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Artigos-->Epístola contra as mulheres -- 09/08/2004 - 10:27 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Três idosos, nascidos no primeiro terço do século passado, que se comprometeram, por questão de ofício e juramento, a nunca viver em plenitude a paixão por outro ser humano, acabaram de divulgar um documento contrário à luta das mulheres por condições de igualdade com os homens nas relações sociais e de trabalho.

Estes anciãos comandam uma organização mundial, milenar, que não aceita mulheres no seu alto comando. Seus adeptos mais fiéis e ortodoxos, de ambos os sexos, também não podem constituir família e são obrigados a fazer voto de castidade. A organização, cuja sede fica na Europa, mas se estende aos grotões mais minúsculos do Planeta, realiza rituais e reuniões diárias, com maior participação nos finais de semana - durante as cerimônias, as mulheres podem exercer algumas funções coadjuvantes. A entidade advoga que os humanos estão sob constante vigilância, prontos a ser condenados à danação eterna, por causa da mulher, que quis, num longínquo passado, saber mais do que devia. Porém, depois de condenadas a "sofrer muito em sua gravidez", dar à luz seus filhos "entre dores", ser arrastadas pela paixão para os maridos e por eles dominadas, nos milênios seguintes as mulheres resistiram, reivindicaram, lutaram.

No século passado, essa movimentação das fêmeas humanas passou a ser amplamente conhecida como feminismo. Graças a esse movimento — e não por alguma contrição pelos excessos cometidos contra as evas — elas conseguiram alguma participação (ainda tímida) na sociedade e na hierarquia da organização comandada pelos vetustos signatários do documento dado à luz dia 31 de julho e gerado desde 31 de maio de 2004.

Os autores consideram que, ao confrontar as condições de subordinação que lhe são impostas, as mulheres motivam "o antagonismo" com o homem. Argumentam que "muitas mulheres sentem que devem ser adversárias dos homens em vez de serem elas mesmas". A batalha das mulheres por seus direitos "tem efeitos imediatos e letais na estrutura da família".

Os governos são chamados a harmonizar "a legislação e a organização do trabalho" feminino, não por justiça, mas para garantir o cumprimento das "exigências da missão da mulher dentro do núcleo familiar". Enquanto isso não acontecer, cabe às fêmeas que "desejarem realizar também outros trabalhos" conseguir "horários adequados, sem serem confrontadas com a alternativa de mortificar a sua vida familiar". Afinal, cabe à mulher (e unicamente a ela, já que o homem não é citado) "cuidar dos seus filhos e dedicar-se à educação deles, segundo as diferentes necessidades da sua idade". Não lhe cabe ter objetivos próprios na vida - não foi criada para isso.

Para defender os livros que fundamentam sua organização milenar, que se arvora "perita em humanidade", o sentido de seus textos é violado. A certa altura, por exemplo, a carta força uma interpretação do primeiro desses escritos, sobre a origem dos humanos, que teria sido articulada "na relação do masculino e do feminino". Mas esse texto prioriza nitidamente a criação do homem, dizendo que o criador tirou do homem uma costela e dela "modelou uma mulher".

Os doutos abordam "a diferença corpórea, chamada sexo", que "é minimizada, ao passo que a dimensão estritamente cultural, chamada gênero, é sublinhada ao máximo e considerada primária". Temem que cada pessoa possa "modelar-se a seu gosto". Traem-se, contudo, ao admitir que a "finalidade" da mulher é impedir que o homem "se afunde num confronto estéril, e por fim mortal, apenas consigo mesmo". Incorrem em evidente blasfêmia (considerando seus parâmetros), ao afirmar que só a mulher "dá um futuro à vida do homem".

Um dos autores cita seu líder maior - que, por sinal, se considera infalível e representante vivo do criador - afirmando que a mulher é "um auxiliar" do homem, mas o corrige: "Certamente se trata da companheira da vida, com a qual o homem pode se unir como se une com a esposa, tornando-se com ela uma só carne e abandonando, por isso, o seu pai e a sua mãe ".

Embora a organização tenha sido criada após o sacrifício do filho do criador para salvar a humanidade, a epístola diz que a promessa divina de um Salvador "antes de se cumprir, terá uma longa preparação na história". Reafirma que à mulher cabe ser "a alegria do marido". Num relance de sabedoria, considera que masculino e feminino são "destinados a perdurar além do tempo presente", embora num outro mundo "os homens e as mulheres não se casarão, pois serão como os anjos do céu", conforme teria dito o filho do criador.

Os escribas investem contra "o fato de um certo discurso feminista reivindicar as exigências para ela mesma ", pois o melhor da vida da mulher "é feito de atividades orientadas para o despertar do outro". Referem-se a uma vocação "à virgindade" e que "a maternidade pode encontrar formas de realização plena também onde não há geração física" (embora se oponham à pesquisa genética e métodos reprodutivos que não sejam "geração física").

Mesmo sem constituir família e impedindo que seus pastores (eles gostam de se tratar assim e de chamar os seguidores de "rebanhos") o façam, afirmam que é na família "que, em primeiro lugar, se plasma o rosto de um povo; é nesta onde os seus membros adquirem os ensinamentos fundamentais".

Acreditam exaltar a mulher, dizendo ser típico dela as "disposições de escuta e acolhimento, de humildade, de fidelidade, de louvor e espera". Porém reafirmam, sem dizer o motivo, que a realização dos ritos de sua instituição deve ser "exclusivamente reservada aos homens". A estes cabe "ser modelos e testemunhas insubstituíveis" de como "a Esposa deve responder com amor ao amor do Esposo".

A carta foi apresentada pelo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Card. Ratzinger, e pelo arcebispo titular de Sila Angelo Amato, SDB, ao Sumo Pontífice João Paulo II, que a aprovou e transformou em norma para a Igreja Católica Apostólica Romana.

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