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Artigos-->Literatura: clichês -- 21/09/2004 - 11:00 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Vale dizer que a linguagem exprime e o estilo realça” (Michael Riffaterre in “Estilística Estrutural”, Ed. Cultrix, SP, 1973).



Nada mais batido do que o clichê, também denominado de lugar-comum, ladainha, estribilho. Nada mais repetitivo do que “fossilizado”, “águas passadas não movem moinho”, “caixinha de surpresa”, “facção de esquerda”, “guarda pretoriana”, “a estrada serpenteia a encosta do morro”. Porém, nada tão eficaz quanto o clichê para realçar o estilo, pois apresenta uma expressividade forte e estável, muitas vezes nos brindando com alguns dos melhores aforismos que conhecemos, como “tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia se quebra”. Todas as categorias estilísticas podem entrar na composição de clichês, como a metáfora (“formigueiro humano”), a antítese (“assassinato jurídico”), a hipérbole (“inquietudes mortais”).



O problema não é o uso do clichê, porém o seu abuso. A originalidade, muitas vezes, está em renovar o clichê, não ignorá-lo. “Agradar a cristãos e muçulmanos” é uma renovação do clichê “agradar a gregos e troianos”, embora se trate de uma utopia. Um exemplo tirado de Beaumarchais e citado por Riffaterre reinventa o clichê do “cântaro à fonte” da seguinte forma: “Tant va la cruche à l’eau qu’à la fin elle s’emplit” (Tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia ela se enche”). Beaumarchais se refere à moça, que de tanto ir com o cântaro na cabeça à fonte (e sendo galanteada pelos sedutores ao longo do caminho), um dia “ela se enche”, ou seja, fica grávida.



“Pobre mas honesto”, segundo Riffaterre, era um clichê dos bons tempos d’antanho. Com a imoralidade atual, é mais fácil encontrar um “pobre e desonesto”. Sem entrar no mérito da moralidade, de hoje ou de ontem, houve uma renovação do clichê, reinventada de forma sarcástica.



“A nível de...” e “Fulano, enquanto pessoa humana, ...”, são clichês que devem ser definitivamente riscados de nosso vocabulário. Não é péssimo Português, porque nem Português é.



A República dos Companheiros (PT) tem um notável repertório de clichês, uma rica língua de pau, cheia de eufemismos, com origem bolchevista, estruturada, principalmente, dentro do modo “politicamente correto” de se expressar. Assim, “centralismo democrático” não é nada mais do que a imposição da idéia da cúpula petista, sem margem para contestações. “Orçamento participativo” deveria significar a participação de toda a sociedade na elaboração dos orçamentos municipais, mas na verdade congrega meia dúzia de “participativos” petistas. “Governo democrático e popular” é outra expressão bolchevista abraçada tanto por Cristóvam Buarque, ex-governador do DF, quanto por Zeca do Petê, governador de Mato Grosso do Sul. Expressão oca, não significa nada, embora ludibrie muita gente.



Dad Squarisi, em “Dicas de Português” (jornal Correio Braziliense, 21/07/2002, caderno “Coisas da Vida”, pg. 2), apresenta “Mesmeiros do texto”, em que agrupa, em ordem alfabética, uma seleção dos chavões mais conhecidos da “última flor do Lácio, inculta e bela”, que devem ser lembrados para nunca serem usados:



A



A cada dia que passa, a duras penas, a olho nu, a olhos vistos, a ordem é se divertir, à saciedade, a sete chaves, a todo vapor, a toque de caixa, abertura da contagem, abrir com chave de ouro, acertar os ponteiros, agarrar-se à certeza de, agradar a gregos e troianos, alto e bom som, alimentar a esperança, antes de mais nada, ao apagar das luzes, aparar as arestas, apertar os cintos, arregaçar as mangas, ataque fulminante, atear fogo às vestes, atingir em cheio, atirar farpas.



B



Baixar a guarda, barril de pólvora, bater em retirada.



C



Cair como uma bomba, cair como uma luva, caixinha de surpresa, caloroso abraço, campanha orquestrada, cantar vitória, cardápio da reunião, carta branca, chover no molhado, chumbo grosso, colocar um ponto final, comédia de erros, como manda a tradição, como se sabe, como já é conhecido, como todos sabem, comprar briga, conjugar esforços, corações e mentes, coroar-se de êxito, correr por fora, cortina de fumaça.



D



Defenestração, de quebra, de mão beijada, deitar raízes, deixar a desejar, debelar as chamas, depois de longo e tenebroso inverno, desbaratar a quadrilha, detonar um processo, do Oiapoque ao Chuí, dispensa apresentação, divisor de águas.



E



Erro gigante, em função de, efeito dominó, em compasso de espera, em polvorosa, em ponto de bala, em sã consciência, em última análise, eminência parda, empanar o brilho, encostar contra a parede, esgoto a céu aberto, estar no páreo.



F



Faca de dois gumes, familiares inconsoláveis, fazer as pazes com a vitória, fazer das tripas coração, fazer uma colocação, fazer vistas grossas, fez por merecer, fonte inesgotável, fugir da raia.



G



Gerar polêmica.



H



Hora da verdade.



I



Importância vital, inflação galopante, inserido no contexto, insustentável leveza do ser.



J



Jogo de vida ou morte.



L



Lavar a alma, leque de opções, levar à barra dos tribunais, líder carismático, literalmente tomado, lugar ao sol, luz no fim do túnel.



M



Menina-dos-olhos, morto prematuramente.



N



Na ordem do dia, no fundo do poço.



O



Óbvio ululante, ovelha negra, obscuro objeto do desejo.



P



Página virada, parece que foi ontem, passar em brancas nuvens, pelo andar da carruagem, perder o bonde da história, perder um ponto precioso, perdidamente apaixonado, perfeita sintonia, petição de miséria, poder de fogo, pôr a casa em ordem, prendas domésticas, preencher uma lacuna, procurar chifre em cabeça de cavalo, propriamente dito, quebrar o protocolo.



R



Requinte de crueldade, respirar aliviado, reta final, rota de colisão, ruído ensurdecedor.



S



Sair de mãos abanando, sagrar-se campeão, saraivada de golpes, sentir na pele, separar o joio do trigo, sério candidato, ser o azarão, sorriso amarelo.



T



Tecer comentários, ter boas razões para, tirar do bolso do colete, tirar o cavalo da chuva, tiro de misericórdia, trair-se pela emoção, trazer à tona, trocar farpas.



V



Via de regra, via de fato, voltar à estaca zero.





E faltou Dad Squarisi falar de “amor à primeira vista” e tantos outros clichês mais, como “ensinar o padre a rezar missa”, “com bala na agulha”, “chuva torrencial”, “pá de cal”. O carioca costuma dizer que Sicrano “faz cocô cheiroso” (comporta-se com frescura). O nordestino xinga todo mundo, inclusive seus filhos, de “filho de uma égua”. O gaúcho gosta de encerrar a história de mais um “causo” com a frase-clichê “mais atrapalhado que cusco (cachorro) em procissão”. Tente aumentar a lista de clichês, caro leitor. Você nunca chegará no “fim da picada”, porque o uso de clichês é uma “fonte inesgotável”...











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