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Artigos-->evangélicos, votem no Lula! -- 03/09/2001 - 12:01 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há algum tempo as maiores denominações evangélicas brasileiras têm tomado uma postura até então inédita na política: a de apoiar ostensivamente um candidato para elegê-lo a algum cargo; desde que, o que é muito natural, esse candidato seja um evangélico membro da denominação cujo apoio pleiteia. Dentre as denominações evangélicas a Igreja Universal do Reino de Deus tem se mostrado a mais empenhada e melhor organizada politicamente.



Para as eleições de 2002 o governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, evangélico da Igreja Presbiteriana, surge como o candidato a Presidência da República cujo discurso tem tentado mobilizar a opinião e o posterior voto dos evangélicos brasileiros em favor de sua candidatura.



A questão do envolvimento das igrejas evangélicas com a política tem gerado confusão entre as correntes do evangelicalismo nacional, com duas posições antagônicas.



A primeira favorável à ampla participação das igrejas evangélicas na política como instrumento eficaz na defesa de seus interesses. Segundo esse entendimento, somente políticos evangélicos podem defender as causas evangélicas. O grande equívoco dessa posição é que os líderes que defendem a participação direta das igrejas na política não conseguem convencer aos cristãos mais críticos que os tais interesses evangélicos têm a ver com a missão da Igreja no mundo, e não com os interesses particulares das denominações de onde saem os candidatos. A participação prática de alguns políticos evangélicos nas casas legislativas, quando é para atender pedidos de igrejas evangélicas, tem mostrado que esses interesses vão de uma simples liberação de um ônibus para uma programação qualquer à concessão de emissoras de rádio e tv. Há outros políticos evangélicos que, quando eleitos, deixam evidente que seus projetos beiram o risível, como por exemplo estabelecer que se leia uma passagem bíblica antes das sessões ou que se denomine um logradouro público do tipo “praça da Bíblia”, etc.



No lado oposto estão os líderes evangélicos que defendem a participação indireta das igrejas na política pela militância individual de um cristão. Qual a diferença entre um pastor ser eleito vereador, deputado ou governador, e um membro qualquer apenas miltar politicamente ou exercer um cargo eletivo? A diferença é que, no primeiro caso, pela participação de pastores na política, alguns largando o ministério pastoral ou comprometendo-o grandemente pela escassez do tempo a ser empregado no estudo na Palavra de Deus, eles confundem a missão primordial da Igreja, que é a pregação do Evangelho. Não se pode admitir que um ministro evangélico, vocacionado por Deus para a pregação da Palavra, troque o púlpito de sua igreja pela tribuna das assembléias legislativas ou mesmo por um cargo executivo. Imaginem um dos apóstolos de Cristo aceitando um cargo de senador em Roma, ou o próprio Senhor aceitando ser Rei (no mesmo sentido em que era o César)!!!



Já um simples membro, no papel de um político, não estará representando esta ou aquela denominação ou mesmo a Igreja no sentido orgânico. Ele estará nas assembléias políticas na mesma condição em que se encontra um advogado crente, um comerciante crente, um médico crente, no exercício de suas profissões: como a luz do mundo e o sal da terra. Estará ali para testemunhar de Cristo através de seus atos e palavras. Seu comportamento ético em defesa dos valores cristãos, o que significa, no sentido político, lutar por melhores condições de vida dos pobres do país, justiça e igualdade social entre as pessoas. A verdadeira fé não se revela na defesa dos órfãos e das viúvas?



Na defesa daquele primeiro posicionamento, há o argumento segundo o qual o evangelho não se resume às necessidades espirituais dos homens, tendo que atender também àquelas de natureza material. É o evangelho total para a totalidade humana. A Igreja deve oferecer conforto para a alma, quando anuncia que em Cristo um homem pode encontrar pleno perdão para os pecados e uma salvação eterna; porém, não pode se esquecer de que o próprio Salvador pediu que seus discípulos dessem de comer a quem tem fome, e comida no sentido material. O problema desse argumento é que ele põe no mesmo plano de importância e prioridade as necessidades espirituais e materiais, esquecendo-se os seus defensores que, apesar das recomendações de Jesus quanto ao dar o pão material, Ele mesmo advertiu os fariseus contra o perigo de se priorizar o corpo em detrimento da alma: o diabo pode arruinar o corpo humano, todavia, Deus, no juízo final, pode mandar uma alma para o castigo eterno se a mesma não tiver sido comprada pelo sangue de Cristo.



Com base nesse equívoco, os líderes evangélicos assumem uma postura contraditória: ao passo em que defendem a participação direta da Igreja na política pela certeza de que sua missão não deve se restringir à pregação da salvação - ainda que seja prioritária, como também se comprometer com a ação social, a luta pela justiça e igualdade social - os políticos evangélicos, quando eleitos, agem contrariamente às razões que, a princípio, os motivaram: pouco fazem pela igualdade social, pela justiça e pela cidadania, restringindo sua atuação política a ações muitas vezes indignas do evangelho, por mero oportunismo político, ou, nome mais apropriado, fisiologismo.



Alguns dos políticos-pastores evangélicos sempre votam ideologicamente com a chamada “direita”, ou seja, a coalizão partidária que dá sustentação política ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, nem que tais posições indiquem uma postura que enseja grave suspeita sobre suas condutas éticas. Caso exemplar foi o apoio que esses líderes evangélicos deram ao governo de FHC ao se negarem a assinar a CPI da corrupção; um deles, o deputado federal Josué Bengtson, foi além, tendo assinado a CPI e depois retirado, sob a pressão do “rolo compressor” do governo, cuja estratégia não teve outra arma, à falta de argumentos sólidos que justificassem seu medo da CPI, foi a liberação de verbas orçamentárias para atender as exigências “das bases” desses parlamentares.



