Por Rodrigo Contrera
O Provão sempre foi para mim uma ficção. Nada de importante, aliás.
Ontem, fazendo estágio para professor, servi de cobaia para colocar ordem em duas salas da Escola Estadual Heloísa Carneiro, no Jabaquara, São Paulo. Dublê de bedel.
Dispusemos em ordem alunos maiores e mais fortes que nós, que reagem aos berros. Controlamos garotos com rostos marcados por facas. Tomamos conta de salas com garotas feias, algumas sujas, todas bem espertas.
Há aqueles que escrevem mal, apenas. Outros capricham em redações também mal escritas. Outros mal conseguem estender-se por cinco ou seis linhas por hora. No limite, até que se dedicam.
Amanhã, estarei lá novamente. Farei papel de dublê de bedel, sem ainda dar aula, para pôr certa ordem na casa, enquanto agüento a zona. Mas, sei lá, pareço sentir-me melhor entre eles. Algo neles diz-me que precisam de mim. Algo em mim diz-lhes que preciso deles.
Só não sei para quê.
Mas não desgosto.
& 8354; Rodrigo Contrera, 2004. |