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Redação-->"Nota 10 em violência" - Reportagem premiada pela SIP -- 15/12/2003 - 11:42 (Ricardo França de Gusmão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Série de reportagens sobre
tráfico de drogas nas escolas, do ODIA,
recebe prêmio da Sociedade Interamericana de Imprensa

Por Ricardo França

A série de reportagens sobre o tráfico de drogas nas escolas do Rio, publicadas pelo O DIA em agosto de 1996, recebeu o prêmio Bartolomeu Mitre, da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) por melhor contribuição para a solução do problema dos tóxicos nas Américas. O trabalho, resultado de uma minuciosa investigação nos porões das escolas públicas e particulares, feita pelos jornalistas Ricardo França e Fernanda Portugal, revelou um quadro mais do que negro: os tentáculos do narcotráfico nas salas de aulas. Durante três semanas - de 11 de agosto a 1 de setembro de 1996 - O DIA seguiu o rastro das drogas nas escolas, investigou ocorrências policiais, entrevistou estudantes viciados, traficantes, professores, diretores, pais de alunos e autoridades dos setores de Educação e Segurança Pública. O resultado foi uma radiografia do poder exercido pelos traficantes nas escolas do Rio, e do descaso das autoridades de Segurança Pública frente a essa realidade.
Da série de 22 matérias publicadas sobre o assunto, três foram as manchetes principais de edições de domingo consecutivas. Revistando arquivos policiais, a reportagem descobriu outra estatística aterradora: as escolas públicas e particulares do Rio se transformaram num território sem lei. Pelo menos 10 ilícitos penais são praticados mensalmente por estudantes menores de idade dentro das escolas. Os crimes passam por pequenos furtos, vandalismo, pichações e desembocam na violência extrema: como as tentativas de seqüestros, roubos de veículos, estupros, tráfico de drogas e homicídios. Pesquisa feita pelo Nepad, da Uerj, publicada pelo O DIA com exclusividade, revelou que os estudantes já haviam experimentado todo o tipo de entorpecente dentro da escola desde heroína até cocaína, anfetamina, haxixe, maconha e LSD.
As reportagens descobriram uma ousada estratégia adotada pelos traficantes: o aliciamento de menores - que vinham usando as escolas como quartéis de formação de viciados. Os chamados alunos ou repetentes profissionais (jovens com idade entre 13 e 15 anos) tinham a missão de recrutar e viciar meninos e meninas na faixa etária entre sete e oito anos, para formar uma nova geração de viciados. Tal denúncia fazia parte de relatórios esquecidos do Serviço Reservado da Guarda Municipal. Chefe de um trabalho isolado, o comandante da Guarda, coronel Paulo César Amêndola, repassou os relatórios para o Centro de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (Cisp). Nenhuma providência foi tomada e os fatos foram omitidos pelo secretário de Segurança, general Nilton Cerqueira. Enquanto a polícia se preocupava em revistar morros e favelas atrás dos chefões do tráfico, as nossas crianças continuavam a ser aliciadas nos bancos escolares. Os relatórios da Guarda Municipal, de conhecimento do general Nilton Cerqueira, viraram aviões de papel entre gabinetes e acabaram arquivados na Secretaria de Segurança Pública.
As denúncias do DIA explodiram como uma bomba nos bastidores do governo e gerou uma crise no setor de Segurança Pública. Com os olhos vendados pelos próprios assessores, o governador Marcello Alencar convocou a imprensa para desmentir as investigações da Guarda, associando o episódio à disputa pela sucessão municipal. Ao perceber que fora enganado - o general Nilton Cerqueira sabia das denúncias da Guarda Municipal mas não tomou providências para combater o tráfico nas escolas - Marcello disse ser vítima de uma traição interna. O chefe do Cisp, coronel Sérgio Krau, terceiro homem na hierarquia da Segurança Pública no Rio e criador do Disque-Denúncia, foi exonerado por Cerqueira, que permaneceu no cargo. Krau foi o único bode expiatório da crise de segurança na Educação.
O chefe de Polícia Civil, delegado Hélio Luz, determinou abertura imediata de dois inquéritos policiais para investigar a ação de traficantes nas escolas: um a cargo da Divisão de Repressão a Entorpecentes (DRE) e outro da Divisão de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Uma semana depois começaram a pipocar flagrantes de tráfico nas escolas. As denúncias do DIA provaram estar percorrendo o caminho certo: a polícia apreendeu bombons recheados com papelotes de cocaína, prendeu camelôs que vendiam drogas na porta das escolas e a Guarda Municipal flagrou estudantes de até 13 anos levando maconha nas mochilas e consumindo drogas nos pátios.
A Secretaria Municipal de Educação já havia mapeado o avanço do crime organizado nos estabelecimentos de ensino. O documento identificava 300 escolas localizadas em Zonas Vermelhas: áreas de risco sob a tutela armada de traficantes. Nessas escolas - especialmente as localizadas na Zona da Leopoldina, Cidade de Deus, Complexo da Maré, Complexo do Alemão, Campo Grande e Santa Cruz - traficantes é que determinam os tempos das aulas, anunciam o recesso escolar, decretam a pena de morte e a Lei do Silêncio entre os estudantes, pais de alunos, professores e diretores. As salas de aulas e corredores são feitos de trincheiras em tempos de guerra entre facções criminosas rivais, depósitos de armas, bocas-de-fumo e esconderijos contra operações policiais.
As marcas de tiros nas janelas e fachadas das escolas localizadas próximo a morros e favelas não escondem essa cicatriz, mas o buraco é mais fundo do que parece. A violência é uma das principais causas da evasão escolar por parte de alunos e professores. O Juiz Geraldo Praddo, da 2a Vara da Infância e Juventude, chegou a convocar autoridades dos setores de Segurança e da Educação para tentar garantir a integridade das crianças no início do segundo semestre do ano passado. Uma das medidas - que não foi adotada para não constranger os alunos - era a revista dos estudantes pela Guarda Municipal com detectores de metal, devido ao aumento de estudantes armados nas salas de aula.
Nas escolas particulares da Zona Sul do Rio o quadro é o mesmo: segundo denúncia investigada pelo DIA, feita pela Associação de Pais e Alunos, pelo menos 15 escolas particulares e faculdades de bairros como Botafogo, Leblon e Barra da Tijuca têm bocas-de-fumo dentro das salas de aula e em seus portões. Algumas mantidas pelos próprios estudantes, de classe média alta. Em uma delas - que na época fora investigada pelo serviço de inteligência do 2o BPM (Botafogo) - a reportagem do DIA descobriu que um dos traficantes era o filho do diretor, viciado em maconha. Os próprios estudantes da Zona Sul fazem o tráfico da erva: compram em Cabrobó (Pernambuco) - cidade considerada a capital brasileira da maconha - e revendem para os colegas nos banheiros dos estabelecimentos. Percebendo que estava perdendo a guerra para os traficantes, a mãe de um aluno viciado, de uma família de classe média alta, chegou a levar a fotografia do filho para os policiais do batalhão de Botafogo. Na Zona Sul, a propina é o caminho mais curto entre o flagrante policial e a liberdade do menor infrator, mecanismo que alimenta a máquina da corrupção e garante o funcionamento da engrenagem do narcotráfico.


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