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Artigos-->PT x PSDB, e aí, bicho? -- 18/02/2004 - 11:14 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sempre que um escândalo político vem a lume logo surgem três tipos de análises: duas que se fundamentam totalmente no polo emotivo, outra, no racional. As duas primeiras, por sua vez, subdividem-se em dois outros extremos: o das pessoas que dão a vida acusando, e o das pessoas que igualmente dão sua vida, defendendo, os envolvidos no episódio. O terceiro grupo, que usa a razão com mais acuidade, parece bem mais capacitado a enxergar o que realmente está acontecendo, sem se deixar envolver pela própria convicção de acerto da abordagem dos fatos, convicção que é, em si mesma, explicada pelo passionalismo com que é alimentada.



Vejamos o caso de Waldomiro Diniz, concentrando-nos nos episódios datados a partir de 2002, quando era presidente da LOTERJ. Uma conversa entre Waldomiro e um bicheiro foi gravada em vídeo; na ocasião, Diniz pediu dinheiro para ajudar alguns políticos em campanha para as eleições de 2002, dentre os quais foram citados Benedita da Silva e Geraldo Magela, ambos do PT, em disputa pelos governos do Rio de Janeiro e Brasília, respectivamente. Pediu também que 1% fosse seu, uma “propinazinha” para aliviar suas dívidas mensais. Descoberto o fato, a mídia deu o foco esperado, e as pessoas cuja missão neste mundo é salvar os homens da corrupção logo encheram o peito com ares de indignação, botaram a boca no trombone, o dedo em riste, para anunciar em altíssimo e boníssimo som que o PT deixou cair sua máscara, que se trata de um partido igualzinho aos outros, que o estelionato eleitoral de 2002, com a eleição de Lula, havia se completado.



Foi uma conversa dessas comuns em todas as campanhas, quando alguém, com ou sem autorização dos nomes envolvidos da disputa, pede dinheiro para ajudar na campanha. A diferença é que foi gravada e divulgada. A partir do fato, setores da oposição, os mesmos que em períodos passados, na

situação, obstruíam pedidos do PT para abertura de CPIs, estão em polvorosa articulando a abertura de uma para apurar o financiamento para as campanhas políticas de 2002. O PT alega que, para assinar tal pedido, é preciso que o alcance do inquérito político se estenda a eleições anteriores.



Os alvos desses dois movimentos são bastante claros. De um lado, os que hoje se arvoram donos da moralidade política e querem já uma CPI, não são sutis o suficiente para não deixar evidente que suas intenções escondem um desejo de vingança e retaliação política contra a principal figura do PT, que é o presidente Lula. Afinal, se se admite que é possivel ter havido contribuição de dinheiro ilegal às campanhas de Bené e Magela, por que não admitir que o próprio presidente Lula tenha sido ajudado com dinheiro sujo? E se isso ocorreu, configura-se então o crime eleitoral, e daí para o impeachment é só um pulinho. Por outro, os políticos que apoiam o governo relutam em assinar a CPI com o argumento de que a politização de um fato passível de investigação plena por parte tanto da Polícia Federal quanto do Ministério Público apenas realça o desejo de vingança política da oposição, PSDB e PFL à frente, e esses políticos igualmente não conseguem disfarsar o quanto os incomoda uma CPI e o que ela poderá revelar.



Como ecos dessas posições políticas antagônicas, ou como suporte delas, jornalistas se entrincheiram e se alinham sob os argumentos de um e outro lado, e, formadores de opinião que são, tanto quanto pelo fragor da voz rouca das ruas são motivados, estão elaborando suas matérias para os próximos dias. O carnaval chegará logo e muitos deles apostam que o assunto vai esfriar. Outros acham que o período de recesso momesco em nada vai mudar quanto ao frenesi que a “bomba” Waldomiro Diniz está causando no seio do Governo Federal.



O terceiro grupo de jornalistas, com os quais me identifico, analisa a questão de forma bem apropriada e serena. Apropriada porque não vêem no fato a gravidade atribuída pela oposição ao escândalo nem a desimportância que o Governo e o PT querem imprimir ao fato. Analisam o pedido de propina e de dinheiro sujo para campanhas, se de fato foi o que ocorreu, como retrato fiel de como a política é vivida neste país que está mais do que acostumado a conviver com notícias dessa natureza. O fato de ter sido o PT o último envolvido não significa que o país não tem mais jeito e que a última reserva moral que havia entre os partidos políticos se esvaiu, deixando-nos todos órfãos quanto ao que fazer nas próximas eleições. O Brasil é feito de homens e mulheres, suas instituições mais valiosas são formadas por homens e mulheres, ou seja, são pessoas e a elas não pode ser atribuido o status da infalibilidade. É nessa convicção que se baseia a serenidade dos que abordam com neutralidade escândalos políticos como o de Waldomiro Diniz.



Não são o PSDB, o PFL, o PT, a Igreja, o Ministério Publico, a OAB, ou qualquer outra instituição deste país, os detentores em plenitude da pureza ou da impureza ética. Em qualquer uma delas haverá sempre quem se torne digno de respeito por seu compromisso com a verdade e com as demandas mais prementes do povo brasileiro; assim como haverá quem ser torne indigno a partir de condutas que maculam o compromisso que assumiu diante da população, de defender os interesses públicos, ao se submeter aos mais vis interesses pessoais. E tais atitudes indignas podem ser verificadas nos âmbitos mais restritos, onde quer que haja interesses em conflito, chegando ao nível da família, quando muitas vezes filhos matam os pais para deles receber a herança; e se não matam fisicamente o fazem no coração, à semelhança do filho pródigo. Há nas instituições políticas do Brasil muitos filhos pródigos, que matam os ideais mais nobres para satisfazer interesses particulares, menores, materiais. Mas, restará sempre a esperança de que homens de bem e de honra não troquem seus altos valores morais por qualquer migalha, mesmo que sejam em torno de milhões.



Que venham as CPIs, o que for preciso para revelar quantos se deixaram manchar pela corrupção. Mesmo que alguns destes bradem evocando a extrema honestidade. O Brasil é maior que suas instituições e os homens que as integram, e é para o bem desse país que urge aparecer os que usurpam a fé pública para satisfazer mesquinhos interesses individuais. A esperança não é sinônimo de ingenuidade conivente ou de paciência irracional; aliás, paciência tem limite.

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