Sou grato ao site Usina de Letras por me ter acolhido sem nenhuma formalidade ou protocolo de credenciamento. Através dele, cheguei às mais insondáveis latitudes e multifários públicos. Por vezes, surpreendi-me com o número de leitores que pousaram seus olhos sobre os meus textos.
Escrevo tão-somente por diletantismo. Evito o hábito. Contenho a pressão obsedante das idéias que alagam o pensamento. Não persigo sucesso, carreira nem galardões. Atenho-me à naturalidade do existir e ao existir que se naturaliza.
Não sei quanto tempo sobrevivo por aqui. Sinto-me como o doente terminal que tem a vida orçada para morrer no espaço de alguns meses ou dias, e que pode morrer em horas.
O cenário é de jogo. Sou compelido a jogar para não ser jogado. Não o jogo casual, amador, de fazer o tempo passar. Meu contendor lança-me na categoria de um “hardcore gamer”. Sem que eu peça ou manifeste disposição, impõe-me mudanças de fases, seguidas de graus de dificuldades crescentes, exigências de pontuações standards ou...game over.
Primeiro, substituíram o formato original que nos reservava o privilégio de, por algum tempo, figurar na home page logo que os textos acabavam de ser inseridos. Éramos empurrados para baixo somente pelo fluxo dos novos trabalhos.
Depois, zeraram o contador de leituras para os que não cederam aos apelos de pagamentos periódicos. Imagino que os autores que não aderiram aos novos produtos – vitrine e destaques – começaram a gerar constrangimentos para os que se filiaram ao esquema mercadológico. De fato, seria inadmissível que os últimos exibissem número menor de leituras que os primeiros. Hoje a fórmula é esta: “contador disponível só para assinantes”, leia-se, só para pagantes.
Por fim, – e a julgar pelo encadeamento das ações –, não tardará que procedam à retirada de todos os escritos dos não pagantes. A tendência parece inexorável. Será necessário consultar o oráculo?
Repudio a tese de pagar para existir e ser bem-visto ou bem-vindo.
Resisitirei serenamente aos ataques que desvirtuarem a concepção original deste site, de acesso amplo, geral e irrestrito às páginas. Funcionava bem. Sem garantias ou promessas, a sustentabilidade dos participantes era construída a duras penas e penadas.
Se forçado a ser alguém para aparecer desse jeito, prefiro ficar ninguém, no recolhimento dos meus princípios. No desprendimento do meu lugar.
Marco Aurélio B. Piscitelli
marcopiscitelli@bol.com.br