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Artigos-->O NOME DO JOGO - Parte 1 -- 07/09/2001 - 18:17 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O NOME DO JOGO

J.B.Xavier





Há alguns anos, reunimos num resort, no interior de São Paulo, um grupo de empresários que buscava saber o que significava o nome do curso no qual se inscreveram, que – não por coincidência – era o mesmo deste artigo.



Estavam presentes alguns dos maiores empresários do país, executivos de alcance internacional, professores universitários, alguns cientistas e um único político. Como se vê, um público bem heterogêneo, composto por representantes das várias camadas da elite da sociedade brasileira. Uma curiosidade: Não havia no grupo uma única mulher.



Na madrugada do dia do início do curso, que tinha previsão para durar três dias em imersão total, acordei os cursandos, sem aviso prévio, por volta das quatro horas da manhã e convidei a todos para uma partida de futebol society na quadra do hotel que havia sido colocada à nossa disposição.



Era um dia frio de inverno e a neblina baixa não ajudava em nada o estado de ânimo daqueles que se dispuseram a jogar a tal “pelada”. A adesão não foi total, porque a tal partida de futebol não constava do programa do curso e menos ainda avisava que seria efetuada pela madrugada. Aqueles que não aderiram à brincadeira, foram reembolsados do valor que pagaram no curso e dispensados sumariamente de assisti-lo.



Dos trinta e sete inscritos apenas três, felizmente, não concordaram com o tal futebol. O restante deles foi, ainda que recalcitrante, caminhando sonolentamente para uma quadra de cimento gelado, em cujas grades do alambrado, o vento gemia, como a queixar-se de ser perturbado àquela hora da madrugada.



A partida começou sob o meu comando, pois era eu o juiz. Dividimos o grupo o mais equanimemente que conseguimos, tendo o cuidado de manter em cada equipe aproximadamente a mesma soma das idades de seus componentes.



Foi uma cena dantesca, porque muitos não foram ao curso preparados para a eventualidade de terem que praticar esportes, e assim, desceram para a quadra com o que dispunham: Alguns com camisetas compridas por sobre as cuecas, outros descalços, outros calçados apenas com meias, mas todos não escondiam um certo mal-estar por terem que se expor a uma situação algo ridícula. Muitas reclamações surgiram, muitos resmungões protestaram – afinal alguns deles detinham os maiores salários do país – até que o jogo começou a criar consistência e volume, dando a impressão que os jogadores começavam a se entender em quadra. Tive o cuidado de manter muitos “jogadores” na reserva, porque muitos deles não conseguiam correr mais que cinco minutos . Além disso, eu tinha também que pensar nos mais idosos – havia dois empresários na faixa dos setenta anos – mas que, ao contrário do que eu esperava, não eram os mais revoltados com a situação.



Quando tudo parecia ir bem, com os jogadores finalmente se entendendo no jogo, eu atirei mais uma bola na quadra e lhes disse:

- Vocês já estão bons nisso! Vamos tentar jogar com duas bolas!

A confusão que se estabeleceu é difícil de descrever. Alguns, que estavam jogando para valer, ficaram indignados com o que classificaram como “avacalhação” de minha parte, outros simplesmente pararam, desanimados e desorientados, com as mãos na cintura, certamente conjeturando se deveriam ou não, subir para seus quartos. Outros ainda, jogavam com as duas bolas, chutando-as de qualquer maneira, para o campo adversário.



Finalmente, quando o mau-humor de alguns chegou ao limite, fazendo-os abandonar a quadra e ficarem emburrados num canto do alambrado, joguei uma terceira bola, e, apesar da confusão estabelecida ainda houve quem tentasse fazer gol.



Nessa altura da noite, não havia mais como controlar os ânimos e após muitos deles terem debandado, provavelmente maldizendo a hora em que resolveram participar desse curso, resolvi encerrar a brincadeira, combinando com todos que o início do curso se daria em quarenta minutos, portando, antes ainda de o dia amanhecer. Diante disso, pude ouvir as lamentações veladas e o menear de cabeças decepcionadas com o transcorrer das coisas. Entretanto, todos eram livres para irem embora, caso em que seriam inteiramente ressarcidos financeiramente.



De qualquer forma, quarenta minutos depois lá estávamos nós na sala do curso. Um pouco cansados, é verdade, mas restaurados por um banho quente e despertos para o que desse e viesse.



O que eu disse a esses senhores na ocasião, comentarei mais adiante, oportunamente.



* * *



Tome-se o 7 de setembro, a data maior do patriotismo nacional brasileiro. 8 entre dez brasileiro considera piegas datas como essa, e mal se lembram do que ela significa.



Tenho recebido alguns artigos de escritores vários – alguns aqui mesmo da Usina, e outros de várias fontes - versando sobre a situação atual do Brasil. Alguns escrevem apaixonadamente sobre o tema, outros o fazem desanimadamente e outros ainda satiricamente, fazendo graça com a situação de todo um povo. Entretanto, pelo que pude observar, todos têm um ponto em comum: estão equivocados, a despeito do grau de inteligência que detêm.



Não me lembro da última vez que ouvi, li ou vi algum elogio ao Brasil em conversas de bares ou de rua. Se o assunto é o Brasil, então a conversa gira sobre críticas severas, geralmente ao Executivo, o Presidente da República.



Fico surpreso ao constatar que pessoas esclarecidas, que escrevem, que emitem opiniões, que lançam suas idéias para que os outros as conheçam, o façam sem conhecimento de causa, levados apenas pela emoção, apressadamente, apaixonadamente.



Essa crítica apressada, que outra coisa não é senão um desabafo, carece, na maioria das vezes, de fundamento, e mais confunde que ajuda a elevar o moral do país.



Vejamos o recente caso do seqüestro de Sílvio Santos. Antes mesmo que o evento se encerrasse, enquanto o país ainda quedava estupefato diante dos aparelhos de TV, eu já estava recebendo artigos de colunistas e pseudo-humanistas atribuindo o fato à “baderna generalizada” que assola o país, por conta do mau governante que temos.



Ora! É inimaginável pensar que o Poder Executivo é o responsável por todas as mazelas do país. Quem afirma isso – e pior, quem escreve isso - demonstra uma ignorância profunda dos mecanismos que norteiam o próprio sistema governamental em que vivem: Uma República Democrática.



Nunca é demais lembrar que democracia e república, embora pressuponham poder emanando do povo, não são sinônimos. Podem até vir a ser, mas, se questionados sobre o tema, nove entre dez brasileiros não será capaz de estabelecer a diferença entre um sistema e outro. Muitos não saberão sequer sob qual sistema vivem, como demonstrou o plebiscito feito há alguns anos para escolha do sistema de governo desejado pelo povo.



Democracia (do grego demos, "povo" e kratein, "governar"), é o sistema político pelo qual as pessoas de um país exercem sua soberania mediante a forma de governo que tenham decidido estabelecer. Nas democracias modernas, a autoridade suprema é exercida em sua maior parte pelos representantes eleitos pelo voto popular em reconhecimento da soberania nacional. E agora o importante: Esses representantes podem ser substituídos pelo eleitorado de acordo com os procedimentos legais.



A república é forma de Estado baseada no conceito de que a soberania reside no povo, que delega o poder de governar em seu nome a um grupo de representantes e eleitos.



Então, é importante diferenciar república de democracia. No estado republicano teórico, no qual o governo se converte em porta-voz dos desejos do povo que o elegeu, república e democracia podem ser dois conceitos idênticos. Até as monarquias podem ser democráticas.



Mas as repúblicas históricas, por outro lado, nunca se ajustaram a um modelo teórico e, no século XX, o termo “república” é utilizado por ditaduras, Estados de partido único e democracias. Na realidade, democracia e república passaram a significar qualquer forma de Estado dirigida por um presidente ou outra figura de título semelhante, que não seja um monarca.



A democracias, tal como as repúblicas, geralmente se assentam em três poderes – o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, e pensar que somente o Executivo é a causa de todas as mazelas de um país, é no mínimo, ingenuidade, para não dizer desconhecimento e ignorância dos sistemas democráticos em si.



