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Artigos-->Ordem e Progresso ou Tagarelando? -- 10/06/2004 - 00:52 (Fernanda Duclos Carisio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ORDEM E PROGRESSO - Um Dia Completo



São seis horas e quarenta e cinco minutos. Cláudio, diretor da Escola Ordem e Progresso, abre os portões. Os funcionários que trabalham no primeiro horário (de 7hs às 16hs) já estão esperando, com um ar claramente aflito, vêm correndo, José, servente, que embora trabalhe no mesmo horário, sabe que o Dr. Cláudio exige todos no local de trabalho, no mínimo quinze minutos antes do horário. Cláudio cumprimenta secamente e de forma geral a todos e olha com severidade para José. Todos entram e sem muita conversa se dirigem as suas respectivas funções.

Cláudio percorre a escola toda, verificando se tudo está em ordem e vai para a sua sala.

O vigia já está em seu posto, junto ao portão e a secretária, a postos no balcão.

As crianças começam a chegar.

A sala de Cláudio tem janela para a rua e dali, enquanto verifica saldo bancário, contas a pagar e as tarefas do dia, observa o movimento de alunos e funcionários: a que horas cada aluno está chegando, quem está atrasado e quanto, como os funcionários estão recebendo os alunos, se as mães estão apresentando alguma demanda, enfim fiscaliza tudo.

Às sete horas e trinta minutos toca o sinal. Professores a postos reúnem as turmas e se dirigem para as suas salas de aula.

Mais uma vez, Cláudio percorre toda a escola para verificar se todos estão em suas classes e como está correndo a manhã. Os professores, funcionários e até mesmo muitos alunos, embora habituados com essa rotina, mostram alguma tensão. É visível a intenção de observar se todas as normas estão sendo cumpridas, se nada está fugindo do pré-determinado.

O restante do dia, não é diferente. Recreio rigidamente cronometrado. Aula de educação física seguindo a grade de horário de forma a que se realizem sempre no último tempo de aula para – segundo a norma de Cláudio – evitar que os alunos voltem para a sala de aula suados, cansados e sujos. Hora da saída, todos sempre a postos, Cláudio, de seu posto junto à janela de sua sala, controla o horário de saída dos alunos e o comportamento do país e funcionários. Todos sabem, essa é mais uma regra do padrão “Ordem e Progresso”, que não são bem-vindas as rodinhas de conversa de pais junto ao portão, ou conversas com os professores. Qualquer conversa deve ser previamente solicitada à secretária e autorizada pelo diretor.



Vamos ouvir duas mães de alunos da primeira série que recebem seus filhos na porta do prédio onde moram. As crianças chegam em um micro-ônibus da própria escola. Primeiro as clássicas perguntas do tipo “Tudo bem?”, “Como foram hoje na escola?” e depois enquanto as crianças correm na frente, vão entrando no prédio e conversando:

- Sabe, Júlia, eu estou gostando muito dessa escola, Luiz já está lendo e escrevendo muito bem. A disciplina é excelente. Tudo funciona como um reloginho...

- É Márcia, isso é verdade, mais eu não sei se gosto muito de uma escola onde não podemos entrar e onde para falar com a professora das crianças precisamos ter a aprovação do Dr. Cláudio... Sinto no ar sempre uma estranha sensação de muita organização, mais também de muita frieza. Larissa está ficando cada vez mais retraída e dissimulada...

Ouvindo seu nome, Larissa, sete anos, olha para a mãe e comenta:

- Mãe sabe que eu encontrei com a Carolina, sabe, mãe, aquela que estudou comigo no CA e agora está no Tagarelando? Ela também vem para casa de condução e me contou uma porção de coisas que eles conversam e que a tia canta com eles... Mãe, você viu eles podem FALAR na condução...







TAGARELANDO – Um Dia Completo



São seis horas e quarenta e cinco minutos, Lúcia, diretora da escola Tagarelando, chega para mais um dia de trabalho. Eliane, a secretaria já chegou e abriu o portão externo, o servente e alguns outros funcionários também já chegaram. Lúcia entra, cumprimenta a todos e pergunta pelo filho de Eliane que estava com uma dessas viroses malucas, típicas do verão. Abre as portas internas, e percorre o prédio para ver se está tudo em ordem. A secretaria vai para a cantina preparar o primeiro café do dia, antes da cozinheira chegar. Os outros funcionários vão chegando também. Todos passam pela sala de Lúcia para o “bom dia” matinal.

Enquanto verifica o saldo bancário, contas a pagar e tarefas do dia, Lúcia acompanha o movimento de entrada das crianças. A mãe de Felipe, e depois também a de Karina entram um pouco para tirar dúvidas sobre o próximo passeio marcado. Giovanna entra na sala de Lúcia para mostrar um desenho que vez para a “tia”.

Às sete horas e trinta minutos, as turmas do pré-escolar sobem para a aula de educação física, as turmas de primeira a quarta série vai para a sala de aula para as atividades dirigidas. Lúcia vai primeiro até a quadra para acompanhar um pouco da aula de educação física. Depois dá uma olhada nas salas. As turmas se revezam nas aulas de educação física, que acontecem às segundas e quartas. Terças e quintas são as aulas de música e sexta-feira inglês. As atividades são articuladas dentro do planejamento geral, que envolve todos os profissionais na discussão dos projetos e na forma de implementá-los.

Na hora da saída, novamente uma ou outra mãe tem perguntas a fazer. Lúcia procura estar sempre junto ao portão para conversar com as mães ou ouvir as crianças. As professoras entregam pessoalmente as crianças de forma a que, se necessário, possam passar alguma informação de fatos importantes do dia.



Vamos ouvir duas mães de alunos da primeira série que recebem seus filhos na porta do prédio onde moram. As crianças chegam em um micro-ônibus da própria escola. Primeiro as clássicas perguntas do tipo “Tudo bem?”, “Como foram hoje na escola?” e depois enquanto as crianças correm na frente, vão entrando no prédio e conversando:

- Sabe, Cláudia, eu estou gostando muito dessa escola, Carolina vive me pedindo para comprar livrinhos para ela, sempre têm uma novidade para contar. Ela adora as aulas de música. Tudo sempre está funcionando, mais parece tão natural... Sempre temos com quem conversar, tirar dúvidas... Sabe como é, eu só tenho a Carolina e nunca sei bem se estou agindo certo com ela.

- É Tânia, isso é verdade, mais às vezes acho que o Guilherme está ficando muito respondão. Será que a disciplina não deveria ser mais rígida? Afinal de contas limites também são importantes... Conversei com a Lúcia e ela sugeriu marcar uma entrevista com a psicóloga, talvez a chegada do irmãozinho esteja deixando ele meio inseguro....



Ouvindo a palavra mágica – irmãozinho – Guilherme volta correndo.

- Sabe mãe, eu encontrei com o Luiz, ele também vai ter um irmãozinho, mais ele disse que ainda não pode contar isso para ninguém na escola dele porque lá não pode conversar...

- sabe mãe que até no recreio têm “tia” tomando conta e não pode brincar do que quiser...

- E sabe, completa Carolina, a Larissa, que também estuda no colégio do Luiz, disse que não pode falar nada na condução. Por isso é que ela sempre chega dormindo...



Fernanda Carisio - 2003

Texto para pós-graduação em Gestão e Planejamento e Educação - Universidade Cândido Mendes - RJ
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