Usina de Letras
Usina de Letras
36 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62330 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22543)

Discursos (3239)

Ensaios - (10406)

Erótico (13576)

Frases (50710)

Humor (20055)

Infantil (5474)

Infanto Juvenil (4794)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140845)

Redação (3313)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6220)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Erotico-->4. FACÉCIA LEVADA A SÉRIO -- 22/07/2002 - 05:26 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Nepomuceno, que morava só em luxuoso apartamento no centro da cidade, tinha amplos recursos para suprir-se de tudo que a civilização mais moderna pudesse oferecer-lhe. Por isso, montara escritório com diversas aparelhagens reprodutoras de textos, que utilizara durante toda a vida. Diante dos diversos envelopes da correspondência e do papel usado pela esposa, na famosa carta da praia, pôde perceber que o material empregado era aquele mesmo que guardava, ainda sem ânimo para devolver ao cartório. Adquirira a certeza através da marca de água nítida, quando colocada a folha contra a luz do lustre.

Hesitava, portanto, em abrir as missivas, até mesmo aquela cujo endereçamento se dera ao Sr. Virgílio. Levantou-se da confortável poltrona em que se acomodara e ligou para o hospital, para receber novas do estado de saúde do desconhecido companheiro, já que se via trabalhando juntos nas atividades do centro.

Durante a espera de praxe, pensou estar vivendo estranha mistificação do destino. Homem sempre positivo, após a morte da esposa se via constantemente em sobressaltos, parecendo que certos estremecimentos lhe provinham do etéreo, como se fosse tocado por mãos de pura energia, sem forma definida mas com...

Ia por aí quando recebeu a informação solicitada: o paciente Virgílio Tavares estava fora de perigo, mas as visitas estavam suspensas até segunda ordem. Fizesse a gentileza de ligar no dia seguinte.

Nepomuceno voltou ao cantinho escolhido para acomodar-se durante a leitura e, prenhe de coragem, desdobrou a carta encontrada aberta sobre a mesa do centro e leu:



Prezado Amigo Virgílio:


Ao abrir esta, certamente terá tido notícia de que meu marido irá desejar contactá-lo a respeito dos serviços do centro, pois acredito que a determinação expressa no envelope será perfeitamente cumprida. Sendo assim, e só assim, desejo que você o receba de braços abertos, sem estranhar a narrativa que terá ele ensejo de lhe passar, acompanhada de comprobatória missiva que lhe deixarei, sob condições especiais.

O que peço ao bom amigo é que se esqueça do compromisso para comigo de partir para o etéreo, se tudo desse certo, conforme nosso desentendimento, o que daria ampla razão às minhas assertivas. Caso tenha esquecido, dado o tempo que poderá transcorrer até o momento da abertura desta carta, trata-se da discussão que levamos a efeito, segundo a qual lhe afirmava que era possível forjarem-se acontecimentos na vida das pessoas, desde que o objetivo fosse relevante, enquanto você afirmava que, havendo absoluto livre-arbítrio, ninguém conseguiria imprimir à vida de outrem qualquer rumo, mesmo se sob o amparo das divinas forças dos espíritos de luz. Lembra-se de que lhe disse que seria fulminado no dia em que descobrisse que estava errado e eu, certa, tendo você confirmado que partiria tranqüilo, dada a importância desse conhecimento? Sei que você brincava e eu não punha muito tento no que dizia. Pois agora, diante das diversas providências que tomei, temo que você venha a levar a sério a nossa tergiversação e a nossa "praga". Veja que não estou a prognosticar-lhe nada de mau, mas, se algo lhe acontecer, não me perdoarei.

Receba póstumos agradecimentos pelo que puder fazer pelo Nepomuceno e saiba que esta amiga lhe ficará perenemente penhorada.

Que Deus nos abençoe!



Nepomuceno estava petrificado. Que pensar a respeito dos vinte e tantos anos de convivência com a esposa, sem sequer ter percebido que possuía tantos dons de premonição? Surpreendeu-se aplicando o termo recentemente incorporado ao vocabulário e decidiu não esperar mais para ler as demais cartas. Deixou o envelope grande para o fim e decidiu-se pela abertura dos outros três menores. Eram mensagens mediúnicas pessoais, endereçadas a gente desconhecida. Em cada uma delas, o espírito comunicante dava instruções precisas a serem cumpridas no momento mesmo em que se tomasse conhecimento de seu teor. No entanto, não se estipulavam datas nem prazos, de sorte que tudo parecia ser muito aleatório. Imaginou que as pessoas fossem integrantes do centro e que caberia a ele ser o portador das novas. Em curto bilhete, pedia a esposa ao marido que envelopasse de novo as mensagens e que reescrevesse o nome dos destinatários, para não se perderem em conjecturas. Recomendava entrega pessoal e sigilosa.

Teriam esses amigos o coração fraco como o Sr. Virgílio? Estariam preparados para as notícias, através de desavenças de ponto de vista doutrinal? Não entendeu bem o teor de cada texto, pois falavam de modo estranho de atividades junto a instituições que lhe eram desconhecidas. Levantava a ponta do mistério certa expressão que lhe pareceu indicar para resgate de dívidas morais relativas a encarnes pregressos. Mas, no geral, o relacionamento entre as pessoas não lhe ficou claro na mente. Talvez o envelope maior contivesse orientações precisas.

Sopesou o volume, leu o seu nome grafado em letras de imprensa, verificou o nome da esposa indicado como remetente, avaliou a expressão "aos cuidados de" e percebeu que tudo fora disposto de modo que o material só lhe chegasse ao conhecimento após o contacto com o centro espírita.

Resoluto, abriu o grande envelope e lá encontrou calhamaço de folhas manuscritas e grampeadas, tendo como página de rosto sucinto bilhete:



Querido Amigo e Companheiro:


Agora que você se inteirou da verdade do contacto espiritual e do valor da doutrina espírita para a compreensão da vida e da existência, poderá sentir o quanto temos em comum, desde há tempos imemoriais. Leia as mensagens que psicografei, durante estes últimos tempos em que estou sentindo a vida esvair-se, e que contam a história de nosso amor em vários encarnes. Perdoe-me a forma inusitada de lhe propiciar esta leitura, mas saiba que, pelo meu desejo, neste mesmo momento em que você se põe a ler, estou ao seu lado, para verter-lhe os fluidos mais poderosos, para manter o tônus energético adequado ao recebimento das minhas vibrações de amor. Deus me ampare e o ilumine!

Felicidades, amor meu!



Assinava Rosaura.; entre parênteses, Josineida.

As páginas estavam numeradas. Havia vinte e cinco folhas em letra miúda mas legível. Em rápida folheada, percebeu, contudo, que a caligrafia não era sempre a mesma, apresentando-se de modo inteiramente distinto diversas vezes.

Nepomuceno não conseguiu desembaralhar os pensamentos. Queria e não queria avançar na leitura das mensagens. Temia estar penetrando em mundo desconhecido, até mesmo proibido. Tremia de emoção.

Ainda não se habituara à idéia do contacto com as entidades do etéreo. Depositou todo o material que trazia ao colo sobre a mesa ao lado e fechou os olhos, procurando recompor-se. Nesse instante, como por encanto, parecia ver a esposa, formosa e fresca, como no dia em que a conhecera, muito jovem, no pomar da casa do avô. Fora amor à primeira vista...



De madrugada, depositou os papéis no cofre. Deu uma volta pelo jardim e resolveu sair a passeio a pé pela cidade. Precisava espairecer.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui