A sombra atravessaria despercebida
o olhar distraído da musa indiferente
- a sombra seria, poeta, a margarida
em que teus braços murcham infinitamente.
A sombra iria na invencível corrente,
a sombra não te daria a menor saída.
A sombra, meu Deus, era tua própria vida
e morreria onde te sonhaste semente.
A sombra sugaria a seiva do teu semblante,
do teu semblante sem chance de renascer.
A sombra era uma sombra incessante,
a sombra era a sombra do teu desvanecer.
A sombra era eco da tua voz destoante,
a sombra era tudo que poderias ser.
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