Este sistema de três poderes remonta à Platão, que em sua obra a “A República” apresenta um estado ideal. Platão construiu sua república a partir do que considerava os elementos básicos ou característicos da alma humana:

1- O apetite

2- A razão

3- O ânimo.



Segundo ele, uma república seria composta por três grupos diferenciados: uma classe comercial (o apetite), uma classe executiva (a razão) e, por último, os guardiões ou reis-filósofos (o ânimo).



Este estado de ânimo pachorrento que se instalou no Brasil, é em parte – talvez em grande parte – o resultado de uma visão distorcida das realidades brasileiras.



Ouço uma constante grita contra o imperialismo americano, mas não ouço ninguém gritar o imperialismo japonês ou chinês, canadense ou alemão, por exemplo, que nos impõe produtos, idéias e serviços, tanto quanto os americanos.



A Alemanha colocou a raça humana em cheque duas vezes numa só metade de um único século! Devemos odiá-la por isso? Como odiar um país que deu ao mundo um Einsten, um Von Braun, ou um Beethoven e um Goethe? Hoje a Alemanha possui um dos povos mais aguerridos do mundo, e mesmo tendo absorvido um país inteiro – a Alemanha Oriental – ainda esbanja saúde e poder.



A China nos invade com seus produtos de preços ridiculamente baixos, impossíveis de serem acompanhados por similares nacionais, por conta da abundância de mão-de-obra que possui. Devemos odiá-la por isso? Como odiar um país que nos deu Lao Tse, Confúcio e uma cultura riquíssima . Hoje a China está se abrindo ao mundo lenta, mas inexoravelmente, e melhorando seu nível de vida. E ela sequer é uma democracia!



O Canadá nos deu uma pequena demonstração, há meses atrás, no episódio da “carne contaminada” do poder de influência sobre o mundo. Devemos odiá-lo por isso? Como odiar um país que, mesmo tendo 34% do seus habitantes de origem britânica e 28% de origem francesa, e mesmo convivendo com dois idiomas em suas fronteiras - fora as minorias, que mantém seus grupos lingüísticos - ainda encontra meios de se projetar no cenário internacional como um dos países mais industrializados do mundo?



Os japoneses nos enfiam goela abaixo sistemas de administração que anos depois estão ultrapassados, e os brasileiros nem sabem que um dos maiores executivos em atividade atualmente no Japão, é brasileiro. Não é nissei ou sansei. É brasileiro da cepa, descendente de portugueses. Devemos odiá-lo por isso? Como odiar um país que fez das próprias cinzas a argamassa para sua reconstrução? Que nos deu um Toshiro Mifune, um Akira Kurosawa, e que apesar de ainda possuir um imperador, este é mais amado que o primeiro ministro? Dirão alguns a reconstrução japonesa foi feita com o dinheiro do plano Marshall, que, no pós guerra, reconstruiu não apenas o Japão, mas a própria Alemanha e a Europa como um todo!



É bom lembrar que o plano Marshall, foi um programa norte-americano de ajuda financeira para a reconstrução dos países europeus devastados durante a II Guerra Mundial. O European Recovery Program, mais conhecido como Plano Marshall, foi elaborado pelo secretário de estado George Catlett Marshall. O Congresso norte-americano aprovou uma ajuda de mais de 13 milhões de dólares – uma quantia impensável, à época - que, em grande parte, foi destinado à Grã-Bretanha, França, Itália e Alemanha Ocidental através da Organização Européia para a Cooperação Econômica.



Não há intelectual brasileiro que não concorde que somos o quintal dos americanos, que nossa sociedade está cada vez mais americanizada e que, se continuar assim, acabaremos por perder nossa identidade. Eles se esquecem que as sociedades humanas são, por definição, dinâmicas, influenciam-se umas às outras, alterando culturas, arejando mentalidades e abrindo portas paras novos progressos. Todas as sociedades que fecharam-se sobre si mesmas, hoje são história. O risco de fato é maior para as culturas dominantes que para a dominadas, porque enquanto estas estão em processo de mudança, aquelas estagnam-se e envelhecem.



FIM DA PRIMEIRA PARTE.

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