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cronicas-->O amor em tempos de guerra -- 15/10/2001 - 18:18 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Esta é a quinta reportagem de uma série que vem sendo escrita por Ulrich Ladurner para o DIE WELT online (Berlim). Fala das pessoas tentando viver suas vidas dentro da normalidade, ainda assim possível, mesmo nas proximidades da guerra (Islamabad, capital do Paquistão). Neste site, o leitor vai encontrar a primeira dessas reportagens, traz o título de "Islamabad-Blues: quando a noite vem" [em artigos ].

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Por Ulrich Ladurner [DIE WELT online, 12/10/2001]
Trad.: zé pedro antunes

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No retorno ao hotel, tarde da noite, Khan, o recepcionista, quase sempre está grudado ao telefone sem fio. A chave do quarto ele me entrega, colocando-a sobre a mesa. Sussurra uma desculpa ao telefone, coloca a mão sobre o fone e diz em tom conspiratório: "Karachi!" Em certas noites: "Lahore!" Em outras: "Islamabad!"

Karachi-Lahore-Islamabad, são esses os marcos geográficos de sua vida amorosa. Em cada uma dessas cidades ele diz ter uma "namorada". O que isso exatamente significa, não procuro saber dele. Mas, a julgar por sua aparência, só posso tomá-lo ao pé da letra: Ele tem relações amorosas nas três cidades. E, de noite, conversa alternadamente ao telefone com as três pretendentes.

Compromisso, naturalmente, só mantém com a namorada em Islamabad, com quem haverá de se casar, tudo acertado entre as famílias, de acordo com um costume antigo. Aí, não há mais saída. Mas, até lá, pretende colecionar ainda experiências. Entre elas, visitas noturnas às garotas.

Khan relata, por exemplo, aquela vez em que escalou o muro de um jardim, nas mãos alguma coisa para dar de comer ao cachorro que vigiava, evitando que se pusesse a atacá-lo. Depois, subiu à sacada, para se imiscuir no quarto da namorada. O pai da garota, "com um cajado nas mãos, querendo golpeá-lo", acabou pegando-o em flagrante. Ainda escapou a tempo, "talvez devesse ter trazido um presente, para ele também!"

Pequenas aventuras. Depois se põe a contar de um rapaz, seus vinte anos recém-completados. Coisas na verdade sem muita importància. No entanto, por muito tempo fico a escutá-lo, e com muito prazer.

"Sir", às vezes ele me pergunta, "o que devo fazer no fim da semana: Ir para Karachi? Para Lahore? Ou ficar em Islamabad?" Esboço um sorriso. Tampouco espera por uma resposta. Quer simplesmente vangloriar-se um pouco de suas possibilidades. Três namoradas ao mesmo tempo! Não é para qualquer um! Nesses momentos, sempre se espreguiça um pouco, a camisa apertada mais ainda colada ao corpo. No rosto, a mágica de uma expressão, como se tivesse merecido um aplauso caloroso pelo inacreditável ato de equilibrismo, que atravessa todo o extenso território do Paquistão. E muito grato eu lhe fico por essa demonstração de fragilidade. Nela, o cheiro benfazejo de um ser humano.

Na certa, o leitor gostaria de saber por que o importuno com histórias assim inofensivas? Digo que o faço por supó-lo igualmente sentado diante da TV, a acompanhar as notícias que chegam do Paquistão longínquo. Suponho que também ele sinta um frio na espinha ao ver as imagens de todos esses iracundos homens barbudos a gritar que "Deus é grande", a jurar vingança e a se lançar contra a polícia em sangrentas batalhas de rua.

Nos próximos dias, caso torne a ver e rever muitas vezes tais imagens, caso venha a sentir preocupação e intranquilidade em relação à situação da República Islàmica do Paquistão, poderá pensar então em Khan ali sentado, no saguão do hotel, boné de baseball na cabeça, a cumprimentar o hóspede que chega e a perguntar: "Karachi? Lahore? Islamabad? Para onde acha que devo ir desta vez?"

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