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Artigos-->QUANDO É PRECISO DESISTIR -- 11/09/2004 - 18:54 (Paulo Robson de Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
QUANDO É PRECISO DESISTIR*



Paulo Robson de Souza**



Nas últimas semanas, a tv tem nos proporcionado uma emocionante campanha de incentivo à persistência, usando os exemplos da superação da dor do jogador Ronaldinho e da sobrevivência e recuperação do compositor Herbert Viana.



Todos temos nossos próprios exemplos de que, como conclui a campanha, o brasileiro não desiste nunca. Na instituição em que trabalho também há exemplos de persistência duradoura, embora aparentemente mais modestos que a superação das perdas, das dores física e psicológica que esses ilustres protagonistas foram submetidos.



São, contudo, exemplos também dignos, relacionados a nosso juramento profissional, a nossas responsabilidades como servidores públicos e cidadãos. São metas que só foram atingidas décadas depois de estabelecidas. Uma delas foi a criação de uma unidade de conservação no campus da UFMS, em Campo Grande: processo de intensa mobilização iniciado por volta de 1985 pelos professores Arnaldo Oliveira e Teresa Cristina Stocco Pagotto, dentre outros, apoiados pelo Diretório Central dos Estudantes, resultou na criação da "Reserva Biológica da UFMS", com apenas onze hectares.



Em 97, uma comissão do Departamento de Biologia propôs à UFMS a ampliação da Reserva Biológica, anexando aproximadamente 30 ha do “Cerrado da Química”, o Lago do Amor e seu perímetro, transformando-a em Unidade de Conservação (UC) reconhecida pela legislação federal. Em novembro de 2001 a chefe desse departamento, profª Edna Scremin Dias, retomou o processo e, de posse de vários estudos e pareceres favoráveis de pesquisadores de diversos departamentos da UFMS, propôs ao Conselho Diretor dessa Instituição a ampliação da área e respectiva alteração da categoria de UC, o que foi aprovado em abril de 2002. Em fevereiro de 2003 o Secretário de Meio Ambiente do MS e o Reitor da UFMS, conjuntamente, instituíram a área como Unidade de Conservação, de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, totalizando aproximadamente 50 ha de Reserva, ato referendado pelo Conselho Estadual de Controle Ambiental/MS, sendo posteriormente gravada na escritura do imóvel em caráter perpétuo. Enfim, o tal “exemplo mais modesto” é o resultado de mais de vinte anos de perseverança de instituições e de diversas pessoas de várias gerações.



Mas há momentos em que é preciso desistir. É quando nossas metas e sonhos pessoais, embora aparentemente dignos e "progressistas", ferem os anseios e o bem-estar de toda uma comunidade, por menor que seja, atingem mortalmente a natureza e a paisagem urbana &
8213; patrimônio de todos &
8213;, atropelando a lógica e o bom-senso.



Foi com perplexidade que testemunhei no dia 12/09/2004, na reunião do Conselho Municipal de Meio Ambiente, a prefeitura "ressuscitar" o projeto de prolongamento da construção da avenida Leste-Oeste, cujo traçado original cortava o campus da UFMS, separando pessoas, instalações e ferindo projetos de pesquisa e um dos mais lindos buritizais da cidade.



A apresentação do primeiro traçado, em outubro de 2001, suscitou intensas discussões na comunidade universitária, protesto de ambientalistas, moradores do entorno, estudantes secundaristas e de três universidades. Ao mesmo tempo, o Conselho Universitário da UFMS, usando de sua autonomia administrativa, deliberou contra a construção da avenida dentro do seu patrimônio territorial.



No novo projeto, muda-se o traçado, mas permanece o prejuízo à fauna e à flora do lugar, à tranqüilidade necessária à pesquisa, à extensão e ao ensino ali desenvolvidos. É apenas um jeito diferente de cortar, causando o mesmo ferimento aos campo-grandenses: a perda da paisagem referencial, dos seus espaços de lazer e do patrimônio natural &
8213; além de perdermos o trabalho gratuito feito pela vegetação e do que sobrou do córrego Bandeira em prol da qualidade de vida da cidade, pois a diminuição da vegetação provoca aumento de temperatura, perda de solos férteis e diminuição da umidade relativa.



Ante o recorrente argumento "desenvolvimentista", é oportuno perguntar: por que o Central Park, com seus 340 hectares de área verde cravados no coração de Nova York, concebido sobre um pântano no longínquo ano de 1858, resistiu até hoje aos surtos desenvolvimentistas da capital do Mundo, fundada por holandeses por volta de 1640? Quantas vezes será usado o argumento de que as belas veredas de Campo Grande têm que se adaptar aos interesses humanos e não o contrário? Até quando Campo Grande será construída em função dos seus veículos e empreendimentos imobiliários, em detrimento da qualidade de vida de toda a população, da conservação dos espaços naturais e sítios históricos, esquecendo-se dos pedestres e ciclistas, dos poucos animais silvestres que aqui ainda vivem, de sua bela e morena paisagem?



Senhores administradores, desistam de deteriorar o que restou da paisagem natural do córrego Bandeira e outros, não menos importantes! Desistam de macular a reserva natural da UFMS, que é de todo campo-grandense &
8213; para o bem da nossa geração e das futuras. Dessa vez é necessário contrariar a belíssima mensagem de Ronaldinho e Herbert Viana. Nesse caso, senhores, desistir é uma virtude!



_________________



*Artigo originalmente publicado no Correio do Estado (MS)de 1/9/2004.



** Licenciado em Ciências Biológicas, Mestre em Agronomia pela ESALQ/USP, representante suplente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul no Conselho Municipal de Meio Ambiente.

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