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Artigos-->AS DIVERSAS TONALIDADES DO EU -- 10/11/2004 - 22:36 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS DIVERSAS TONALIDADES DO EU



Murilo Moreira Veras*





Será a poesia apenas a concretização do mundo num verdadeiro culto à plenitude das coisas e dos objetos, de tal ordem sob tão forte tensão emocional que coloca o eu/sujeito em função permanente com o objeto, vulgarizando o ser como centro do universo? Bem, essa parece ter sido a filosofia que vincou os chamados “concretistas”, quando se fizeram súditos do reinado do real, em poesia. Ora, ela já serviu à virulência do realismo, ascendeu ao parnaso e transfigurou-se para além do real, freqüentando o mundo do supra-humano em idealidade ultra-sensível, grotesca e macabra em “O Corvo”, com seu criador Edgard Allan Poe.

Hoje, exatamente no novo tempo onde o que mais sucede ainda é o inesperado, a perplexidade das mudanças, numa época do reinado absoluto das comunicações, muitas vezes sobrepostas à razão, e, por isso mesmo, de ideologização do absurdo, a poesia perde, de certo modo, suas características realísticas e surrealísticas, e já superou o mundo do concreto, para alinhar-se também ao lado da mídia, não como o único fim escatológico supremo de preservação do ser/objeto, mas como meio válido de que se vale o eu-poético para manifestar as reflexões e irreflexões sobre o mundo/objeto e se afirmar como uma crítica poemática do próprio ser no e para o mundo.

Creio que é sobre esse principal eixo que gira e vem-se polarizando a poesia, ou a “nova poesia nova” do piauiense FRANCISCO MIGUEL DE MOURA. Se não em toda a sua obra – já considerável em seus seis livros publicados a partir de 1966, com “Areias” – pelo menos é o que se vislumbra neste “POEMAS OU/TONAIS”, edição de 1991, da Gráfica e Editora Júnior Ltda., Teresina – PI.

Composto de três partes, “POEMAS OU/TONAIS”, do autor de “LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO” e de “PEDRA EM SOBRESSALTO”, se propõe estabelecer o diálogo poemático do eu-manifesto com a (ir)realidade do mundo cotidiano. No primeiro momento desse tempo tríptico em que se divide o “corpus” lírico, prevalece a temática do amor/paixão, espécie de introdução, em que o poeta verbaliza seu canto numa fragmentação eminentemente subjetiva. No segundo, espécie de contraponto ou cântico do eu-rarefeito, erige-se uma estrutura, não de diálogo, mas de monólogo de eiva silogística onde as “premissas” e a própria conclusão se confundem dialeticamente em função do estilo proposicional e metafórico, de seu (con) texto disjuntivo – Ou. Em terceiro estágio sincrônico, os “TONAIS” dão os tons, expõem as tonalidades, e a tessitura poemática converte-se num...



“caminho para dentro até o fundo

como quem caminha ao sol-posto”,



labirinto de idéias, vazões e sentimentos que fazem do eu poético um espelho por onde reflete seu mundo de sofrência interior e os resultados de sua vivência, sob a égide do refulgir lírico e o crivo literário da escritura alegórica. Reside aí o cerne do cântico trifásico da construção original de FMM, com seu depoimento crítico, como o resultado de sua (ir)reflexão.

Acresça-se a tudo isso, o tratamento propedêutico estritamente literário que FMM dá ao corpo verbal dos poemas, onde sobressaem a imagem, o tropo, a virtuosidade do signo e o depuramento lingüístico.

No resto, é a policromia de que se traveste a poética do autor de “Universo das Águas” e “Quinteto em mi (m)”, neste seu último exemplário lírico. E diz o poeta logo no início:



“trovão

trama de luz

caminho aberto

à chuva breve

de lembrança (a)mar...”

Pois o poeta vai urdir, doravante, a trama do amor/paixão e pede:

“mister amor,

um momento, please!

em meu favor

vazio...

plenitude é um pouquinho de nada

o dia fugindo dentro da noite

e as paredes brancas de cio.”

E o segredo de sua paixão eólica se revela em:

“amar sem dizer-te

ouvir sem falar-te

andar sem encontrar-te

sumir...”

Já em silogística disjuntiva, o poeta filosofa:

“eu sou o diferente

tu és a indiferença

não nos encontraremos a fio...”

Sim, porque

“um infinito flui”.

descartável

entre a água e o navio.”

Por final, na consumação do tempo poético (e mágico?) que estruturou nos seus “TONAIS”, FMM reverbera:

de repente

se arma um parêntese

entre o que quero e mereço



e o dia me despede

de todos os desejos



de repente

sou

o afogado que morre de sede.”

E a conclusão maior a que se chega desse diálogo/oblação/reflexão, é o poemeto que enfeixa a “trama de luz que nos urdiu o autor de “SONETOS DA PAIXÃO”:

“minha busca em palavra

lavra meu ser

- agrava.

meu fazer em poema

escreve meu ser

- problema.

minha vida em poesia

vence meu ser

- adia.

mordo a metáfora de cada dia.”



(Ensaio publicado na revista “LAVRA”, nº 7, em 1992 – Brasília-DF)



___________________________

*Murilo Moreira Veras é poeta e crítico de literatura, mora em Brasília.





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