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Teses_Monologos-->Issexualidade (entre cientificismo e espiritualidade) -- 09/05/2007 - 13:14 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A conciliação da palavra sexualidade no século XX entre o cientificismo e a espiritualidade



Resumo: O presente artigo visa uma argumentação construtivista acerca da sexualidade, particularmente no século XX, abordando traços da cultura ocidental onde houve uma maior interferência na identidade sexual humana, levando-se em conta a abordagem espiritual das questões mais polêmicas através da sociedade.

Palavras-chave: espiritismo – sexualidade – ciência – História.

A ciência e a religião não puderam, até hoje, entender-se, porque, encarando cada uma as coisas do seu ponto de vista exclusivo, reciprocamente se repeliam. Faltava com que encher o vazio que as separava, um traço de união está no conhecimento das leis que regem o Universo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo, leis tão imutáveis quanto as que regem o movimento dos astros e a existência dos seres.
(O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 58)

As antigas sociedades orientais, de caráter politeísta, desenvolveram um sistema particular de patriarcalismo e, conseqüentemente, seu sexismo característico e cultural. O ocidente desenvolveu um série de códigos apoiados por seu vínculo cristão-romano-católico, princípios estes que definiram imutavelmente o espectro das leis sexistas. A crença única da força física e psicológica sobre a afetividade sensorial, possibilitando os traços marcantes, unânimes dessa onipotência inquestionável. A figura do homem e da mulher são justificadas pela monogamia cristã como atributo imprecindível à procriação da espécie humana. Todos os animismos, taxiomas e empirismos existentes tornaram-se caóticos, inconsistentes. A humanidade não suporta mais a segregação sexual – mas detêm nos sistemas de educação diversos, o velho tronco pátrio da genealogia masculina x feminina. Homens e Mulheres (ou como preferirem ‘desclassificadamente’: mulheres e homens) condicionados ao establishment de suas culturalidades, seu microcosmo. Não é à toa que os desejos míticos, a representação dos seres, perpetua as funções e os papéis já existentes. A opressão sofrida pelas mulheres por homens nas sociedades, também estabeleceu os modelos afetivos orientativos: humanos X e Y são copiosamente o que sua biologia determina como naciturnos. Não é permitido pensar sobre isso. Condições genéticas ao longo dos séculos preconizadas por homens da ciência, monopolizam os desejos da alma. Esta sofre, o corpo sente. Homens mandam, Mulheres obedecem. A virilidade orgânica serve como dogma de perpetuação social (tal qual o líder dos hebreus julgado e aprisionado numa cruz por seus semelhantes quando defendeu publicamente uma meretriz). A mesma cristandade que figurou uma alternativa viável, porém mal interpretada e aproveitada. Temos o registro das figuras mitológicas e alegóricas, conforme atestam Byington e Guerra2 pela psicologia analítica junguiana, demonstrando como a imaginação humana criou estes arquétipos, isto é, as respectivas formas de dominação social. Por exemplo, a figura de Eva no Paraíso – através da mitologia hebraica – e a figura de Pandora – através da mitologia grega – são semelhanças impostas pelo taxioma da ferramenta biológica.

A metáfora da maçã proibida, experimentada por Eva e compartilhada com Adão, resulta no pecado (termo cristão) induzido pela figura de uma serpente. Durante a Renascença italiana, inúmeros quadros foram pintados preservando uma interpretação livre acerca do bem e do mal pela ótica judaico-cristã ocidental sobre tal imagem. Neste caso, a mulher é responsável pelos males do mundo. Pandora, primeiro ente do sexo feminino criada por Zeus, carrega a mesma culpa simbólica. Vale ressaltar que essa versão politeísta do início do mundo também carrega valores sexistas mais antigos do que as tribos hebraicas. Eram até mais democráticas, uma vez que o monoteísmo cristão não permite a aproximação divinal do carnal, isto é, humanos e Deus. Ao passo que entre os gregos, os deuses adquiriram características humanas, até se relacionando com pessoas “comuns”. O caso de Poseidon (deus dos mares) é bastante antropomórfico: Zeus jorrou seu esperma nas águas oceânicas, sendo o fruto dessa relação o controlador marítimo responsável pela vida aquática. Porém, retornando a Pandora, os males do mundo estavam presos numa pequena caixa – aberta por ela – quando libertou os defeitos. As virtudes ficaram no fundo do objeto. A figura feminina é responsabilizada mais uma vez, e a partir destes dogmas iniciais as sociedades gregas desenvolveram seus códigos de valores na superioridade de gênero. Em culturas islamizadas (ou maometanas), diferentes tipos de manutenção sexista também foram criadas, ao passo que justifica-se a força por métodos indiscutivelmente religiosos. Em alguns países africanos, por exemplo, a comercialização de mulheres é amplamente aceita entre permutas. Por exemplo: cinqüenta cabeças de boi por uma jovem casável e fértil. Uma “transação rentável”, digamos assim. No ocidente, mulheres latinas migram para a Europa para comercializarem sua energia sexual, passando por situações de exploração degradantes quanto às formas de desejo de quem as usa. Na China, em algumas regiões do interior, mulheres só poderiam casar se tivessem pés pequenos. Se fisicamente isso não fosse realidade, eram obrigados a “diminuí-los” à força. Utilizam um método de auto-flagelamento para modificar o tamanho natural, permitindo a aceitação de um marido.

Percebemos que entre culturas díspares, os valores patriarcais desenvolveram o que chamamos opressão de um sexo sobre ouro, isto é, sexismo. Na década de 1960 e 70, essa expressão nunca foi tão bem cunhada – infelizmente só passou a ser discutida nesta época, cronologicamente – pelos movimentos de esquerda (direitos feminista e homossexuais). No entanto, no decorrer da história do sexo, as leis terrenas deram pouca vazão à História do Afeto Humano. Longe de discutirmos história da homossexulidade (lesbianismo ou “sodomia”) como elementos explicáveis da medicina, contestadas por Hocquenghem3 mui inteligentemente em obra particular. A análise sobre a ‘matriz’ machista na assepsia do termo ocupou-se apenas em manter um regime, um establishment valores religiosos, políticos e econômicos. Dessa forma, na História clássica da opressão sofrida pela mulheres, resgatou-se no fervor do feminismo uma micro-história analítica importante: a compensação afetiva do desejo sexual. Ora, as mulheres impostas a sua condição de inferioridade e rara participação nos principais núcleos sociais escreveram uma história secreta. Amaram outras mulheres de forma digna. Não poderíamos assim designar a participação masculina deste estudo como mera torrente de virilidade. Longe de ser verdade. Talvez o verdadeiro objeto do desejo masculino veio à tona quando novas argumentações surgiram em meio ao poder da imposição cultural. Para estudiosos de outras áreas do conhecimento humano (psicologia, psiquiatria e biologia), velhas teorias foram perdendo fôlego frente a novas formas de conduta e aceitação de alguns grupos sociais – ainda hoje vistos como guetos. Não existe nenhum registro de discursos homossexuais em períodos anteriores ao século XIX. Discursos de emancipação, para ser mais preciso. O hibridismo sexual entre homens que iam para a guerra não foi um fato isolado na História das Mentalidades. Aliás, a tradição oral traz muita informação nos rincões do Brasil. Em minha infância, por exemplo, ouvi muitas estórias, mitos populares passados de geração a geração, conservando aspectos básicos nunca modificados por razões relativas. O caso da “Matinta Pereira” (tradição oral amazônica) é muito peculiar. Uma figura de mulher que vagueia nos arredores e cercanias assustando caboclos (habitantes da região) em suas casas. Há quem diga que não seja mulher, seja um homem “travestido”, pregando peças em moradores superticiosos. Na realidade, esse mito adquiriu poliformias interessantes, até mesmo a de que não é “homem nem mulher” (pois seus longos cabelos negros vedam o rosto), cabendo inúmeras indagações. Numa perspectiva indígena- espírita, são reflexos de entidades antigas em suas manifestações físicas às populações locais, ganhando na imaginação um apelo fantástico e místico. A Matinta Pereira se transforma em outras lendas à medida que o espaço geográfico muda (e a natureza dos espíritos também). Na Iugoslávia, país do Leste Europeu, onde surgiu a lenda do antropomorfo canino (Lobisomem) e sua ida aos cemitérios em busca de cadáveres, não admitia-se, a priori, que mulheres também se metamorfoseassem em animais, sendo características exclusivamente masculina (ou seja, a transformação). Com o passar dos séculos, a mitologia muda, tanto na literatura como no cinema: aceita-se a hibridização do transformismo entre mulheres e homens (lobos). Na perspectiva espiritual observamos um conluio de práticas que lembram o homoerotismo: o ato da transmutação física de homem para lobo é algo excitante, e esse desejo deve ser restrito e manipulado. No Brasil, criou-se uma anedota popular que o leitor provavelmente já ouviu falar: “Homem com homem, vira lobisomem. Mulher com mulher, virá jacaré”. Essa tradição oral transcreve nestas páginas alguns destes preconceitos de gênero existentes na sociedade brasileira. Neste artigo, obviamente, pretendo incluir minha tese espírita e feminista sobre o caso. Não acho que seria demasiado equivocado. Essa curta frase remonta um contingente de valores na qual devotamos parcimônia. Se invertêssemos a ordem: “Homem com homem também vira jacaré”, teríamos uma hibridização correlata a novos valores. Se os métodos científicos de Michel Foucault podem ser parte de uma idéia espiritualista-analítica (onde nossos dogmas e crenças possuem uma explicação científica), necessariamente não precisaríamos destruir o cristianismo. Este pensador francês abriu um leque de novas possibilidades através de uma característica particular: “Não permaneça sempre o mesmo”. Claro, isso é uma miséria filosófica comparada a sua contribuição ao pensamento ocidental, como por exemplo:
A soberania do par simpatia-antipatia, o movimento e a dispersão que ele prescreve dão lugar a todas as formas de semelhança. Assim são retomadas e explicadas as três primeiras similitudes4. Todo o volume do Mundo, todas as aproximações da convenientia, todos os ecos da “emulação”, todos os nexos da analogia são sustentados, mantidos e duplicados por esse espaço da simpatia e da antipatia que não cessa de aproximar as coisas e de as manter à distância. Através desse jogo, o Mundo permanece idêntico; as semelhanças continuam a ser o que são e a assemelhar-se. O mesmo permanece o mesmo, e fechado sobre si.

