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Artigos-->Roubo na Grécia -- 16/08/2004 - 10:06 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O filho de Jápeto e Climene roubou as artes de Hefesto e Atena — a metalurgia e a tecelagem — e o fogo do Monte Olimpo, o mais alto dos picos que dominam as águas do Mediterrâneo, com 2.917 metros, e o entregou aos homens, dando-lhes a sabedoria e as condições para enfrentar os problemas da vida cotidiana, tornando-os superiores aos outros animais. Pior: igualou-os aos deuses. A história de Prometeu (que quer dizer "o astuto") significa, na mitologia grega, o que a de Eva representa na mitologia judaico-cristã: o conhecimento deixa de ser propriedade privada de seres superiores e fica acessível aos mortais.

Thomas Bulfinch relata, no seu "O livro de ouro da mitologia", que Prometeu tomou um pouco da terra, onde "ainda havia algumas sementes celestiais ocultas" e misturou-a com água para fazer "o homem à semelhança dos deuses". Ele era um titã — uma raça que habitou a terra antes dos humanos. Subiu ao céu e acendeu sua tocha no carro do Sol, trazendo (roubando) o fogo para os humanos, dando-lhes superioridade. Prometeu representa o amigo da humanidade, a quem ensinou a civilização e a arte. Com isso, tornou-se alvo da ira do rei dos deuses e dos homens. Foi acorrentado num rochedo do Cáucaso, onde um abutre lhe arrancava o fígado, que se renovava à medida que era devorado, até que se arrependesse do apoio à humanidade. Nunca se arrependeu e, por isso, tornou-se símbolo da resistência ao sofrimento imerecido e da resistência à opressão. Shelley disse ser de Prometeu "o orgulho de sofrer sem um lamento". E Byron perguntou a Napoleão Bonaparte: "Como o ladrão do fogo celestial, resistirás sem medo e compartilharás com o imortal o abutre e o rochedo?"

Seu sofrimento perene inspirou J. R. Lowell, que faz Prometeu exclamar num poema:



Ergueram-se e puseram-se as estrelas,

Iluminando os ferros que me prendem;

A Ursa, que passeia toda a noite,

Em seu abrigo já se refugiara,

Ouvindo os passos tímidos da Aurora.



Quando escreveu sua tese de doutorado, em 1841, aos 23 anos, Karl Heinrich Marx registrou no prefácio que, para a filosofia, "a confissão de Prometeu — em suma, detesto todos os deuses — é a sua confissão, a sua palavra de ordem contra todos os deuses que, no céu e na terra, não reconheçam como máxima divindade a autoconsciência do homem". Para ele, "Prometeu é o santo e mártir mais eminente do calendário filosófico".

Poucos anos depois, já como jornalista, trabalhando na Gazeta Renana (Rheinische Zeitung), em 43, viu seu jornal ser censurado e impossibilitado de continuar circulando pelo governo. Queixou-se, então: "Nosso jornal tem que ser exibido à polícia para ser farejado e, quando o nariz da polícia cheira alguma coisa anticristã ou antiprussiana, o jornal não tem autorização para sair". Após o fechamento, desabafou: "É ruim ter que cumprir deveres servis, mesmo em nome da liberdade, e ter que lutar com alfinetadas, em vez de porretes. Cansei-me da hipocrisia, da estupidez, da arbitrariedade flagrante e de termos de nos portar obsequiosamente, usando de evasivas e discutindo ninharias por causa de palavras. Conseqüentemente, o governo me devolveu minha liberdade".

Entre o episódio mitológico e a censura ao jovem pensador alemão, milênios se passaram. Entre Marx e hoje, mais de 150 anos transcorreram. Embora — diga-se a verdade —, o obscurantismo continue imperando, assim como os que ousam pensar permaneçam sendo tratados como ladrões do conhecimento dos que imperam sobre a humanidade.

Após o fechamento da Gazeta Renana, foi publicada uma charge alegórica mostrando Karl Marx, como se fosse Prometeu, acorrentado a uma prensa tipográfica, enquanto uma águia, usando a coroa prussiana, lhe devora o fígado. O poder continua reprimindo o pensamento. Mas isso é uma outra (e mesma) história.

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