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Artigos-->A tristeza de se saber mulher -- 08/03/2004 - 11:37 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A mulher tem "uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher", escreveu Vinícius de Moraes. Responsabilizada pela existência do pecado, mais do que dar à luz seus filhos "entre dores", a mulher foi condenada à paixão que a arrastará "para o marido, e ele a dominará", segundo a condenação de Javé Deus em Gênesis (3: 16). O castigo foi reafirmado no Novo Testamento, onde Paulo vitupera: "Que as mulheres fiquem caladas nas assembléias, como se faz em todas as igrejas dos cristãos, pois não lhes é permitido tomar a palavra. Devem ficar submissas, como diz também a Lei. Se desejam instruir-se sobre algum ponto, perguntem aos maridos em casa; não é conveniente que a mulher fale nas assembléias" (1 Coríntios, 14:34-35). Fiel a esses dogmas, a Igreja Católica não admite mulheres como papisas ou celebrantes da missa. Não é melhor a sorte feminina no Alcorão, Sura 4.34: "Os homens têm autoridade sobre as mulheres porque Alá fez uns superiores às outras".

No estudo "Gênero e pobreza no Brasil", de janeiro de 2004, a doutora Hildete Pereira de Melo, docente da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense, constatou que as brasileiras "realizam uma gama enorme de atividades não remuneradas, seja no âmbito mercantil, seja no seio da família, pela dedicação às atividades do lar que as fazem serem majoritariamente dependentes da provisão masculina para o sustento de suas famílias".

Assim não é fácil! Um homem, nessas circunstâncias, sentiria tristeza "de se saber" homem.

Mulheres continuam preteridas, no trabalho, a cargos de chefia e seus rendimentos são menores que o dos homens — situação agravada se forem negras. Integram os segmentos menos organizados da atividade econômica e são as principais vítimas dos contratos informais, além de mais expostas ao desemprego e salários aviltados.

As brasileiras vivem mais e são bem mais pobres que os brasileiros. As trabalhadoras concentram-se nas atividades do setor de serviços (80% são professoras, atuam nos serviços de saúde, são comerciarias, cabeleireiras, manicures, funcionárias públicas). O contingente mais importante está no serviço doméstico remunerado e são negras cerca de 56% das domésticas.

Resolutas e perseverantes, "as mulheres incorporaram à própria feminilidade algumas características bem esotéricas", afirmam Ana Luiza Barbosa de Oliveira e Widson Porto Reis, que pertencem ao Projeto Ockham. "As mulheres são aquelas criaturas sensíveis dotadas de um sexto sentido e de intuição agudizada. E normalmente são as mães, e não os pais, as que se atribuem o poder sobrenatural de pressentir o que acontece a seus filhos. É verdade que certas diferenças no modo de pensar e atuar das mulheres podem ser compreendidas como características adquiridas ao longo da nossa evolução. Especula-se que, enquanto os homens, saindo para caçar, desenvolveram a orientação espacial e a coragem frente ao perigo, as mulheres, para proteger sua prole e a si mesmas, precisavam prestar atenção às alterações sutis de ambiente (odores, ruídos e movimentos) que poderiam indicar a presença de predadores. Talvez, isto tenha desenvolvido nas mulheres uma forma diferente de percepção dos fatos cotidianos. Esta genuína sensibilidade feminina de alguma maneira se transformou no mito moderno de que as mulheres têm um vínculo mais forte com o transcendental".

Imbuídas de combatividade, estas amaldiçoadas bíblicas se envolvem nas lutas cotidianas, constroem a história e, fugindo à praga de serem dominadas pelos maridos, elaboram e falam em assembléias ou onde mais puder (e não puder), ocupam espaços nos meios de comunicação, exercem atividades artísticas, operam nas mais variadas profissões, contribuem e partilham a luta de seus pais, companheiros, maridos, filhos por uma sociedade sem opressão social ou de gênero. Nestes tempos bicudos, em que as perspectivas humanistas são varridas do horizonte por uma sociedade individualista, elitista e machista, maior ainda a importância da presença, do descortino, da contumácia feminina para a construção do novo e a concretização da justiça social e política.

As Marias-Marias, solidárias, cantando e dançando, lutando, construindo e embelezando este mundo em que nos foi dado viver, são melhor retratadas — desculpe, Vinícius — na confissão do Erasmo: "Sou forte, mas não chego aos seus pés".

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