Usina de Letras
Usina de Letras
156 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62270 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10381)

Erótico (13573)

Frases (50661)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4778)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6204)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->A NOITE DE DESESPERO -- 05/02/2002 - 07:39 (guido carlos piva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A NOITE DE DESESPERO


O velho relógio soa três horas da madrugada. Nico, angustiado, já está há quatro rebuscando todas as gavetas de sua casa. Contudo, por mais que se angustie, não consegue achar o que procura.
A noite está tenebrosa! O vento zune pelas frestas das janelas. Go-tas de chuva forte sapateiam freneticamente no telhado da cozinha. Nas paredes desbotadas, relâmpagos provocam nuanças de luz e sombra, sombra e luz! As lâmpadas estalam, piscam em meio aos ribombares da forte trovoada. Nico, mesmo apavorado ante à noite sinistra, avidamen-te continua a buscar, a rebuscar; a procurar pelos cantos, por todos os lugares possíveis e imagináveis de sua velha cozinha. É inútil! A sua in-sana e desesperada busca é em vão. De súbito, um estrondo, um cla-rão, acompanhado de um piar estridente de coruja, fazem com que Nico se sobressalte! Assustado, apressadamente retorna ao seu quarto de dormir.
Sofregamente volta a procurar, a remexer na gaveta de seu criado-mudo; nas de seu guarda-roupa, nas de sua velha camiseira. Não con-segue encontrar. Desanimado, vencido pelo cansaço, senta-se angustia-do em sua cama desarrumada. Seu olhar, enternecido, passa a vaguear pelo ambiente de seu quarto: o abajur, o criado-mudo, o porta-retrato... A foto de Tina, a sua amada!
A lembrança de Tina faz com que ele mergulhe em recordações. E-mociona-se! Sente saudades dos tempos outrora felizes! Uma lágrima escorre pelo seu rosto abatido. Uma depressiva nostalgia passa a tomar conta de seu debilitado ser. Seus pensamentos passam a se misturar em sua mente. O suave rosto de Tina passa a esboçar um desenho dis-torcido em sua mente confusa. Passa a vislumbrá-la sentada na poltro-na no canto do quarto. Bela! Como nos velhos tempos. O mesmo rosto, os mesmos gestos delicados... As mesmas mãos, os mesmos dedos en-treabertos segurando com suavidade o cigarro fumegante. A mesma boca vermelha, carnuda. Os mesmos círculos de fumaça pelo ar. O mesmo perfume... O mesmo cheiro forte de tabaco. Ah!... Que belos momentos àqueles ao lado de Tina, a sua companheira! A doce visão faz aumentar à intensidade da vontade de encontrar o que procura. Ni-co sua frio. O seu peito passa a estremecer a cada batida de seu cora-ção. Desespera-se! Sôfrego, extremamente angustiado, retorna a pro-curar em todos os cantos da casa, é inútil: não consegue achar o que procura! O tempo vai passando, e o seu desespero aumentando... cada vez mais!
Um total e profundo silêncio passa a pairar por todo ambiente da casa. A chuva forte cessa. Somente um pingar de gotas acompanha o ritmo de seu resfolegar ofegante. Sua aflição aumenta. Confunde-se! Passa a falar consigo mesmo: “Onde meu Deus? Onde poderia estar? Onde!” Não consegue mais concatenar seus pensamentos. Está prestes a desfalecer. Em estado de extrema letargia, passa a ouvir o tiqueta-quear de seu velho relógio... O badalar do passar das horas: Quatro... Cinco... Seis... Amanhece...
Os primeiros raios de sol começam a vazar pelas frinchas do telhado da varanda. Sente frio, medo. Seus ouvidos zumbem. Delira! Nico tenta recuperar-se. Ouve vozes... Passos à frente de sua casa. Está delirando! Uma febre passa a tomar conta do seu corpo. Depressivo, volta à cozi-nha: quer beber água, talvez uma xícara de café. Sua boca está seca! Sente tremores, tenta recuperar o seu ânimo. Está sem forças. Sua mente volta a ter um novo momento de lucidez. A custo, cambaleante, levanta-se e decide fazer um café. Acende o seu velho fogão enquanto continua a perguntar-se compulsivamente: “Onde poderia estar?” A sua tentativa em lembrar, em achar, continua sendo em vão!
Com a xícara de café, Nico, ainda cambaleante, recosta-se no sofá estampado da varanda. Fecha os olhos embaciados pela noite mal dor-mida. Seus pensamentos voltam a se misturar. Volta a falar consigo mesmo: _ “Onde, meu Deus! Onde poderia estar? Onde?” Seu sofri-mento chega aos limites do suportável. Não agüenta mais tanto sofri-mento. Respira com dificuldade. Envolve-se em mórbidos pensamentos. A sua visão se turva. Entrega-se ao seu imenso torpor...
Subitamente, dá um salto! Arregala os olhos. Põem-se em pé. Grita: _ “Nãoooo!” Humilha-se. Chora copiosamente! Blasfema-se! Revolta-se! Em lágrimas retorna rapidamente à cozinha. Num gesto desesperado, avidamente debruça-se e... sobre o fogão, abre o gás...
Com o rosto transtornado, sequioso, trêmulo, acende um cigarro. Após uma longa e profunda tragada, dá um sorriso de satisfação e ex-clama triunfante: “Por fim... como pude não me ter lembrado! A noite toda procurando e sequer consegui encontrar um palito que pudesse acender este meu” bendito “cigarro! Que prazer! Como pude não me lembrar do acendedor elétrico? Como? Aaaahhh! Enfim... Terminou o meu sofrimento!...” e, com o mesmo gesto do momento que havia vis-lumbrado a sua saudosa e doce Tina, calmo, satisfeito, passa a dar ba-foradas de fumaça em direção ao teto.
Dois círculos se entrelaçam, e... Como num sonho, balançados e dis-torcidos pelo vento, formam uma única palavra em pleno ar: “NICO...TINA!!!”

Totalmente refeito de sua desesperada e sofrida noite, aproxima-se e escancara a janela de sua sala. Depara-se com o seu vizinho, o Sr. A-nunciato, que, na rua, calmamente rega as plantas do jardim.
— Bom dia Sr. Anunciato!... Ouviu o temporal desta madrugada? Po-xa! Que chuva... Não!
— Temporal!... Chuva. Como Nico!... Você deve estar ficando louco! Hoje está fazendo vinte dias que não chove... É justamente por esse motivo que estou regando as minhas plantas!

O que sobrou da história:

“O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE”:
O “NÃO” FUMAR... ÀS VEZES, PODE CAUSAR ALUCINAÇÃO!

***
GUIDO CARLOS PIVA


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui