Relato de um médico residente do ultimo ano de Cirurgia Plástica:
Como muitos sabem, sou médico residente de último ano de Cirurgia Plástica, mas faço plantões extras como cirurgião do trauma.
Segue um breve relato do cotidiano de um médico plantonista.
Baixada fluminense,
lesão craniana por arma de fogo,
com perda de massa encefálica.
Atendimento em sala de trauma,
via aérea assegurada por intubação orotraqueal,
Parada cardio respiratório por 3x revertida com massagem cardíaca e drogas vasopressoras.
Paciente estabiliza hemodinamicamente.
Verifico pupilas dilatadas não reagentes ao estímulo,
assim como os demais reflexos tronco encefálicos ausentes.
Hospital onde estou não há exames complementares para falência encefálica,
não suporta procedimento de retirada de orgãos.
Ligo para central de transplantes do estado do Rio de Janeiro.
Todos os números possíveis, sem sucesso.
Família em desespero não entendendo a situação, porém demonstrando desejo de doação de orgãos.
Sigo tentando contato para iniciar protocolo de captação dos orgãos.
QUATRO depois do primeiro contato, sim Quatro horas, sou atendido por uma reguladora, felizmente muito solicita.
A mesma pede que eu entre em contato com o hospital referência para captação e solicite vaga,
pois através da central não teriamos sucesso.
Então 3h após o primeiro contato com o tal hospital, após mandar fax e praticamente implorar, tenho vaga negada.
Paciente evolui com instabilidade hemodinâmica mesmo em bomba de infusão de vasopressores.
mantemos o coração batendo,
estabilidade hemodinâmica.
Após 5h consigo leito para transferência, animação da equipe, seria a primeira vez que a equipe do hospital veria um processo de sucesso de captação de órgãos,
vencemos o sistema ..... acende uma centelha de esperança na equipe.
Porém, não há no município em questão ambulância equipada para transporte avançado.
Paciente para pela 5ª vez.
Procedimento de reanimação desta vez sem sucesso.
Frustração generalizada da equipe.
Converso com familiares, todos inconsoláveis.
O sistema, a desorganização generalizada da saúde pública, o descaso dos gestores privaram nos do sucesso.
Privaram a família de perpetuar a memória da menina, disseminando vida a outros doentes em fila de espera.
Um sistema que não te ajuda.
Sistema público de saúde colapsado.
Me bastava uma ambulância igual as da Arena Pantanal, ou do Estádio Itaquerão.
Me bastava a vontade de fazer dos hospitais algo tão funcional quanto um estádio da Copa.
Uma refinaria no valor de 48 milhoes comprada pela Petrobras, estatal, por 1 bi.
Um bilhão menos quarenta e oito milhões.
A diferença igual ao valor roubado dos contribuintes brasileiros.
O lucro dos envolvidos igual ao rombo nos cofres públicos.
Falta tudo ao povo da baixada fluminense, do agreste, da vila Areia em Porto Alegre.
Falta discernimento para compreender o que representa o caso Passadena na vida deles.
Sobra discernimento aos políticos em como ludibriar o povo.
Vide o pequeno "engano" do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada,
eclodiram passeatas feministas (com razão) contra o estupro.
Pena que a pesquisa estava errada,
pena que aparecem fatos como este para abafar os escandalos da Petrobras.
Pena que eu vejo esses descasos aos meus pacientes sozinho.
Pena que boa parte do eleitorado brasileiro não entende tudo isso.
Neymar, desculpa, mas vou torcer pro Messi.
Ronaldo desculpa, mas eu quero hospitais.
Dilma, desculpa, mas vou lutar dia a dia para tirar votos do seu governo, no metro, no hospital, no elevador, no facebook.
Guilherme A. Fritsch-Nunes
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