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Artigos-->A felicidade de ser leitor -- 07/06/2004 - 10:15 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É conhecido o distanciamento que os brasileiros têm da leitura e, em especial, dos livros. Distanciamento que se dá por inúmeras razões e pode ser quantificado. A Câmara Brasileira do Livro encomendou a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, que constatou: 61% dos brasileiros adultos alfabetizados têm muito pouco ou nenhum contato com os livros. Dos 17 milhões de pessoas que não gostam de ler livros, 11,5 milhões possuem até oito anos de instrução. A leitura de livros é apreciada por apenas 1/3 da população adulta alfabetizada. Dos nossos 5.560 municípios, 89% não possuem livrarias. Enquanto no Brasil somente 1% da produção editorial destina-se às bibliotecas, nos Estados Unidos 30% dos livros editados são adquiridos pelos acervos públicos - a aquisição de livros pelas bibliotecas norte-americanas é maior do que todo o consumo brasileiro. Segundo o Ministério da Cultura, cerca de 1.300 municípios brasileiros não possuem uma biblioteca pública, embora metade dos livros lidos atualmente não sejam comprados. O Brasil possui 1.500 livrarias - deveriam existir 10 mil.



A situação se agrava: uma outra pesquisa da CBL apurou que em 2003 as vendas de livros aos leitores caíram 8% e 20%, se somadas à queda de vendas também para o governo brasileiro. Os empresários do setor se queixam da perda de poder aquisitivo pela população, da falta de incentivo à educação e da necessidade de construção de bibliotecas.



O vice-presidente da CBL, Bernardo Gurbanov, considera a baixa escolaridade como um dos principais motivos para a situação da leitura no Brasil. "Sem dúvida, precisaríamos ter pelo menos uma biblioteca em cada município. Mas não basta apenas construir, é necessário acrescentar a isso um planejamento voltado para a educação, formação do hábito de leitura e oferta de livros, não só os clássicos, mas os mais atuais e modernos", defende.



No seu livro "Como um romance", o professor francês Daniel Pennac considera que a virtude da leitura "é nos abstrair do mundo para lhe emprestar um sentido". No entanto, "ninguém jamais tem tempo para ler. Nem pequenos, nem adolescentes, nem grandes. A vida é um entrave permanente à leitura".



Paradoxalmente, o argentino Alberto Manguel, em "Uma história da leitura", afirma que "uma sociedade pode existir — existem muitas, de fato — sem escrever, mas nenhuma sociedade pode existir sem ler". E justifica: "Ler as letras de uma página é apenas um de seus muitos disfarces. O astrônomo lendo um mapa de estrelas que não existem mais; o arquiteto japonês lendo a terra sobre a qual será erguida uma casa, de modo a protegê-la das forças malignas; o zoólogo lendo os rastros de animais na floresta; o jogador lendo os gestos do parceiro antes de jogar a carta vencedora; a dançarina lendo as notações do coreógrafo e o público lendo os movimentos da dançarina no palco; o tecelão lendo o desenho intrincado de um tapete sendo tecido; o organista lendo várias linhas musicais simultâneas orquestradas na página; os pais lendo no rosto do bebê sinais de alegria, medo ou admiração; o adivinho chinês lendo as marcas antigas na carapaça de uma tartaruga; o amante lendo cegamente o corpo amado à noite, sob os lençóis; o psiquiatra ajudando os pacientes a ler seus sonhos perturbadores; o pescador havaiano lendo as correntes do oceano ao mergulhar a mão na água; o agricultor lendo o tempo no céu - todos eles compartilham com os leitores de livros a arte de decifrar e traduzir signos".



Nestes tempos em que há uma verdadeira ofensiva contra o ato de ler (é perda de tempo, é chato, é coisa de intelectuais...), ofensiva que coincide com as tentativas de desqualificar (ou chamar de dinossauros) todos os que buscam atuar de maneira consciente para transformar a realidade hostil ao ser humano desta "era globalizada", convém lembrar o desabafo de Karl Marx numa reunião que discutia a necessidade de os operários estudarem as condições em que viviam, para transformá-la para melhor. Esmurrando a mesa, Marx bradou: "A ignorância não ajuda a ninguém!".



Ou, como mais brandamente abordou o tema o professor Pennac, "a questão não é de saber se tenho tempo para ler ou não (tempo que, aliás, ninguém me dará), mas se me ofereço ou não à felicidade de ser leitor".



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