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Artigos-->Solidão -- 19/09/2001 - 13:06 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O que estar só? Ou melhor, o que é estar só no mundo? É possível imaginar que uma pessoa nunca tenha sentido afeto por alguém, ou, ao inverso, nunca ter sentido o afeto de um semelhante? Como deve ser triste o coração que nunca sentiu o calor de um carinho, de um afago, de um elogio!



Será que existe alguém no mundo que nunca amou a ninguém ou nunca despertou o amor de alguém?

Estamos cercados de pessoas por todos os lados. É impossível não ter contato físico com pelo menos uma pessoa. Os seres encarcerados, por exemplo, que tenham uma pena perpétua a cumprir. Eles deixaram o convívio da maioria das pessoas da sociedade onde viviam, contudo, mesmo na prisão, restar-lhes-á um grupo com o qual manterão contato, trocarão idéias, compartilharão experiências, sorrisos e lágrimas.



E os loucos, como se dará no caso deles? Os que são totalmente alienados da realidade, sentem uma solidão profunda, têm consciência dela, ou, por aquele motivo, sequer compreendem que estão abandonados pelos “normais”?



Não será razoável supor que esses loucos, quando conversam com seres ou pessoas que só em sua mente existem, experimentam vividamente uma comunhão, uma relação que os faça se sentir integrados, num relacionamento que lhes dê satisfação mental, gozo espiritual, contentamento emocional? Você já presenciou algum louco tristonho, sentado na calçada, cabisbaixo e com as mãos comprimindo a nuca, como se lamentassem sua condição? Não é verdade que a maioria deles é verborrágica, falante e risonha? A solidão produz isso?



Todos os seres do universo têm seus pares. Aliás, há só um universo? Claro, senão seria um biverso ou um triverso! Nele, porém, as estrelas existem aos milhões, as galáxias às tantas. Na terra, até aqui único planeta considerado habitável e habitado, não há criatura que exista em uma única unidade, sem um que lhe seja semelhante. Desde o começo de tudo, para nós que cremos na Criação, a solidão não era um projeto que tivesse o aval divino. Deus criou o universo, a terra, fê-la habitável, aliás, uma habitação agradabilíssima, pondo à disposição de Adão um jardim com os mais deliciosos frutos, os quais seriam o seu único alimento. Imaginemos a cena: Adão, criatura perfeita, colocado em um jardim paradisíaco, sozinho, sem ninguém com quem compartilhar tanta beleza e fartura. Ele mesmo não gostaria de tanto! Foi-lhe dada uma companheira, e ele não estaria solitário, um grão de areia a vaguear sem rumo. Teria um semelhante, alguém com quem compartilharia toda a alegria de estar num mundo perfeito, sendo os dois, também perfeitos.



Deles vieram os habitantes deste mundo. Dois que originaram os que hoje são bilhões.

O incrível quando indagamos se é possível alguém viver solitário todo o tempo de sua existência é o fato de que não há nenhum homem igual ao outro.



São bilhões de seres e cada um diferente do outro. Coloque-se um do lado do outro. Todos têm dois olhos, duas orelhas, um nariz. Mas o conjunto desses elementos faz cada um diferente do outro de maneira que sabemos perfeitamente distinguir um por um. Fico pensando se víssemos, caso existissem, extraterrestres oriundos de um único ponto do universo, e, como os humanos, eles fossem constituídos fisicamente como nós, não semelhantes a nós na aparência, mas com o mesmo número de olhos, um, dois, três...O mesmo de orelhas, uma, dez. O mesmo de nariz, um, três; nós saberíamos distinguir um por um de todos eles? Não seria o mesmo que olhar pra cinco mil abacaxis?



Apesar dessa ímpar individualidade que caracteriza os seres humanos, numa coisa todos somos estritamente iguais. Não resistimos sozinhos. Não temos condições de estar no mundo como se outros não existissem.



Em primeiro lugar porque nossa auto-afirmação somente ocorre com o concurso de um reconhecimento alheio ao nosso. As pedras, os pássaros, os frutos, eles servem aos homens e só isso. Nenhuma flor fica mais bonita para que outra a inveje. Nenhum pássaro se esforça para cantar mais afinado para que os outros o invejem. Isso é peculiar do homem. Ás vezes uma pedra vale mais que um homem. Se este resolve viver isolado dos demais, a quem ele serve, a si próprio? Estar sem fazer nada, sem dizer nada, é a mais deplorável condição em que pode se encontrar alguém. É nesse caso que uma pedra tem mais valor que um homem: imagine-se jogar uma pessoa numa árvore para derrubar um fruto!



Se eu olhar pra alguém e pensar: que pessoa bonita! Como essa pessoa vai saber que é bonita se eu não lhe declarar? Ou feia, ou inteligente, ou bondosa, ou egoísta? Como eu mesmo saberia como sou, se ninguém me viesse contar?



Em segundo lugar, essa consciência é o único motivo porque não nos destruímos, não nos matamos a nós mesmos. A minha compreensão de mim mesmo é insuficiente para manter meu desejo de estar vivo. Caramba, não posso amar a mim mesmo sem que esse amor tenha sido gerado na medida em que outros me amem! Ninguém odeia a si mesmo. Todavia, posso melhorar muito se alguém me diz: cara, tu precisas ser mais gentil, mais atencioso. Gentil comigo mesmo? Não, com o outro!



Pois bem, qualquer existência só é plena quando admite ser impossível subsistir sozinha. Quem quiser viver na solidão, que viva. Contudo, saiba estar vivendo o mais baixo grau de uma existência. Até as pedras servem pra alguma coisa. Quem busca o isolamento, a solidão compulsória, serve pra quê? Que respondam os solitários...

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