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Artigos-->Uma guerra que é tudo, menos santa -- 24/09/2001 - 15:10 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quem leu a Folha de ontem, 23/09/2001, domingo, certamente percebeu que daqui por diante não vai ter pra ninguém. A mídia internacional, afinadíssima com a globalização e o pensamento único que pretende ver instalado em cada uma das nossas cabecinhas, não está mesmo para brincadeiras antiamericanas. Mas não existe, pelos artigos que o caderno MAIS nos colocou diante dos olhos, não pode existir essa unanimidade que o caderno GUERRA NOS ESTADOS UNIDOS (pode?) alardeia.



Deu pra saber que ainda faltaria muito para Nova York saber o que foi Sarajevo há dez anos.



Deu pra saber que 6.000 pessoas mortas não é lá grande coisa, se incluídos no cômputo geral, por exemplo, as 7.000 baixas brasileiras mensais, numa guerra que nem precisava mesmo ser declarada, talvez por não apresentar um potencial imagético capaz de arrebatar, com o mesmo impacto, as multidões saciadas e obesas diante dos aparelhos de TV.



Deu pra saber que Bush, reunido com alunos e professores de uma escola, teria recebido, e por cochicho, a notícia do primeiro baque, digo, do primeiro boing contra as torres. E que seguiu fazendo como se estivesse fazendo o que estava fazendo. Acho que é isso. Reagiu como se lhe tivessem dito que a mulher pediu para ele ligar mais tarde, que ela ainda ia passar no cabelereiro, essas coisas.



Deu pra saber que muita gente saiu lucrando com tudo isso, especialmente no que tange às conseqüências financeiras que atingiram as companhias aéreas.



Deu pra saber que pode levar muitos anos, décadas até, para se saber com certeza o que é que está por trás do infausto, além, é claro, da conta que com toda certeza vamos acabar pagando. Isso, até que nos apresentem as provas, que dizem ter, contra Ossama Bin Laden.



Enfim, deu pra saber que, lá como cá, poucos sabem com certeza o que é que ficou soterrado sob aquela nuvem de poeira e amianto. Digo-o em termos de informação precisa sobre a verdadeira procedência dos atentados, pois dos mortos e dos muito vivos promotores do espetáculo televisivo já sabemos muito, acho que quase tudo.



Já os jornais desta segunda-feira nos informam sobre um cenário fantástico e fantasmagórico, o dos saqueadores, por entre as ruínas do World Trade Center, em busca de tesouros soterrados. Imagino-os a escarafunchar com avidez incontida, a tropeçar em pedaços de carne humana, por entre bombeiros, policiais, enfermeirós, médicos e voluntários diversos. Sobre ratos, ainda não ouvi nenhum comentário. Haverá ratazanas no primeiro mundo. A esses saqueadores, imagino-os comovidos, como o resto do mundo, ante aquele pai, também trabalhando como voluntário no resgate de pessoas (tesouros humanos!), que não desiste de encontrar o filho ("um homem forte"), vivo ou morto que ele esteja.



Na última página do caderno, um poeta maranhense que os irmãos Campos salvaram do descaso por parte dos nossos historiadores da literatura: SOUSÂNDRADE, com seu poema O GUESA ERRANTE parecendo falar deste momento que vivemos, digo, que nos vai sendo empurrado goela abaixo pelas imagens da televisão, pelas fotografias e pela baba jornalística mais despudorada. De resto, parece que já se vasculhou o inteiro Nostradamus. E tudo está lá, no cipoal das profecias delirantes.



Sucedem-se, ante os nossos olhos, acho que para sempre estarrecidos, cenas de cantoria pungente em cenários clean, aquele jeito Whoopi Goldberg de ser, se é que me entendem, aquele pátos carregado que, com o desaparecimento de Anthony Quim, só um Robin Willians carreia consigo, aquele toque demasiadamente humano e brincalhão, poço de emoções. E, enquanto isso, uma batina branca brinca de gritar "Hosana nas alturas" e de pedir pela paz ao mundo enlouquecido, e o faz a poucos quilômetros de uma gruta, de um buraco, de uma greta, de um mocó encarapitado entre montanhas, num país tantas vezes arrasado, onde a besta do apocalipse, dizem Bush e seus assessores em cochichos e BUSHichos diversos, estaria abrigada.



