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Artigos-->Algo de Olga -- 27/09/2004 - 11:35 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Indicado para representar o Brasil na disputa de melhor filme estrangeiro para o Oscar, da Academia Cinematográfica dos Estados Unidos, Olga, de Jayme Monjardim, está lotando as salas de exibição. Não é o debute da militante comunista, interpretada nesta obra por Camila Morgado, na grande tela. Em 1984, Nelson Pereira dos Santos registrou a entrega de Olga aos nazistas no seu Memórias do Cárcere, transpondo para a linguagem cinematográfica o capítulo 20 do volume Casa de Correção do livro de Graciliano Ramos, que embasou seu filme. O escritor alagoano assim registrou suas lembranças do episódio:

"Uma noite, chegaram-nos os gritos medonhos do pavilhão dos primários, informação confusa de vozes numerosas. Aplicando o ouvido percebemos que Olga Prestes e Elisa Berger iam ser entregues à Gestapo: àquela hora tentavam arrancá-las da cela 4. As mulheres resistiam e perto os homens se desmandavam em terrível barulho. Tinham recebido aviso, e daí o furioso protesto, embora a polícia jurasse que haveria apenas mudança de prisão.



- Mudança de prisão para a Alemanha, bandidos.



... Apesar da manifestação ruidosa, inclinava-me a recusar a notícia. Inadmissível. Sentado na cama, pensei com horror em campos de concentração, fornos crematórios, câmaras de gases. Iriam a semelhante miséria? ... As duas mulheres sairiam do Brasil se a covardia nacional as quisesse entregasr ao assassino estrangeiro. ... Olga Prestes, casada com brasileiro, estava grávida. Teria filho entre inimigos, numa cadeia. Ou talvez morresse antes e um depotismo longínquo enchia-me de tristeza e vergonha. Alma de escravos, infames: adulação torpe à ditadura ignóbil. ... Olga Prestes e Elisa Berger nunca mais foram vistas. Soubemos depois que tinham sido assassinadas num campo de concentração na Alemanha."

As memórias de Graciliano, escritas em 1953, foram publicadas dois anos depois, postumamente. Em 1985, Fernando Moraes deu-nos mais informação sobre Olga Benário, no seu livro que agora, com o filme, volta com destaque às livrarias. A obra de Monjardim dá aos brasileiros o privilégio de um conhecimento maior sobre essa alemã, mãe de brasileira, comunista e, por esse ideal, internacionalista.

Muito bem realizado, com uma abordagem envolvente e simpática à atividade dos principais personagens, Olga, o filme, trata, em especial, da ligação da comunista alemã com o brasileiro Luiz Carlos Prestes e o levante comandado pela Aliança Nacional Libertadora, em 1935, organização criada pelo Partido Comunista, então na clandestinidade.

O filme deixa claro que Benário e Prestes são comunistas, que os comunistas lutaram contra o nazismo na Alemanha e que enfrentaram o primeiro governo de Getúlio Vargas, no Brasil. Mais: mostra que comunistas partiam da União Soviética para participar da atividade revolucionária em todo o planeta. Não se propõe a apresentar quais os ideais defendidos pelas partes em conflito. Sobre o nazismo, por exemplo, deixa claro que perseguia comunistas e judeus sem, no entanto, esclarecer que interesses representavam e o que pretendiam os homens de Adolf Hitler. Vargas mantinha, então, bom relacionamento com os nazistas alemães e, após a repressão capturar Prestes e Olga, ele a envia para a Alemanha, sabendo que isso seria fatal para uma judia comunista.

É notável, no filme, o compromisso dos dois protagonistas com o ideal de uma sociedade mais justa, como é expresso pela própria Olga, na carta que escreve no campo de concentração, onde será executada: "Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo". Sua abnegação, assim como a de vários de seus companheiros, é admirável. Tratando dessa geração, que viveu o impacto da Revolução de Outubro de 1917, na Rússia, o historiador Eric Hobsbawm escreveu que, para ela e os que, "embora jovens, viveram os anos de levante, a revolução foi o acontecimento de suas vidas; os dias de capitalismo estavam inevitavelmente contados. A história contemporânea era a antecâmera da vitória final para os que vivessem para vê-la, o que incluiria alguns soldados da revolução (...). Se a própria sociedade burguesa tinha tantos motivos para duvidar de seu futuro, por que estariam eles confiantes na sua sobrevivência? Suas próprias vidas demonstravam sua realidade". O autor faz, então, um breve relato das vidas de Olga e de Otto Braun (o revolucionário que ela resgata do julgamento, no início do filme). O relato está no livro Era dos extremos.

O século passado mostrou a agudeza da luta de classes (duas guerras mundiais, revoluções vitoriosas e derrotadas, países que ganharam independência e a adoção de novas formas de domínio do capital sobre o mundo etc.). O filme Olga propicia conversas, debates e polêmicas abordando os objetivos então buscados e a atuação de hoje dos que combatem pelo socialismo. Além de seu valor estético e artístico, tem ainda a virtude de favorecer um debate tão necessário para a concretização de um mundo justo, bom e melhor.

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