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Artigos-->As mulheres de Gil Vicente -- 25/06/2004 - 09:04 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O texto ora publicado analisa, de forma sucinta, o modo como o mestre Gil Vicente retrata as personagens femininas em suas obras mais significativas. Como em toda sua produção, as ações e falas não definem propriamente um personagem no sentido da individualidade, mas são definidores de tipos, de um conjunto de traços comportamentais a revelar a interpretação que Gil Vicente dá às condições da natureza humana, particularmente das mulheres, no caso presente, que caracterizavam a sociedade portuguesa no séc. XVI.



Muitas foram as personagens femininas nas obras de Gil Vicente. Algumas delas, todavia, são mais significativas que outras, ou melhor, mais reveladoras das contradições existentes em uma sociedade maioritariamente cristã, em cujas paredes, do lado de dentro, exigia-se das mulheres um comportamento exemplar, rígido, de alta moralidade, e do lado de fora, aos homens pouca ou nenhuma exigência havia. Se das mulheres esperava-se uma atitude complacente diante da vida, a partir do que sua única perspectiva era casar, ter filhos, ser uma boa mãe e exemplar esposa, aos homens tudo era permitido, perdoável. Foi para criticar os excessos de conservadorismo dessa sociedade que Gil Vicente, em suas obras, fez a sátira social. E as mulheres vicentinas foram escolhidas como heroínas que iriam lutar contra os rígidos padrões comportamentais vigentes entre os séc. XVI e XVIII em Portugal.



Tanto Constança, a Ama de “O Auto da Índia”, Branca Gil e Moça, de “O Velho da Horta”, e Inês Pereira da “Farsa...”, revelam um tratamento hábil dispensado por Gil Vicente à condição feminina de seu tempo. Hábil porque, à parte de tê-las revelado mulheres sujeitas a paixões que destruíam casamentos, desprezavam corações amantes, deixava entrever que tais paixões não poderiam ser causa da condenação dessas mulheres; tanto mais pelo fato de os homens, segundo Gil Vicente, terem sua parte de culpa nesse comportamento aparentemente condenável das mulheres. O mérito de Gil Vicente não é tanto por ter reproduzido com humor e ironia os vícios e hipocrisias da sociedade portuguesa. Está, fundamentalmente, no fato de ter olhado a mulher com olhos livres de preconceitos ou pre-julgamentos, não retirando delas totalmente o caráter dúbio, em alguma medida preso às imposições das satisfações materiais, porém afirmando que os homens de sua época eram mais condenáveis do que suas esposas e as que queriam desposar, porque exigiam delas o que, minimamente, a elas não queriam dar, ou não poderiam, porque presos aos seus próprios interesses, como no caso dos que se lançaram ao mar em busca do caminho para as Índias, deixando em casa esposas solitárias e solícitas, à mercê do assedio dos que a elas iam oferecer atenção e carinho.



Gil Vicente, assim, retrata com argúcia e genialidade as vicissitudes humanas, não desculpando homens nem mulheres. Fazendo, todavia, um ajuste necessário ao desequilibrado julgamento que a sociedade de seu tempo reservava ao comportamento das mulheres, para declarar em alto e bom som, ainda que satiricamente, que os homens não são mais íntegros que as mulheres, e que estas não são, absolutamente, carentes de um senso crítico para, a partir dele, revelar que podem, sim, questionar o comportamento dos homens e o fato de, historicamente, serem marginalizadas, colocadas à parte das discussões e decisões que afetavam suas próprias vidas. Gil Vicente tem o mérito de deslocar as mulheres das periferias do palco histórico para o centro do tablado, das ações, da decisões. A mulher de Gil Vicente é, tanto quanto o homem, protagonista, e não mero coadjuvante a observar as águas passando por debaixo da ponte, o círculo da vida girando.

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