Usina de Letras
Usina de Letras
280 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62176 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50580)

Humor (20028)

Infantil (5424)

Infanto Juvenil (4756)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Aliança pelo Rio – Tarefa de um sindicato cidadão -- 10/06/2004 - 00:45 (Fernanda Duclos Carisio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
1991 – 29 de maio – depois de muitas peripécias pela vida, nesta data eu iniciei meu primeiro mandato sindical: diretora do Sindicato de Bancários do Rio de Janeiro. Nossa campanha, na época, tinha como diferencial pregar o Sindicato Cidadão, ou seja, uma nova visão de sindicalismo. Isso significava que, além das óbvias discussões sobre aumento salário e melhores condições de trabalho, deveríamos incorporar às nossas preocupações o trabalhador como um ser humano integral que além de emprego e salário precisa de habitação, transporte, saúde, educação, lazer, segurança. Trazíamos para o sindicalismo o verso: (que não sei se já existia na época) “A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte...”.

Mas a troco de quê estou falando sobre isso? Porque foi por acreditar nessa concepção que, além da fazer e distribuir jornais, realizar assembléias e até mesmo algumas greves, eu e outros companheiros, principalmente do Banco do Brasil fomos dos primeiros a atender quando o Betinho exerceu o saudável dever da indignação com os números da fome no Brasil e lançou o movimento Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Contaminada pela mesma indignação e consciente do potencial que o funcionalismo do BB, espalhado pelos quatro cantos do país poderia fazer participei da Coordenação do primeiro Comitê Rio do Movimento, que contrariando todos os prognósticos dos pessimistas, mesmo com a morte do seu idealizador continua a gerar seus frutos.

Já presidente do Sindicato, depois de 94, foi essa mesma consciência de cidadania que continuou a nos levar para caminhos nem sempre freqüentados pelos sindicalistas. Foi o caso do Planejamento Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro, da participação desde a primeira hora (acho que até um pouco antes) da Comissão Municipal do Trabalho, da FASE, do VIVA RIO, das iniciativas de micro-crédito, ou seja, de todos os espaços em que, como bancários e sindicalistas fosse possível contribuir para transformar a realidade da nossa cidade e do país. Digo nós, porque se, fui eu a ocupar os cargos, tive sempre o respaldo e o apoio de meus companheiros no sindicato, nos meus dois mandatos como presidente. Agora, como presidente da Confederação Nacional dos Bancários, continuamos com as mesmas idéias que procuramos difundir para o conjunto dos sindicatos de bancários do país.

Mas mesmo com a responsabilidade de uma organização nacional como a CNB, continuo carioca, morando no Rio, admirando suas belezas e chorando suas mazelas. É isso que explica porque agora diante de uma solicitação do André Urani, companheiro em diversos desses empreendimentos me vi forçada a olhar para trás e repensar essa trajetória sob o ângulo da nossa cidade – o Rio de Janeiro. Essa olhada pelo retrovisor me deixou com um monte de perguntas: tanta gente engajada, tantos projetos, tantas iniciativas porque parece que nada adianta? Ainda olhando pelo retrovisor fui procurar meus arquivos sobre o Planejamento Estratégico, sobre a ação da Cidadania, sobre a Comissão Municipal do Trabalho e o Rio Credi – o nosso Banco do Povo Municipal. Todas ótimas idéias – o Viva Rio continua funcionando a pleno vapor, com excelentes projetos, a FASE também, assim com o IBASE, o CEDAC e tantas outras.

Vejo muita gente dizer que não adianta porque tem cheiro de esmola, porque é preciso ensinar a pescar e não dar o peixe. Só que eu sei que não é assim, ações como alfabetização e formação de jovens em situação de risco, micro-crédito, cooperativismo, primeiro emprego, e outras fazem parte claramente do ensinar a pescar.

Mas como olhar pelo retrovisor não tem limite no tempo, vejo e ouço, porque se trata de um retrovisor sonoro, meu pai (francês e membro da Ação Católica Operária) contar o que disse certa vez a um padre, em plena década de cinqüenta, numa reunião de “socialites” preocupados com os “pobres”, o que eles fariam se esses pobres decidissem descer das favelas e cobrar a sua parte? Não sei se eles entenderam direito o que falava, com forte sotaque francês, aquele rapaz, recém desmobilizado e ainda com as seqüelas do campo de concentração alemão, mas não é isso que estamos assistindo agora? Não adianta falar do Fernandinho Beira Mar ou do Elias Maluco, eles podem ser os mandantes, o problema é que existe um exército disposto a obedecer.... Podemos repisar frases feitas e repetir que a Segunda-feira, 23 de fevereiro, foi uma ação orquestrada, uma reação de bandidos revoltados com a ação policial, podemos acusar o atual governo, podemos acusar o governo passado... Chega de tapar o sol com peneira. O cerco está se fechando e como não existem mais guerras ou epidemias capazes de, como acontecia na Idade Média, reduzir significativamente o chamado excesso populacional que engorda as estatísticas de desemprego, em todo o mundo, o grande capital vêm buscando formas de manter sob controle esse exército de “bárbaros” em potencial. Esse controle está cada vez mais difícil, principalmente nas grandes cidades, porque na verdade, em sua esmagadora maioria, não se tratam de “bárbaros”, mas de trabalhadores, que querem dignidade, respeito, emprego, vida digna, alimentação, moradia, não querem fazer parte do exército de reserva do tráfico, ou seja, de quem for.

O que falta? Não se preocupem não vou cair no recurso fácil de culpar o governo, seja qual for... Não creio que seja tão simples assim. É inegável que um governo seja estadual, municipal ou federal que coloque como prioridade acabar com a fome e gerar emprego e renda pode ajudar, mas continuamos a ver crescerem as falências, em particular das pequenas e médias empresas (as mais capazes de gerar empregos nesse país), é cada vez menor o percentual de trabalhadores com carteira assinada, cada vez mais as máquinas substituem o homem... E o governo sozinho, seja qual for, e por mais bem intencionado e capacitado, não fará milagres.

A olhada no retrovisor me fez constatar mais um detalhe, em todos esses espaços existem pessoas que, como eu, participam de vários deles. Eu costumo dizer que são os que usam vários chapéus... Será que não seria possível articular esses esforços? Será que existe uma Fernanda da CNB, outra do Viva Rio, outra da FASE? Podemos fazer a mesma pergunta ao Antonio Carlos, ou ao Gouveia Vieira, ou ao Carlos Manoel, ou ao companheiro da Maré. No entanto, muitas vezes nem mesmo dentro de nós mesmos, conseguimos articular nossas diferentes funções.

Penso que o Planejamento Estratégico tinha essa perspectiva: juntar todos os que queriam pensar o Rio e propor soluções. Foi tudo para o lixo? Resgatar, atualizar e repensar aquele Planejamento Estratégico, cujo coordenador da época hoje preside o BNDES, e articular todos esses atores talvez fosse o primeiro passo para repensar a nossa cidade. É evidente que o Rio não é uma ilha, mas será que não podemos dar o exemplo? Nós que acreditamos que cidadania também é luta sindical estamos dispostos a fazer a nossa parte. Quem se habilita?



Fernanda Carisio

Presidente da CNB-CUT



Dez Anos Depois: como vai você, Rio de Janeiro? - Revista do IETS – Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade – ano 3 - nº 5 – março 2003



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui