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Artigos-->consciência negra ou consciência humana -- 10/09/2001 - 10:33 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A propósito da CMSR, gostaria de deixar alguns conselhos aos negros. O primeiro é não acreditar que a Lei Afonso Arinos seja a solução para o racismo, pois o desgaste físico, mental e material que um negro sofre indo a uma delegacia denunciar crime de racismo não compensa, haja vista que até hoje no Brasil ninguém permaneceu foi preso (mesmo sendo um crime inafiançável) ou teve que pagar uma altíssima soma por conta de ter discriminado um negro.



Creio qua a ampla divulgação do racismo, identificando e revelando quem são os racistas é uma excelente arma para destruir a falsa democracia racial no Brasil. Aos que criticarem esse conselho, por considerá-lo uma afronta à consciência negra em sua busca por justiça e igualdade social, eu respondo: o próprio fato de os grupos de defesa dos negros lutarem por estabelecer que existe uma “consciência negra” não é em si mesmo uma prova de discriminação às avessas? Por que o adjetivo “negra” dá a nítida impressão que os interesses mais agudos dos negros são de uma natureza oposta, contrária em extremo, aos da “consciência branca”? Não seria melhor lutar por uma consciência humana? A discriminação pela cor é apenas parte de uma outra cujo espectro é muito mais amplo, ainda que, contraditoriamente, restrito a um único aspecto, ou melhor, por ele definido: a riqueza ou a pobreza.



Desde os tempos remotos, a posse de bens materiais (vindo a reboque tudo o que propiciavam) era o elemento de distinção entre as classes. Os escravos de todos os tempos, desde a antigo Egito até os dias da colonização do Novo Mundo não tinham na cor, mas na condição social (aqui entendida como muito mais ampla do que a simples situação econômica como também aquela definida pelo resultado das guerras, no caso das conquistas romanas e das lutas tribais na África, e outros fatores diversos desses primeiros, como no caso dos hebreus) aquilo que os distinguia como tais. Os egípcios fizeram de escravos os hebreus por determinação divina; os romanos fizeram seus escravos homens pertencentes aos povos que conquistavam nas guerras; e as grandes nações da modernidade tomaram como escravos os negros das tribos africanas derrotadas nas guerras travadas nesse continente, vendidos aos “conquistadores” a preço de banana pelas tribos vencedoras.



Outro conselho que deixo aos negros é que entendam que a nossa discriminação é fruto de um processo histórico e não uma decisão formal, decidida num dado momento por um grupo de pessoas que nos escolheram como a escória do mundo e assim resolveram nos tratar pelo resto dos anos até a consumação dos tempos.



No caso particular do Brasil, as condições em que foi sancionada a “Lei Áurea”, as circunstâncias nas quais os escravos foram considerados “livres” somente poderiam resultar no quadro que hoje se vê no Brasil. Havia milhões de escravos. Havia uma sociedade na qual o papel deles era perfeitamente definido. De repente, eis que são libertados, e em tese considerados aptos a viver como pessoas em igualdade de condições com as demais.



Acontece que a tese era falsa, pois a configuração da sociedade brasileira não permitia que os negros, saídos de uma situação de extrema limitação, pela qual não poderiam, minimamente que fosse, salvo as raríssimas exceções, adquirir qualquer conhecimento ou instrução, tivessem como buscar condições de vida melhores do que as que os caracterizam enquanto escravos. Em outras palavras, os negros saídos da escravidão não tinham os meios pelos quais se “encaixar” social ou economicamente naquele contexto histórico pós-libertação. Eram livres formalmente, contudo continuavam presos às mesmas limitações da vida em escravidão, o que os levou à perpetuação da discriminação a que eram submetidos, com a diferença de que, na escravidão, seus filhos recebiam como herança o status de escravos, e no decurso dos anos -- ainda que o número de negros “encaixados” na vida econômica, política e social tenha aumentado pela impossibilidade de negar que a força de vontade de um homem o leve a superar seus limites -- a herança que os negros legam aos filhos ainda é a esperança que a educação, o acesso à cultura, a luta contra a discriminação de forma consciente, levem-nos a viver livres da discriminação. É uma jornada longa e dolorosa; quem sabe um dia - utopia?- cheguemos em um estágio no qual a democracia racial seja uma verdade vivida e não uma mentira enrustida como a que hoje se alardeia no país.



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