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Teses_Monologos-->ANTIAMERICANISMO, GUERRA, FIM DA HISTÓRIA (2a. parte)) -- 13/12/2001 - 15:52 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SPIEGEL: O sociólogo Jean Baudrillard defende a tese de que o terrorismo em escala mundial seria a antiforma absoluta da globalização. Marx acreditava que o capitalismo traria em si mesmo o germe de sua própria destruição. Isso pode valer também para a globalização e para sua força motriz, a América?

Lévy: Baudrillard, num gesto muito típico seu, explicitou de forma visivelmente complicada algo que é evidente. É natural que o terrorismo se globalize igualmente. Seus atores pertencem, em regra, mais à elite do que aos mais pobres e destituídos de formação. Mas atenção: Baudrillard atraiu contra si a ira de muitos, por despertar a impressão de que os EUA, como ponta-de-lança da globalização, seriam eles mesmos culpados por sua própria desgraça, tendo criado, eles próprios, o terrorismo. Esta colocação é repulsiva.

SPIEGEL: Os praticantes dos atentados de Nova Iorque não queriam provar justamente isso? Quem sacrifica a sua vida intencionalmente, só pode ser a tal ponto oprimido, a tal ponto desesperado, que nenhuma outra saída lhe restaria – é essa a mensagem dos kamikaze?

Lévy: Talvez eles queiram apresentar as coisas dessa forma, mas seu culto à morte não provém do desespero. Seu fanatismo é uma forma de esperança. Eles se vêem como os modernos filhos do paraíso. São cheios de esperança, suas almas e espíritos estão iluminados. Em Sri Lanka eu conheci e pude estudar terroristas-suicidas. Nenhum deles apresenta qualquer dureza de caráter. Acreditam conhecer a saída. Estão convictos de anteciparem-se ao Juízo Final.

SPIEGEL: Nisso reside também a sua força: Estão prontos para morrer, enquanto o ocidente tem medo da morte. Os EUA querem perder o menor número possível de soldados.

Lévy: A decisão sobre própria morte é a arma absoluta, a única contra a qual nada se pode fazer. É o que se vê quase todo dia em Israel. A possibilidade de que qualquer passante possa ser um homem-bomba em movimento desencadeia uma psicose de massas. Esses terroristas possuem uma força extraordinária, uma força terrivelmente moral. A capacidade de ir até o fim, de superar todas as limitações pessoais, de fazer calar toda e qualquer dúvida, eis o que, de modo chocante, os faz fortes.

SPIEGEL: No caso, os americanos gostam de chamar de covardes os praticantes dos atentados.

Lévy: O senhor não compreende o que lhes passa pela cabeça. São monstros. Essa é a verdade. Os terroristas-suicidas desfrutaram de uma formação especial – técnico-militar, com certeza, mas também espiritual.

SPIEGEL: Uma espécie de lavagem cerebral religiosa, como numa seita?

Lévy: A mim me parece ser mais do que isso, pois eles não obedecem a uma crença cega e a uma disciplina robótica. Eles dispõem de uma irradiação moral e intelectual extrema. Este terrorismo está mais próximo da ascese do que da lavagem cerebral.

SPIEGEL: O fim da história, que foi profetizado por alguns depois da derrocada do comunismo, é menos a plenitude da liberdade e do progresso do que o erguer-se de tempestuosos perigos apocalípticos?

Lévy: Hegel, Alexandre Kojève e Francis Fukuyama erraram redondamente. O fim da história não foi alcançado em Jena, Moscou ou Nova Iorque. Eu pude vê-lo no Burundi e em outras partes da África, onde as guerras grassam para além de toda lógica, nelas os combatentes não sabendo mais por que estão lutando. É o nihilismo à solta, o ódio e a destruição em sua forma pura. Motivos ideológicos tão-somente ainda existem por lá como uma tanga a ocultar a nudez da brutalidade.

SPIEGEL: A razão precisa capitular ante o horror?

Lévy: A razão não é onipotente, a filosofia precisa às vezes arrear a bandeira. Há 30 anos eu ainda acreditava na revolução, na possibilidade de uma radical transformação do mundo. Isso passou. Fiquei modesto. O pessimismo ocupa o ponto central da minha obra. A idéia de um mundo novo, perfeito, é ela própria, por sua vez, uma idéia própria da barbárie.

SPIEGEL: O senhor não estaria pregando o abandono de qualquer humanismo?

Lévy: Não, pois eu acredito no mal, é verdade, mas não na maldição. Não renuncio ao esforço ingente de tornar o mundo menos ruim. O horrível não pode ser a última palavra. Minha geração impôs um princípio grandioso ao direito dos povos: o direito à ingerência. Este direito permitiu três guerras de libertação nos últimos tempos: na Bósnia, no Kosovo e, agora, no Afeganistão. Aos nossos filhos caberá seguir adiante, fazer do direito um dever geral. Para tanto, é preciso mais do que ajuda humanitária e demonstrações de compaixão.

SPIEGEL: Monsieur Lévy, nós lhe agradecemos por esta entrevista.





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