O aumento do consumo de remédios e terapias alternativas está preocupando a Organização Mundial da Saúde (OMS), agência da Organização das Nações Unidas. Ela identificou 3 milhões de casos de efeitos negativos de remédios e terapias alternativas, que vão de acupuntura a ervas medicinais, passando por suplementos alimentares, nos últimos 15 anos. Esses casos são apenas 1% dos casos de complicações geradas pelo consumo desses produtos.
Segundo a OMS, a utilização desses tratamentos precisa ser monitorada para evitar problemas colaterais e até reações fatais, à medida que elas se popularizam em todo o mundo. Foi elaborado um guia sobre como devem ser feitos o consumo e regulamentação dessas práticas. No caso dos remédios, antes de consumidos, deve ser questionada sua qualidade. As terapias devem ser monitoradas por especialistas
Para a OMS, o aumento da procura por essas "alternativas" está levando ao aumento de problemas detectados por médicos. A China registrou 9.854 casos de reações adversas em 2002, mais do que o dobro registrado durante a década de 90. De 142 países pesquisados, 99 informaram que os remédios são vendidos sem receitas. A agência da ONU sugere que as pessoas que ministram terapias alternativas sejam registradas e que essas práticas e remédios sejam incluídos em seguros de saúde.
Os médicos e pesquisadores norte-americanos Stephen Barrett e Victor Herbert denunciam a "empurroterapia". Lembram que uma dieta balanceada proporciona os nutrientes que as pessoas necessitam e que o excesso de peso na população em geral, particularmente os pobres, e a subnutrição entre os muito pobres são problemas graves. Lembram que não é necessário que cada porção de comida que ingerimos esteja repleta de nutrientes. Alguns empurradores de vitaminas sugerem que é difícil ou impossível conseguir o necessário a partir do alimentos. "Esse argumento lembra aquele dos homens que batiam de porta em porta e afirmavam que sua fornalha em perfeito estado apresentava perigo de explodir a menos que você a trocasse por um de seus produtos", afirmam.
Apesar da dieta ser uma das causas em algumas doenças (a mais notável é a doença coronariana), a maioria das doenças tem pouca ou nenhuma relação com a dieta. A astenia (indisposição, mal-estar), fadiga, perda do vigor, dores (incluindo cefaléias) ou aflições, insônia e queixas similares são normalmente reações do corpo ao estresse emocional. A persistência destes sintomas é um sinal para procurar um médico.
Quanto ao processamento alimentar, alguns métodos destroem nutrientes, enquanto outros os adicionam. Uma variedade balanceada de alimentos proporcionará todos os nutrientes necessários. "Os charlatães distorcem e simplificam demais", afirmam os doutores. "Quando dizem que a moagem remove as vitaminas B, não se incomodam em lhe dizer que o enriquecimento as colocam de volta. Quando dizem a você que o cozimento destrói as vitaminas, omitem o fato que somente algumas vitaminas são sensíveis ao calor. Tampouco lhe dirão que estas vitaminas são facilmente obtidas pelo consumo diário de uma porção de vegetais e frutas frescas cruas ou suco de frutas frescas ou congeladas. Qualquer alegação que os sais mineiras são destruídos pelo processamento ou cozimento são puras mentiras. O calor não destrói minerais".
A alegação do risco de "envenenamento" por aditivos e conservantes alimentares comuns objetiva minar a confiança nos cientistas de alimentos. As diminutas quantidades dos aditivos utilizadas nos alimentos não representam nenhuma ameaça à saúde humana e alguns protegem a saúde por impedir que os alimentos se estraguem, apodreçam ou por evitar o crescimento de bolores. Todos os alimentos são alimentos saudáveis em moderação; qualquer alimento é ruim em excesso.
Alegar que as vitaminas "naturais" são melhores que as "sintéticas" é uma completa mentira. Cada vitamina é uma cadeia de átomos unidos formando uma molécula. Com pequenas exceções, as moléculas produzidas nas "fábricas" da natureza são idênticas às produzidas nas fábricas.
Os charlatães gostariam que comprimidos especiais ou combinações de alimentos pudessem levar alguém a perder peso. Mas a única maneira de perder peso é queimar mais calorias do que você ingere. Isso exige auto-disciplina: comer menos, exercitar-se mais ou de preferência fazer os dois. A dieta mais adequada para se perder peso é aquela nutricionalmente balanceada em carboidratos, gorduras e proteínas.
Se alguém diz que o produto X curou o câncer, a artrite ou qualquer outra coisa, na verdade o produto pode nem ter tido efeito e a recuperação aconteceu sem ele. A maioria das doenças crônicas apresentam períodos livres de sintomas. Estabelecer verdades médicas exige investigações cuidadosas e repetidas. Fadigas, dores leves e indisposições podem responder a qualquer preparado recomendado com entusiasmo. Para esses problemas, até mesmo os médicos podem prescrever um placebo — uma substância que não possui nenhum efeito farmacológico sobre a condição para qual está sendo utilizado, mas satisfaz um paciente que supõe estar recebendo um remédio.
A posse de um título acadêmico credenciado não garante confiabilidade. Algumas escolas que ensinam métodos não científicos conseguem credenciamento. Algumas pessoas que passaram por escola médicas, odontológicas ou universidades se desviam do pensamento científico. O treinamento de um cientista não termina no dia da formatura. Educação é tarefa para toda a vida.