Se permitíssemos desconstruir o mundo tal qual o é, provavelmente os movimentos pela igualdade de direitos sexuais e reprodutivos estaria em outro patamar. Embora o método de Foucault seja uma base ocidental sólida até onde o empiricismo permita, a sexualidade estava assemelhada por séculos ao masculino x feminino. Desta forma não foi possível apaziguar ou inverter a ordem das palavras. O lobo pertence à família dos cães, o jacaré à dos répteis. São troncos biológicos bem diferentes, mas interligados por fetos semelhantes: o estágio embrionário dos seres vivos muito aproximar particularidades de sobrevivência. Seria impossível dentro da fisiologia animal aproximar essas espécies e não separá-las por constituições naturais distantes desde que o Criador permitiu a formação terrena. Mas ele não tinha esse direito. Hoje esse dito popular soa como mera brincadeira repassada através dos tempos. Na fantasia, as duas espécies podem transmutar-se. Isso provoca um indagação explosiva em nossas mentes.

Corpos estranhos, estranhos corpos: quem sou eu?
Teoricamente, você é o que acredita ser. Vislumbramos, linhas acima, a dificuldade em estabelecer “isto” enquanto identidade. Na história da humanidade temos percebido uma discrepância entre natureza espiritual e origem biológica. Na obra mediúnica escrita pelo espírito Emmanuel através de F.C. Xavier5, podemos observar como a maioria dos espíritas, pertencentes a qualquer filosofia inspirada na reencarnação, relacionam a seu modo, a visão espiritual acerca da orientação afetiva, neste caso particular, a homossexualidade:

A homossexualidade, também hoje chamada transexualidade6, em alguns círculos da ciência, definindo-se, no conjunto de suas características, por tendência da criatura para comunhão afetiva em outro ente do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases materialistas, mas perfeitamente compreensível, à luz da reencarnação (...)
(...) A coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos e normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que individualidade, em si, exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos ou a deprime pelo mal que causa com a parte que assume no jogo da delinqüência (...)

