INDIFERENÇA
J.B.Xavier
Se minhas lágrimas correrem tristes
Pelos sulcos sofridos de minha face,
Como as notarás,
Se te distrais com os fogos da paixão
De amores que nada sentem?
Se minhas tristezas transbordarem
Do cadinho de minhas mais sofridas lembranças,
Como as perceberás,
Se vives envolta em alegrias fátuas,
Em sorrisos ao acaso,
Trazidos por amores passageiros?
Se meus lamentos silenciosos,
Espelhados em meus olhos marejados
Insistirem em gritar todas as minhas dores,
Como os acalmarás,
Se teus olhos já não me fitam,
Se tuas expectativas prendem-se aos prazeres
De gelados beijos sem compromisso?
E como perceberás meu soluço,
Quando já nem te aproximas de meu peito?
Como te comoverás com meus silenciosos apelos,
Quando já não tens ouvidos para ouvi-los,
Quando tuas atenções prendem-se
À caminhada sem destino,
A um mundo em desatino
Que, sei, te levará à bancarrota?
Como posso eu guiar tua nau sem rota,
Se sequer sabes aonde desejas chegar?
E que farei quando estiveres em meu pensamento,
Quando ocupares meus momentos de solidão?
Que farei quando minha alma se contrair
Nesse alucinado sentir,
Que faz de ti a minha deusa?
Como sorrirei quando desejar chorar?
E, ao ver alguém que, sorrindo, te abrace,
Como impedirei que as lágrimas rolem
Pelos sulcos sofridos de minha face?
* * *
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