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Erotico-->2. A CARTA -- 20/07/2002 - 07:13 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Josineida conhecia o marido e sabia de sua fogosidade. Empenhara-se a fundo para ser mulher fiel e cumpridora dos compromissos, mas não conseguira de vez convertê-lo ao Espiritismo. À beira do desenlace, viu a necessidade de deixar-lhe notícia póstuma que completasse o trabalho que iniciara. Imaginou o que dizer e onde guardar a carta para o momento oportuno da leitura. Sua orientação espiritual lhe proporcionava diretriz evangélica de extraordinário poder de conhecimento dos mecanismos do etéreo, de molde que lhe não foi difícil solucionar todos os problemas. Eis os dizeres em que vazou a curta missiva:



Caro Amigo e Companheiro:


Neste dia de extrema felicidade em que lhe escrevo, diviso a hora em que você apanhará este bilhete caído no tapete do hotel à beira-mar em que irá hospedar-se. Não se espante que não estou fazendo qualquer previsão de fatos futuros.; é que bem conheço a sua maneira de ser e vou, do etéreo, procurar induzi-lo a colocar-se nessa situação. Se, por qualquer razão, as minhas palavras não se realizarem, saiba que me entristecerei deveras pelas poucas luzes de que estarei dotada e pela pequena assistência conseguida dos irmãos maiores. Se, entretanto, tudo ocorrer conforme estou a conjecturar, você poderá ter a certeza de que estarei a seu lado para auxiliá-lo na caminhada que estou propondo-lhe seguir, qual seja, a de regressar de imediato para a capital e ali estabelecer contacto com o Senhor Virgílio do Carmo Tavares, do Centro Espírita do Amor Divino, na Lapa, cujo endereço transcrevo abaixo, e com quem você firmará os primeiros compromissos, para prosseguir na vida sob a luz do Espiritismo. Fique com Deus, bom amigo, e se esqueça da mãe e da filha por quem você vem interessando-se!



Assinava a carta com letra firme de quem se sabia cônscia do que estava dizendo.

O nosso notário extasiou-se com o teor sob que se vazava a carta, mas desconfiou de alguma treta do gerente ou do administrador da casa, com quem iria tomar satisfações, tão logo lograsse persuadir-se de que não fora escrita pela esposa. Pelo sim, pelo não, resolveu resguardar-se e, antes de iniciar o ajuste de contas, delineou plano para surpreender o arguto senhor em suas elucubrações. Suspeitou desde logo que o móvel de semelhante ardil bem poderia ser a aplicação de sutil golpe contra a sua fortuna. Quem sabe mancomunados estivessem os três vigaristas para o efeito...

Na manhã seguinte, Nepomuceno desceu cedo e foi postar-se no fundo do refeitório, para ver se surpreendia o momento do encontro e para observar a troca dos olhares denunciadores do conluio. Seu primeiro espanto foi verificar que as jovens desciam acompanhadas de sisudo senhor, que cingia a ambas pela cintura. Temeu que mais alguém pudesse estar fazendo parte da quadrilha e pôs-se de sobreaviso, até para o caso de intentarem seqüestrá-lo para resgate proveitoso.

Ao final do dia, a medo, consultou o garçom a respeito das senhoras e obteve a informação de que já haviam regressado para casa. Quem eram?! Pois não reconhecera famosa cantora lírica, acompanhada do marido, maestro de nomeada, e da filha, dançarina da “troupe” do Municipal, com contrato de grande dama?!

A resposta calou fundo na consciência do nosso herói. Viu-se na contingência de pedir desculpas ao gerente da casa e a sorte propiciou-lhe excelente ocasião, à hora da ceia, pois foi homenageado pelo dono da hospedaria com a sua presença à mesa das refeições. O circunspecto senhor se fazia acompanhar do “maître” e, qual comandante de navio, como se declararia durante a conversação, honrava as pessoas que se hospedavam sem acompanhante, pelo menos uma vez durante as estadias. Toda a refeição corria por conta da casa e os pratos eram os mais apreciados pela freguesia. Era homenagem das mais gratas e oportunas.

De repente, viu-se o rico notário diante da excentricidade do anfitrião mais esquisito. Não só a polidez do trato mas a distinção do caráter indicavam estar diante de pessoa civilizadíssima, culta e inteligente.

Instado para falar a respeito de suas preocupações de homem só naquela circunstância, Nepomuceno, sem saber direito o que dizer, mencionou que iria iniciar estudos espirituais, conforme recomendação da falecida.

Foi só abrir a boca e o capitão desfilou, elegantemente, precisas considerações a respeito de Kardec e de suas obras, confirmando que necessitava iniciar o aprendizado na intimidade de centro espírita de respeito, para poder, desde logo, enfronhar-se nos aspectos filosóficos, doutrinais e morais do movimento, que se espraiava pelo Brasil e ameaçava inundar o resto do mundo. E foi por aí afora, esquecido de que falava a alguém leigo na matéria.

Ao final da refeição, pouco antes da sobremesa, quando bebericavam capitoso vinho tinto, que acompanhara certo prato de lagostas e que fora servido após o competente vinho verde português, adstringente e seco, o notável cavalheiro perguntou ao hóspede de que ramo de negócios cuidara na vida. Ao saber que era cartorário, tabelião, notário, proprietário de firma para registros de imóveis, incomodou-se sobremodo, temendo estar diante de algum espertalhão. Desfiou quanto conhecimento possuía a respeito de certas traquinagens e estrepolias da gente do setor, sem levantar suspeitas a respeito das atividades do amigo, mas também demonstrando que entendia do riscado e que via com maus olhos atividades que poderiam ensejar inúmeras oportunidades de malversações morais. Nas entrelinhas das apreciações, entre um gole e outro, deixava alguns instantes para a manifestação de nosso herói, de sorte que foi com muito desafogo que pôde perceber que estava diante de homem de bem.

A conversa reacendeu os ânimos do hospedeiro e do hóspede, talvez por influenciação dos eflúvios etílicos dos bons vinhos e do suave perfume da fumaça de seu cachimbo, fornido com pétalas de rosas, ao invés do grosseiro fumo de rolo. O homem era fino e Nepomuceno foi navegando, quanto lhe era possível, nos mesmos mares.

À noite, na cama, surpreendeu-se relendo a carta e buscando prece que pudesse aliviá-lo da tensão do dia. Esquecido dos rabos de saia e preocupado em figurar indelevelmente na imaginação o retrato esmaecido da cara consorte, dormiu serenamente, sob o embalo da idéia de que a viagem de recreio tivera duração muito breve e que o regresso se daria no dia seguinte. Telefonara para o Rio e avisara os filhos do breve retorno, tendo alertado a portaria para deixar a conta pronta e o carro abastecido, para seguir viagem logo de manhãzinha. Sonharia com a esposa, mas foi sonho atribulado, misturado com queixumes e dissabores. Acordaria, contudo, descansado e pronto para a viagem.

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