Usina de Letras
Usina de Letras
15 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62297 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22541)

Discursos (3239)

Ensaios - (10393)

Erótico (13574)

Frases (50688)

Humor (20041)

Infantil (5462)

Infanto Juvenil (4785)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140826)

Redação (3311)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6214)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Depois de terça, carni vale! -- 20/02/2004 - 11:30 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os cristãos festejam a ressurreição de Jesus tendo por referência a Páscoa judaica – a lua cheia do mês de Nisan –, e por isso ela é celebrada no domingo seguinte à primeira lua cheia da primavera do hemisfério norte (outono, no sul). Nos seus primórdios, e até recentemente, a Igreja Católica fazia o povo abster-se de carne vermelha durante a Quaresma, os 40 dias anteriores à Páscoa. Como os cristãos (e não-cristãos submetidos à dominação católica) estavam proibidos de comer a carne, chamavam o último dia que antecedia a Quaresma – em que ainda poderiam comer carne – de “carni (carne, em latim) vale (adeus, em latim)” e realizavam grandes festejos. Era uma forma, também, de dar continuidade, sob o novo credo, às februália (festas dedicadas à expiação e purificação, realizadas em fevereiro, o último mês do ano romano, consagrado ao deus Dis Pater, – o Hades ou Plutão dos gregos).

O carnaval veio para o Brasil com os portugueses. A violência com que eles faziam suas simulações de batalhas, usando uma mistura de ovos crus, milho, feijão, areia, água e cartuchos de pó soprados por meio de tubos, fez com que o governo colonial as proibisse. Proibiu, mas foi desobedecido. O pó foi trocado por limões-de-cheiro. Anos depois de proclamada a República, em 1906, foi adotado o lança-perfume, que usava uma mistura gelada à base de éter. Também o lança-perfume foi proibido. A população fazia e continua fazendo modificações e mantendo a brincadeira.

Também com os portugueses vieram as fantasias para a festa. Pierrôs, arlequins, colombinas, príncipes, turcos, piratas, chineses e guerreiros passaram a desfilar pelas ruas. Em 1852, um português aqui radicado, José Pereira, saiu à rua tocando um tambor. A idéia pegou. Outros instrumentos foram incorporados. Para marcar compasso, qualquer coisa barulhenta, como panelas, latas, tamancos serviam na banda do Zé Pereira.

Há 120 anos foi realizado o primeiro carnaval oficial de rua no Brasil, em Salvador, Bahia. Imitava o carnaval de Veneza. Desde então o carnaval foi adotando o jeitinho brasileiro e regional e passou a ser objeto de desejo de turistas do país e do exterior, com características das várias localidades. As escolas caracterizam o carnaval carioca; o trio elétrico, o baiano; o frevo e o maracatu, o pernambucano... As ruas continuam sendo invadidas pelos foliões, embora São Paulo e Rio tenham deslocado os desfiles para os sambódromos.

O automóvel virou moda nas folias de Momo, no Rio de Janeiro, no domingo de carnaval de 1907, quando o presidente Afonso Pena passou pela Avenida Rio Branco levando suas filhas para um passeio de carro. Os foliões seguiram o carro e jogaram sobre elas confetes e serpentinas. Esta é considerada a origem dos carros enfeitados que precederam os blocos, cordões, ranchos e escolas de samba.

No atual carnaval, a alta hierarquia católica brasileira mantém sua tradição de enfrentar a ciência e as opções de divertimento popular. Investe contra a campanha governamental que alerta a população para a necessidade de usar camisinha nas relações sexuais como prevenção eficaz de doenças sexualmente transmissíveis e da gravidez indesejável. Dom Rafael Llano Cifuentes, bispo auxiliar do Rio e presidente da Comissão para a Vida e a Família, no Conselho Episcopal de Pastoral (Consep), considerou a campanha do governo em favor do uso de preservativos um incentivo à permissividade sexual. "A relação sexual deve ser natural e não pode ser desassociada da procriação", diz o religioso, que fez voto de castidade, embora seja autor de vários livros sobre sexo e amor. Ele cita como exemplo a ser seguido o autoproclamado “presidente da guerra”, George W. Bush: "Em vez de gastar dinheiro com a distribuição de 10 milhões de camisinhas, o governo deveria imitar os Estados Unidos, que estão investindo US$ 270 milhões no combate à Aids, com ênfase na abstinência e na fidelidade conjugal".

Ao mesmo tempo, as autoridades eclesiásticas usam seu poder e influência para censurar enredos e desfiles de escolas de samba. No Rio, o cardeal d. Eusébio Scheid determinou à União de Juristas Católicos que entre com ação contra alegorias, fantasias e esculturas que o carnavalesco Joãosinho Trinta elaborou para a Acadêmicos do Grande Rio, que teriam “uma ou outra cena indecorosa e inaceitável". O enredo da escola é “Vamos Vestir a Camisinha, meu Amor" e a porta-bandeira e o mestre-sala vão desfilar com fantasias feitas utilizando preservativos. Em 1989, Joãosinho Trinta foi obrigado, pela Justiça, a pedido do arcebispo de então, cardeal d. Eugênio de Araújo Sales, a cobrir com uma capa preta a imagem de um Cristo Redentor que apareceria vestido de mendigo no enredo “Ratos e Urubus, Larguem a minha Fantasia”, da Beija-Flor, de Nilópolis.

Na capital paulista, a Barroca Zona Sul, da Água Funda apresentará o enredo 450 Anos de Fé - Um Encontro com Deus no Coração do Brasil. O carnavalesco Augusto de Oliveira foi censurado pela Cúria Metropolitana de São Paulo, que proibiu alegorias e carros que levariam imagens consideradas sacras pelo clero.

Mas o carnaval e a humanidade resistem. Como diz Paulo César Pinheiro, em suas composições, “você corta um verso, eu escrevo outro”, pois “o importante é que nossa emoção sobreviva”...



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui