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Artigos-->Política no pódio -- 23/08/2004 - 10:19 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Foi Pausarias quem registrou que, em 884 antes de Cristo, Atílio, representando os helênicos; Licurgo, por Esparta, e Cleóstenes, por Pisa, declararam inviolável a região de Olímpia durante os jogos Atlas e intocáveis os participantes (chamados atletas) das competições. Uma atitude política. Dois meses antes do início das provas, território e competidores ficavam sob proteção da pax olímpica. O período de 4 anos entre uma e outra competição foi chamado de Olimpíada. Foram encontrados resultados dos jogos realizados pouco mais de um século depois, em 776 a.C.

Se, na origem, os jogos eram consagrados ao deus Zeus e proibidos para mulheres (a área em que eram realizados era exclusiva para homens e ocorriam festivais femininos nos quais os homens eram banidos, sendo o mais famoso o Heraean, em Argos), depois foram proibidos por serem "ritos pagãos" e, em 426 a.C., o imperador romano Teodósio II ordenou a destruição do templo de Zeus em Olímpia. As ruínas foram identificadas mais de 2 mil depois e inspiraram o francês Pierre de Fredi, barão de Coubertin, a reorganizar os jogos em 1896. A exemplo das disputas de mais de 2 mil anos antes, as mulheres não puderam participar e, até nas atuais competições não alcançaram a igualdade, embora já representem 40% dos 10.500 atletas inscritos (seis delegações continuam, por razões religiosas ou de outra ordem, sem nenhuma participante feminina).

Não há evento social que não seja político. Da origem dos jogos - quando batalhas militares eram suspensas durante sua realização - à cerimônia de abertura da 38ª edição dos jogos modernos, em 13 de agosto de 2004, quando o público vaiou a delegação estadunidense e aplaudiu em pé os atletas iraquianos, já que o Iraque está sob invasão dos EUA - foram inúmeros os protestos, as ações, as simbologias presentes. Há que contextualizá-los. São atletas, e não governos, que disputam os jogos. Alguns atletas assumem a prepotência de governos reacionários e, com empáfia, ostentam posturas discriminatórias e arrogantes, de natureza política ou até mesmo esportiva. Outros, aproveitam o evento para demonstrar suas convicções, como o iraniano que, neste ano, recusou-se a participar da prova em que o oponente seria um israelense, ou os norte-americanos que, em 1968, no México, ergueram seus punhos ou portaram boinas referentes ao Black Power, solidarizando-se com a luta pelos direitos civis em seu país.

O próprio Comitê Olímpico não se furtou a manifestações políticas. O fundador dos jogos atuais, barão de Coubertin, era contrário à participação feminina. Nos terceiros jogos, realizados nos Estados Unidos, há 100 anos, foram realizados dois dias de competição, batizada Anthropological Days, com atletas das "raças inferiores", envolvendo índios, negros estadunidenses e africanos, turcos, filipinos e sírios. Os jogos de 1916 não foram realizados devido à I Guerra Mundial e, em 1920, os países perdedores do conflito - Alemanha, Áustria, Bulgária, Hungria, Romênia, Rússia e Turquia - foram impedidos de participar dos chamados "Jogos da Paz". Também foi o Comitê quem escalou o sobrevivente de Hiroshima, Yoshimori Sakai, para acender a pira olímpica na 18ª competição, em 1964, no Japão, num protesto contra a bomba atômica. Foi igualmente uma decisão do Comitê que impediu a participação da racista África do Sul, que oprimia negros, nessas Olimpíadas realizadas em Tóquio.

Boicotes governamentais se fizeram presentes ao longo dos jogos. Em 1924, na 8ª edição, na França, a Alemanha não compareceu alegando falta de segurança. Em 1980, foi vez dos EUA boicotarem (com adesão da Alemanha Federal, Canadá, Japão e China) os jogos em Moscou, sendo revidados pela antiga União Soviética (e alguns países do Leste Europeu) na 23ª edição, quando não foi aos EUA denunciando que não estavam garantidas "nem a segurança, nem a dignidade" de seus competidores . Antes, em 1976, 20 delegações africanas se retiraram dos jogos realizados no Canadá protestando contra a presença da segregacionista Nova Zelândia nas competições — aliás, nesta 21ª Olimpíada o primeiro-ministro canadense, Pierre Trudeau, negou visto aos atletas de Taiwan, argumentando que "não havia outra China que não a de Pequim".

O acontecimento mais dramático — e indefensável — ocorreu em Munique (então Alemanha Ocidental), quando, na noite de 5 de setembro de 1972, oito militantes do grupo palestino "Setembro Negro" invadiram as habitações de atletas israelenses, matando dois de seus integrantes e capturando outros nove. Exigiam a libertação de 200 palestinos detidos em Israel. As autoridades alemãs levaram seqüestradores e reféns para uma armadilha no aeroporto militar de Führstenfeldbrück. Atiradores alemães dispararam contra os terroristas. O resultado foi a morte dos nove atletas, de cinco dos oito terroristas, um policial alemão e de um piloto de helicóptero envolvido na ação repressiva. Os jogos foram suspensos por 34 horas, para a realização de cerimônias fúnebres.

Mesmo resultados das competições acabam adquirindo nítido caráter político, como a conquista de quatro medalhas de ouro pelo negro estadunidense Jesse Owens nos jogos de Berlim, em 1936, em plena vigência do racismo ariano de Adolf Hitler e seus nazistas, ou a vitória do corredor etíope Abebe Bikil, descalço, na capital italiana em 1960. Ou, ainda, para citar num exemplo atual, o entusiasmo da torcida pela vitória do basquete portorriquenho sobre os EUA, nestas olimpíadas gregas. Novos episódios que desnudam a relação entre política e esporte ocorrerão até o fim destes jogos e no próximo e próximo e próximo...
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