Emmanuel expõe à prova, conceitos claros em detrimento dos valores pessoais de cada um, pois não justifica tentar entender sem antes sentir. Ao mesmo tempo, a genealogia material esbarra na imortalidade da alma. Conforme atesta o espírito (Emmanuel), as sucessivas existências, ora em corpo feminino ou masculino, nos dá o potencial da bissexualidade, amplamente discutida na ciência como uma tendência humana natural do comportamento sexual. Não é raro entre crianças e adolescentes, verificarmos um mutualismo de experiências afetivas condescendentes aos arquétipos anteriores do espírito. Determinadas informações vão sendo acumuladas, como um banco de dados, uma matriz identitária do espírito. A intensidade, inter-relacionamento, culturalidade e progressos afetivos tendem por uma natureza sexual mais próxima de um radical Y ou X. Toda uma genealogia espiritual vai sendo codificada, muitas vezes representada por diferentes desejos ao longo dos processos reencarnatórios, ora mais reprimidos, ora mais extenuados. Os valores morais (científicos ou religiosos) terrenos facilitam ou dificultam o progresso, desde que haja reciprocidade doutrinária. A ideologia cristã, em muitos caos, apresenta como fixismo a irreversibilidade do monolitismo patriarcal, onde mais uma vez, percebemos a sexização das sociedades, afetando as informações localizadas no espírito. A discussão científica acaba preservando um caráter de poder absoluto, tal qual a relação de gênero. Como várias teorias cosmogônicas (tanto politeístas como monoteístas) se revestem de uma visão masculina, o diferente, mas semelhante estado de coisas – verificamos anteriormente em Foucault – , volta ao lugar comum.

Mas o esboço desenhado por Emmanuel não pára por aí. O que precisamos entender é a variação de processos reencarnatórios por métodos diversos (algo pouco estudado pelos espíritas). Talvez, devêssemos recorrer ao desenvolmentismo da historiografia do espiritismo, sua história privativa nos daria uma dimensão significativa nos processos respectivos à sexualidade particular, cotidiana, vivida sob aspectos bem diferentes daqueles a qual somos levados a acreditar. Neste caso, teríamos um estudo dos planos reencarnatórios, pois as condições de encarne e desencarne são complexas e díspares. Outros autores espíritas (desencarnados ou não) expõem o problema a partir de experiências extra-físicas contundentes – caso o leitor não acredite em nada do que esteja lendo – , muitas registradas e comprovadas em obras clássicas, como “Memórias de um suicida” (psicografada pela médium Yvone A. Pereira) e “Nosso Lar” (psicografada por F.C. Xavier), contendo uma série de outros títulos relatados por um espírito de codinome “André Luiz”. Portanto, as condições terrestres do espírito, as impressões da matéria exercidas sobre o perispírito (denominada alma) também influencia a estrutura corporal, sendo em muitos casos, responsável por encadeamentos biológicos que fogem ao controle do espírito. Até 1981, o Código Internacional de Doenças utilizava a terminologia homossexualismo, derivando “desvio natural de conduta humana”, ou seja, uma doença psíquica. O sufixo “ismo” é relativo à moléstia ou inclinação errônea dos desejos afetivos. Com o advento da Aids (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida – Sida, em português), os chamados “grupos de risco”, uma classificação pejorativa a pessoas mais “propensas” ao contágio do vírus HIV, serviu de apoio a inúmeras idéias discriminatórias, associando inicialmente a promiscuidade venérea aos homossexuais, um equívoco ideológico apoiado por amplos setores da sociedade. Em menos de duas décadas, a Aids tratou de acusar o verdadeiro propagador do HIV: a hipocrisia. Com o reconhecimento de equívocos científicos, mitos e dogmas religiosos, percebemos uma espécie humana de sexualidade escancarada, confusa, incapaz de achar os “verdadeiros” culpados. Na década de 1970, as mulheres lutam globalmente por seus direitos, a escolha pela reprodução sexual agora é delas. A pílula anticoncepcional é uma revolução do feminismo. Na década de 1980, o estopim: seres humanos insatisfeitos por sua condição psíquica e corpórea, resolvem mobilizar-se mundialmente pelo seu espaço social e suas inclinações afetivas. Novas reformulações da identidade sexual são prescritas: homossexualidade, bissexualidade, lesbiandade, transexualidade. Todas revestidas pela capa da heterossexualidade, impositiva pela ordem “natural”, porém, atravessava sua primeira grande crise. A energia genésica (o centro energético sexual humano, localizado no plexo inferior, entre o umbigo e a genitália) nunca foi tão bem desmascarada em sua real situação como nos primeiros anos da Aids. Claro que havia um comportamento plural nas questões comportamentais, mas o que veio a ser o sexo no século XX? Até onde a liberação foi benemérita ou prejudicial percorre outra análise. Agora, quanto ao fator da hibridização da sexualidade, não era nada novo. O final do século XX descaracterizou as estruturas seculares do patriarcalismo. Já não havia mais condições de manter a conveniência racional, criacionista ou ignorada. A relação da matéria e espírito aos poucos demonstra sua formação, mas ungida por necessidades ainda desconhecidas aos olhos do materialismo.