É raro o fato de um político de “esquerda” ser também evangélico. A explicação para a escassez da combinação “crente-petista-socialista-comunista” se deve à visão tradicional que as igrejas, principalmente as neo-pentecostais, mantêm ainda hoje em relação ao socialismo. Todos se lembram de que uma das principais mentiras da empreitada anti-Lula nas eleições de 1989, era que ele, ao ser eleito presidente, iria fechar as igrejas evangélicas. Um ponto interessante nesse episódio é que a repercussão dessa mentira foi tão grande que os evangélicos imeditamente associaram o nome de Lula ao do diabo, e a cor vermelha a tudo o que de ruim existe, inclusive o inferno e capa interna da vestimenta do capeta no imaginário popular. A partir de então, qualquer alusão aos termos “PT”, “socialismo”, “comunismo”, “esquerda”, logo leva o evangélico mais ingênuo a elaborar conceitos negativos sobre os políticos da chamada esquerda; essa histeria chegou a níveis tão alarmantes que em Belém nas últimas eleições para prefeito vários pastores disseram que os fiéis não poderiam votar no candidato do PT porque ele era do “diabo”, esquecendo-se esses líderes inconseqüentes que a própria Bíblia afirma que toda a autoridade provém de Deus e que os cristãos devem honrar seus governantes e orar por eles, para que façam um governo de paz e justiça, ressalvando nas entrelinhas que tal honra é diretamente proporcional ao respeito que tais governantes demonstram aos princípios bíblicos, não necessariamente imprescindíveis em sua vida pessoal mas indispensáveis em sua conduta política.



É claro que os olhos do cristão não podem estar fechados para a conduta pessoal do governante. Veja-se o casa da prefeita Marta Suplicy. O fato de ela ter largado o marido por um outro homem deve ser motivo para que um crente paulista deixe de votar nela em outras eleições? O fato é condenável sob o ponto de vista do cristão; contudo, em não havendo reflexo em sua gestão como prefeita, ou melhor, se nenhum de seus atos enquanto governante da cidade for considerado condenável do ponto de vista do crente, ele deve deixar de honrá-la e orar por ela? Ele a elegeu para ser uma excelente governante e também uma exemplar mãe, esposa ou em qualquer outra esfera de sua vida privada?



Fossem os atos da vida privada impedimentos para que um cristão deixasse de votar nesse ou naquele político, o próprio presidente deveria sofrer sanções, pois é sabido que ele teve um caso extraconjugal com uma jornalista, do qual veio a nascer um filho. É óbvio também que o critério daquilo que pode ser condenável ou não na conduta privada de um político não deve ficar a cargo da consciência de cada cristão no tocante ao grau da gravidade do ato e da posterior resposta que ele suscite. Por exemplo, muitas mulheres cristãs possivelmente achem que Marta Suplicy, ao largar o marido por um outro homem, apenas assumiu publicamente um fracasso no casamento até então mantido em sigilo por conveniência política ou por mera aparência - ela o sabe. Afinal, para que continuar vivendo com alguém a quem não mais se ama? O corporativismo feminino pode levar as mulheres cristãs a essa defesa arriscada de um comportamento condenado pela Bíblia. Nos homens o episódio possivelmente crie um sentimento oposto, de condenação tácita da prefeita e defesa da honra do marido abandonado.



Tal defesa, ainda que devida ao sentimento de solidariedade em face do papel de oprimidas em que vivem milhões de mulheres do Brasil e no mundo, aconteceria também se ao invés de ter deixado o marido a prefeita Marta tivesse desviado do INSS milhões de reais, como fez a advogada Georgina de Freitas? Creio que não. Portanto, quando a Bíblia diz que toda a autoridade provém de Deus, ela quer deixar claro que os critérios de escolha de um governante não podem ter como referência principal nem sua conduta privada nem sua convicção ideológica ou mesmo sua crença.



Fernando Henrique Cardoso é ateu, traiu a esposa e foi eleito duas vezes presidente do Brasil, contando com os votos de milhões de evangélicos. Como explicar esse fato? Explica-se pela soberania de Deus. É Ele quem move o coração do príncipe, diz o livro de Provérbios. Ele permite que governem sobre o povo homens de toda estatura moral, alguns sem nenhuma, outros altamente; permite que homens que O desconhecem comandem o destino dos povos. E em tudo há um propósito.



Sabendo que um político deve atender aos anseios de toda a população - saúde, educação, segurança, enfim, cidadania, cabe aos líderes evangélicos compreender a vontade e o propósito de Deus em relação à política, tendo em mente que quando Cristo disse: “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, outra coisa não quis afirmar senão que a natureza dos interesses materiais dos homens não pode ser confundida com a natureza daquilo que suas almas anseiam, e que o Reino de Cristo não é neste mundo.



O dia em que o entendimento de que um pastor pode ocupar as tribunas políticas para defender o Evangelho prevalecer, também prevalecerá a certeza de que um político pode subir no púlpito para falar aos fiéis sobre os projetos de lei que ele apresentou nas assembléias legislativas. Isso muitos evangélicos rejeitam, mas parece ser a direção que muitas igrejas evangélicas estão tomando. E ruim para a política e pior para o Evangelho.



p.s para a devida coerência entre o título do artigo e o texto, peço que os evangélicos do Brasil votem no Lula!

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