permanecendo apenas com os nazistas.
Beija-flor, nazismo não é flor que se cheire. E se você se mete a ser escola de alguma coisa, Beija-flor, olhe para o estado pútrido de certas áreas aqui mesmo, no nosso Brasil. Voltar para 33D.C ou para 1939- em diante não é um trabalho de esclarecimento nenhum. É mais uma volta meio suspeita a um período bem mais complexo do que pode ser abarcado por um desfile de carnaval. Para ensinar e fazer o povo pensar - e até mudar - mostre o que estamos vivendo hoje, aqui e agora.
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E.E. |