Eu não sou daqui, mas eu sou aqui
Se observamos a relação da sexualidade em outras modalidades espíritas, como por exemplo o Candomblé – de origem africana com matizes sincréticas ao catolicismo – , a orientação afetiva é tratada de forma natural, uma vez que as entidades espirituais (denominadas Orixás) possuem características desprovidas de qualquer preconceito relacionado ao dogma heterossexual cristão. Como um conglomerado de tradições culturais focadas na resistência étnica e política, a matriz africana da manifestação cultural chamada Candomblé, nos dá uma interpretação diferenciada pelos espíritos à sexualidade. No tocante a manifestação de algumas entidades, como Iansã, bastante inclinado a espíritos encarnados ditos homossexuais, a relação se baseia harmonicamente, não havendo, por exemplo, a resistência ainda encontrada no meio kardecista. Embora a doutrina espírita de orientação kardecista esteja adquirindo progressos notáveis em outros campos da ciência – em parceria com o próprio materialismo – , a relação do movimento com temas polêmicos da sexualidade está longe da naturalidade de aceitação. Isso não é exclusividade de doutrinas filosóficas recentes ( como o espiritismo sistematizado na França e Inglaterra no século XIX7), mas é bom salientar outros avanços sociais concernentes ao caráter reencarnacionista em outras religiões, mas não vamos estender a discussão para este campo.

Pela luz da racionalidade e da espiritualidade, os seres humanos são Issexuais (sexualidade espiritualmente indefinida) neste conceito de estudo. Homens e Mulheres possuem natureza espiritual genealogicamente diferente do invólucro carnal, e seu antecedente genésico em outras etapas terrenas é que definirá (materialmente falando) as características mais simpáticas à ordem do desejo sexual.

Concluindo, os dias futuros iniciarão outra época para doutrinas espíritas e materialistas. Creio nas possibilidades de uma ligação próxima, talvez antecipada à visão de profetas negativistas. A humanidade caminha para a conexão necessária, útil e definitiva da real natureza do que realmente fomos (seremos) e acreditamos ser.



1 .Licenciado em História pela Universidade Federal do Tocantins (UFT).

2 .Conforme programa televisivo exibido pela TV Cultura de São Paulo (Café Filosófico) no mês de março de 2007, onde os teóricos Maria Helena Guerra e Carlos Byington ministraram conferência sobre modelos interpretativos da figura homem x mulher pela estruturação cultural dos mitos e suas interpretações acerca dos gêneros.

3 .Ver: HOCQUENGHEM, Guy. A contestação homossexual. São Paulo: Brasiliense, 1980.

4 .Por meio de sistemas confluentes no estado e teoria das coisas, enquanto elementos repetitivos ou não, Foucault discorre possibilidades de mudança na mentalidade humana em sua obra “As palavras e as coisas”.

5 .Ver: XAVIER, Francisco Cândido. Vida e sexo. Obra ditada pelo espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2003. A primeira edição desta obra data de 1970.

6 .Nos círculos científicos atuais, transexual designa aquele nasciturno em desacordo com seu corpo, isto é, se acha um estranho em seu respectivo invólucro carnal. Porém, Emmanuel não ratifica (até pelo pensamento da época) a transexualidade como um diferente desejo, pois independe de ser hetero, homo ou bissexual, mas espíritos encarnados em processos físicos específicos.

7 .Ver: BARROS, Rui Sá S. Um duelo imaginário: ciência, espiritismo e esoterismo. São Paulo: Entre passado e futuro (Revista de História Contemporânea); GT- História Contemporânea, Xamã, 2003




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BARROS, Rui Sá S. Um duelo imaginário: ciência, espiritismo e esoterismo. São Paulo: Entre passado e futuro (Revista de História Contemporânea); GT-História Contemporânea, Xamã, 2003.
BARROS, Rui Sá S. Tomando o céu de assalto. Esoterismo, ciência e sociedade (1848-1914). Mestrado em História Social (DH-FFLCH/USP). São Paulo, 1999.
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1970.
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
HOCQUENGUEM, Guy. A contestação homossexual. São Paulo: Brasiliense, 1980.
PASINI, Willy. Intimidade – muito além do amor e do sexo. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
PICAZIO, Cláudio Picazio. Sexo secreto: temas polêmicos da sexualidade. São Paulo: GLS, 1998.
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1997.
XAVIER, Francisco Cândido. Vida e sexo. Obra ditada pelo espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2003.




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