Usina de Letras
Usina de Letras
18 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62332 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22543)

Discursos (3239)

Ensaios - (10406)

Erótico (13576)

Frases (50711)

Humor (20055)

Infantil (5474)

Infanto Juvenil (4794)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140846)

Redação (3313)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6220)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Erotico-->3. DE VOLTA À CAPITAL -- 21/07/2002 - 06:05 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Nepomuceno adentrou o velho lar como se viesse revigorado de longas férias e, no entanto, poucos dias fazia que partira. Não cumprira os tópicos do recreio preconizado, mas o ânimo vinha sadio e as forças retemperadas. Parecia ter rejuvenescido trinta anos.

Buscou entrar em contacto telefônico com o centro espírita, mas não encontrou número algum relativo à casa de assistência. Pretendeu ligar para o Sr. Virgílio, localizou-lhe o número, mas as várias chamadas frustraram-se.

De posse do endereço, naquela noite mesmo, despachou-se para o primeiro e harmonioso envolvimento com o pessoal que tão bem lhe conhecia a finada esposa. O Sr. Virgílio não estaria lá naquela noite, mas Nepomuceno poderia ficar para ouvir as curtas exposições doutrinais e receber passes de magnetização fluídica.

Era o primeiro dia, por isso, tudo lhe parecia absoluta novidade. Estranhava que a esposa freqüentara aquele ambiente durante toda a vida e não conseguira transmitir-lhe a paz, a verdadeira serenidade sem estremecimentos que se vivia naquela acolhedora comunidade. Sentiu certa vibração íntima no momento de receber a concentração fluídica pelas mãos de velho senhor, tendo sido esse o único momento de enlevo e de transporte emocional, como se fosse arrebatado para além da densidade corpórea. Mas a sensação agradável durou poucos segundos e, em seguida, recuperou o costumeiro domínio intelectual sobre a personalidade.

Nepomuceno inteirou-se do dia em que poderia encontrar-se com o Sr. Virgílio, mas, como se tratasse de sessão de desobsessão, os diretores do centro temeram que a vinda pudesse ser infrutífera, de modo que precisou deixar o número telefônico, para que lhe ligasse a pessoa indicada pela esposa. Fazia-o por precaução, uma vez que não lograra êxito em suas tentativas.

Os dias, entretanto, foram passando, sem que seu telefone recebesse a esperada chamada. O dia aprazado para a ida ao centro da misteriosa personagem chegou e passou, sem novidades. Nepomuceno começou a se impacientar, pois parecia-lhe lógico que, ao receber o número do telefone, no mesmo dia ou no seguinte, recebesse a já ansiada ligação. No entanto, mais quatro dias se passaram na expectativa, até que, finalmente, o procuraram em nome do Centro Espírita do Amor Divino.

Antes de relatar o resultado da conversação, devemos referir-nos ao fato de que o nosso amigo não passou os dias na ociosidade. Ao contrário, tendo buscado os pertences da esposa encaixotados, descobriu verdadeira biblioteca espírita de mais de duzentos exemplares. Além das obras básicas de Kardec, liam-se títulos os mais extravagantes e exóticos a respeito do ser, do inconsciente, da vida pós-túmulo, da mediunidade, da transcendência, do magnetismo etc.

Nepomuceno, com seu espírito de organização, deu um trato nas obras, catalogou-as por assuntos, por autores e por ordem de publicação. Pôs tudo devidamente perfilado na prateleira da biblioteca. Afastou alguns livros contábeis, que guardava por puro saudosismo, e deixou a estante em ordem para facilitar as leituras e a compulsação que julgara teria necessidade de fazer. Imaginou que necessitaria de dicionário especializado, o que não encontrou entre os pertences da esposa, e decidiu-se pela aquisição de algumas obras citadas nos primeiros livros abertos para leitura dos principais temas.

Tendo estabelecido que a obra inicial deveria ser o opúsculo O que é o Espiritismo?, leu-o de assentada e passou às demais obras de Kardec. Ao receber o telefonema, ia em meio a leitura de O Livro dos Médiuns.

Surpreendeu-se com a voz feminina do outro lado da linha. A pessoa desculpava-se por não ter sido o próprio Sr. Virgílio a atendê-lo, mas ficava estabelecido, se lhe fosse possível, que naquela noite se encontrariam no ambiente sagrado do centro. Tudo combinado, Nepomuceno desligou e principiou a conjecturar possíveis razões para não ter sido atendido pela própria pessoa indicada pela esposa. A primeira idéia que lhe veio foi que o sujeito em questão talvez fosse surdo e, portanto, impossibilitado de atender ao telefone. Imaginou que fora por timidez ou por algum peso na consciência... Espantou a má influenciação e disse de si para consigo que, em matéria de erros de interpretação da realidade, bastavam os que cometera na praia. Deixaria o coração bater suavemente ao embalo das leituras atuais, até o momento do encontro.

À noite, ao se aproximar da porta do centro, notou grave perturbação entre as pessoas que ali estavam. Reconheceu os diretores que o receberam da outra vez e foi informado de que o Sr. Virgílio acabara de sofrer sério colapso coronário, tendo, naquele momento, sido retirado por ambulância para o hospital. O pessoal estava aflito, pois o abalo cardíaco parecia ter sido dos mais perigosos, tendo o médico declarado que suspeitava de ter havido sucessivas paradas no batimento do coração.

Nepomuceno se acabrunhou com a notícia. Inquiriu a respeito do retrospecto da saúde do amigo e obteve a informação de que o paciente sofrera diversos outros ataques, tendo, inclusive, implantadas duas pontes de safena. Parece que a notícia da vinda do esposo de D. Josineida o abalara muito na outra noite, tanto que precisara voltar correndo para casa, sem ter participado dos trabalhos.

De qualquer modo, sobre a mesa do gabinete da diretoria, foi encontrado envelope fechado, endereçado ao notário, aos cuidados do Sr. Virgílio do Carmo Tavares. Além desse documento lacrado, havia outra carta aberta, cuja assinatura Nepomuceno reconheceu como sendo da esposa. Alertados para o fato, os diretores da casa, muito abalados com o sucedido, permitiram ao marido apossar-se da correspondência. Na busca dos pertences do amigo, para que se guardassem junto aos objetos de caráter particular, foram encontrados mais três envelopes fechados endereçados ao notário, mas sem conterem notícia dos remetentes. Foi-lhe permitido apropriar-se de tudo.

Não estava Nepomuceno menos espantado que o pessoal do centro. Colocou todos os documentos na pasta, mas resolveu quedar por ali, para confortar os amigos transtornados por ocorrência tão desagradável. Entretanto, a azáfama se apaziguou com o desenrolar da sessão de estudos e pôde avaliar quão querido era de todos o diretor ausente. Vários oradores subiram à tribuna para pedir preces pelo restabelecimento do amigo. Na hora do passe, Nepomuceno voltou a sentir a doce harmonização interior, através de suave vibração intelecto-afetiva. Entrara no gabinete com certo tremor pelos eventos do dia.; saía com o coração tranqüilo e a mente serenada.

Ao se despedir do grupo, notou que o ar de preocupação havia cedido para atitude de integral confiança em que o destino do amigo, qualquer fosse, estava nas mãos de Deus. Sentiu segurança na postura moral das criaturas com quem começava a se afeiçoar e prometeu aos que iam tornando-se mais íntimos que lhes informaria o resultado das leituras. No fundo do coração, tinha medo de que as pessoas pudessem suspeitar que a origem do recrudescimento do mal do amigo pudesse envolvê-lo de alguma forma.

Aquela noite marcaria a mais estupenda modificação de sua vida.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui