Já havia ouvido falar da Tati Quebra-Barraco. Pelo nome e pelo perfil, achava que fosse uma espécie de Etta James brasileira (afinal, estamos atrasados em quase tudo).
Ontem (acho), deu na tv a cobertura de um show sei lá onde com a participação dela.
Não vou (des)qualificá-la, fisicamente falando, só digo que - ao contrário da opinião dela própria - pareceu-me até bonita, nesse seu jeito tosco para quem todo dia é uma guerra.
O que me deu dó foi outra coisa. Desculpem se falo "dó", quem sou eu para me achar grande coisa.
A garota, como não poderia deixar de ser, canta ou declama rap. O jeitão da coisa não daria mesmo muita liberdade para soltar a voz (e ela parece ter um grito). O choque veio-me com a miséria do que era cantado/declamado, com a miséria dos acompanhamentos, com a miséria da boçalidade que aplaudia.
Cara, ela tem mais é que dar certo, ganhar uma grana, ter uma vida com os três filhos, sair da favela (se é que ainda mora em uma). Comove vê-la progredindo.
Num certo momento do programa, a jornalista pergunta se ela se acha feia. Ela diz que sim. "Mesmo assim, toda produzida?" Ela ainda acha que sim.
Cara, teve uma época em que eu praticamente vivia na rua. Lá, conheci tudo que é tipo. Um deles, ex-guardador de motos, hoje vendedor do jornal Ocas, hoje está prestando vestibular para História. Claro que ele quer progredir na vida. Mas o que eu sinto mesmo é que ele quer se sentir merecedor de algo. Assim deve ser com a Tati Quebra-Barraco.
Li (revista Agulha) que o Gerald Thomas está em NY e que, após o episódio da bunda à mostra no RJ, não quer mais voltar (por enquanto). É difícil a gente se enxergar como povo, mas a superexposição da Quebra-Barraco e o episódio da bunda fazem crer que melhor é a gente ficar em casa mesmo.
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8354; Rodrigo Contrera, 2004.
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