Pelas fotos, difícil imaginar terem sido mesmo eles, esses homens fartamente cobertos por peças de tecido, os gênios produtores e diretores desse intrincado megaenredo televisivo. Hollywood também terá de rever seus pressupostos. Que golpe! Isso é que filme de catástrofe! Muito terá de esperar, e eu parafraseio Cèzanne, quem ainda quiser ver alguma coisa de mais chapante nas telas dos cinemas.



E a CRUZADA ANTITERRORISTA já veio mostrar eficiência aqui na fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina. E já aqui na combalida e afghanizada capital do estado de São Paulo. Meus sais mineirais!



Mas foi aqui mesmo, no usinadeletras , que li um dos textos mais interessantes sobre o imbroglio e seus desdobramentos ainda imprevisíveis. Um dos autores/leitores deste site imaginou, em texto recente, um outro roteiro, tipo "O show de Truman" (essa paranóia californiana bem lembrada ontem por um dos articulistas incluídos no MAIS), com a idéia básica de que as torres continuam lá, incólumes, intactas; de que o show foi produzido, com efeito, e com todos os efeitos, pelos próprios americanos, para que nós, no resto do mundo, nos entupíssemos de horror e hipocrisia, e não achássemos nada demais o presidente ter pedido 20 e o senado ter liberado 40 bilhões de dólares para a primeira refrega do milênio, a primogênita de todas as guerras.



Entusiasmado com a força inventiva da inspiração literária, fui comentar sobre a narrativa de Wallace Fauth com um amigo, também escritor, e os olhos dele também faiscaram de surpresa e entusiasmo. Histórias outra vez, aos borbotões. Estamos salvos. E logo se lançou no encalço de uma outra idéia, de uma outra história ainda mais palpitante de vida e ensolarada, a sugerir que as torres, na verdade, é mentira, não, elas nunca existiram.



Esse outro enredo me veio de volta à mente ontem, ao ver, ainda no caderno MAIS (absolutamente imperdível), uma foto de Manhattan sem esses gêmeos símbolos insolentes (como não pensá-lo?) da nossa rendição ao capital internacional, diga-se, hoje sitiado em Nova York, bem como sitiado se acha, em Washington, o poderio militar americano e uma sanha bélica expansionista sem precedentes na história da humanidade, com seu ícone, o Pentágono, ferido talvez mais de vergonha do que de morte.



E esse que tem o dedo no botão vermelho, seu relicário de 6.500 palavras, seu Q.I. muito abaixo da média (já não muito alta, dos presidentes americanos dos últimos cinqüenta anos), e com toda certeza também muito abaixo da mídia (valeu, Bartholomeu!)? Que perereco! Esse vai ter de confiar, para sempre, cegamente nos jornais, na televisão, nessa orquestra global de formadores de opinião, arregimentada para não deixar que nem ele e nem ninguém duvide um só instante da verdade, que é única. E olha que eu também vacilei, ao ver aquela foto em que ele aparece de olhos marejados, os lábios quase invisíveis, comprimidos, a olhar para um futuro que, por isso mesmo, não se pode ter certeza se haverá. O que se sabe, se diz, se alardeia, é que jamais será nos moldes que já conhecemos. E ainda nem sabíamos que os sobreviventes, aqueles que puderam ser resgatados de entre os escombros, já carregam no pulmão a certeza absoluta de um câncer imbatível.



E cresce a procura por máscaras de oxigênio. E os happy few devem estar encomendando uma faxina em regra em seus bunkers antiatômicos.



Para a mediocridade que hoje ocupa a maior parte dos governos ocidentais subservientes, foi mesmo de encomenda. Sei que a piada é infame e lamentável, mas, até para muitos canalhas do baixo clero desse pensamento único, a coisa caiu do céu.



Uma última consideração: a carinha dos nossos famosos, surpreendidos que foram pela tragédia em pleno coração do mundo livre. Bem faz a Xuxa, que, para revolta da minha amiga da banca de jornais, agora deu de dizer que anda vendo duendes...



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