Usina de Letras
Usina de Letras
17 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62280 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50667)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6207)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Da cor do pecado -- 09/02/2004 - 11:34 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No dia 26 de janeiro, a Rede Globo estreou, com seu maior recorde de audiência no horário desde 1996, a novela Da cor do pecado, que tem como principal cenário a paisagem dos Lençóis Maranhenses, e buscará cativar os espectadores com o romance entre a afro-brasileira Preta (Taís Araujo) e o euro-brasileiro Paco (Reynaldo Gianecchini) – ele é dado como morto, ela está grávida dele etc. etc. e, principalmente, etecétera e tal.

O autor João Emanuel Carneiro, sob a supervisão de texto de Sílvio de Abreu, teve a sapiência de adotar como título o nome de uma bela canção de Alberto de Castro Simões da Silva, o Bororó. Este compositor nasceu em 15 de outubro de 1898 e morreu em 7 de junho de 1986. Dentre suas canções mais conhecidas estão o choro Curare, gravado em 1940 por Orlando Silva (Você tem buniteza, E a natureza, foi quem agiu... Com estes óio de índia, Curare no corpo, que é bem Brasil) e o tema da atual novela, que louva o corpo moreno, cheiroso, gostoso, delgado, da cor do pecado “que faz tão bem”. A música foi sucesso em 1939, interpretada por Sílvio Caldas. Uma curiosidade: com o sucesso da música Da cor do pecado, os compositores Pedro Caetano e Claudionor Cruz foram desafiados a escrever uma canção que com ela concorresse e rivalizasse. Impossibilitados de se encontrar, Pedro fez uma nova letra e Claudionor compõs outra melodia em cima da métrica da letra de Bororo. Assim nasceu Nova ilusão (É dos teus olhos a luz que ilumina e conduz minha nova ilusão – há uma bela gravação de Paulinho da Viola, feita em 1976).

A origem latina da palavra pecado relaciona-o a tropeço, falta, culpa, delito, crime, erro. Em Gênesis, 3, 1-24, está narrado o primeiro tropeço. A mulher é responsabilizada por ter se deixado seduzir pela serpente e comer do fruto proibido, que lhe abriria os olhos, permitiria conhecer “o bem e o mal” e a tornaria “como Deus”. Ela não só provou do fruto, como ainda o “deu a seu marido, e ele também comeu”. Ao contrário do que Javé Deus havia ameaçado, os dois não morreram, mas “conheceram que estavam nus”. Para muitas mulheres que têm filhos através do parto natural, o castigo divino perdura até hoje: “Multiplicarei grandemente a dor da tua conceição; em dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará”. No caso da gravidez e parto, a ciência encontrou métodos e fazeres que dimimuem os sofrimentos da mulher, e a gestação fora do útero acaba de vez com qualquer transtorno; no caso da maldição do domínio do homem sobre a mulher, o vigoroso movimento feminino ainda não conseguiu vitória, mas vem acumulando conquistas (apesar de retrocessos que ordinariamente ocorrem). Quanto ao homem, pelo pecado de ter dado “ouvidos à voz” da mulher, e comido da árvore, teve que trabalhar e comer em fadiga – nem todos os homens, é verdade: há os que vivem do trabalho alheio... O casal foi expulso do paradisíaco Eden.

Se o primeiro pecado foi comer do fruto proibido, depois surgiu o decálogo, entregue a Moisés, proibindo o politeísmo, a adoração a imagens ou figuras, o uso do nome do Senhor em vão, o trabalho aos sábados, o assassinato, o adultério, o furto, o falso testemunho, a cobiça à mulher e propriedades (servos inclusive) do próximo. O não cumprimento destes preceitos é pecado.

No seu Evangelho, Mateus radicaliza a lista, ao relatar que no sermão da montanha Jesus considera réu até mesmo quem “fica com raiva do seu irmão”. Ordena: “se alguém lhe dá um tapa na face direita, ofereça também a esquerda!”, e determina: “Não julguem, e vocês não serão julgados” – o que impossibilitaria qualquer tipo de justiça nesta terra pós-Eden. Seguidores dos evangelhos organizaram a Igreja Católica, que por sua vez relacionou sete pecados (avareza, gula, inveja, ira, luxúria, orgulho, preguiça).

Os preceitos morais ditados pelas variadas religiões são considerados, por muitos, o seu maior valor, pois garantiriam a convivência pacífica entre os humanos. A história dos inúmeros e sangrentos conflitos religiosos e a intolerância de várias seitas, uma com as outras e com os que não aderem a religiões, são o contraditório desta crença. Como reconheceu o papa Júlio III (nascido Giovan Maria de Ciocchi del Monte, 1487-1555), “Não sabes, meu filho, quão pouca é a sabedoria com que o mundo é governado” (Nescis, mi fili, quantillã sapientiã regitur mundos).

O conceito de pecado pretende estipular o certo e o errado. Na natureza, a realidade se impõe: quem a contraria sofre as conseqüências (você pode esquecer a lei da gravidade, mas se “pecar” contra ela, inevitavelmente ela fará o mais pesado que o ar cair por terra). Na vida social, os humanos valem-se, além dos ditames religiosos, da organização da sociedade, inclusive em Estado, elaborando leis que, desobedecidas, implicam em castigos os mais variados aos “pecadores” – de repreensões, multas pecuniárias, perda da liberdade à execução sumária do infrator. Como a luta da mulher pelo fim da dominação de gênero, também neste caso existem avanços e recuos. Os pecados mudam de cor, as penas variam em seu rigor e os que buscam a construção de uma sociedade nova, solidária, tratam de encontrar meios e formas de apresentar seus argumentos e ganhar adeptos para suas causas.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui