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Artigos-->As ruínas fluminenses e sua preservação -- 04/02/2004 - 22:31 (Aloysio Clemente M. I. de J. Breves Beiler) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
As ruínas fluminenses e sua preservação pelo Patrimônio Histórico



Os Souza Breves foram os maiores fazendeiros de café no período de 1820 a 1890. Dominaram do mar fluminense até as Minas Gerais, e o comendador Joaquim José de Souza Breves foi a figura mais polêmica de todos eles. Dono de um poderio feudal, chegou a possuir mais de 10.000 escravos juntamente com seus irmãos e aparentados. Suas terras iam da Marambaia até Minas Gerais com mais de 90 propriedades. Possuía navios e gozava da amizade de Pedro I, tendo participado do Grito do Ipiranga. Diversos autores já trataram dessa figura: Taunay, Griecco, Zaluar, Ternaux-Compans, Agassiz e Assis Chateaubriand. Não há que se fazer apologia da escravidão - uma mecha suja de nosso passado. Mas história é história e bens culturais em toda sua amplitude devem ser preservados.



Importantes monumentos arquitetônicos e de valor artístico para a história de nosso Estado, encontram-se no mais completo abandono. Três péssimos exemplos de destruição podemos apontar:



Igreja da Fazenda de São Joaquim da Grama: situada em Rio Claro - RJ. Berço dos Breves, célula-mater de inúmeras outras propriedades, mandada construir por Joaquim Breves, a monumental capela serviu de repouso para seu criador e família por algum tempo. Com o caso Danna de Tefé, que a polícia local suspeitou durante o inquérito que houvesse sido enterrada ali, pois foram encontrados túmulos revirados, o lugar ficou maldito. Os corpos foram transferidos para o cemitério de Barra do Piraí, por parentes, para que não fossem violados. A igrejinha (de grandes proporções), situada no altiplano, domina a região de São Joaquim da Grama, e está toda destruída. O teto está desabando, a escada em caracol que levava até o sinos (roubados) caída ao chão, os altares apodrecendo comidos pelos cupins. Ainda se vê parte da pintura do teto, e do mármore importado no chão. Bois e vacas usam-na hoje como moradia . Uma vergonha. Da casa-grande de São Joaquim, resta 1/3 da fachada ainda conservada.

O desinteresse, demonstrado pelas autoridades (IPHAN, Prefeituras, e outros órgãos), é evidente. Cultura e preservação nunca foram o forte das autoridades.





O casarão da Fazenda do Pinheiro: Situa-se o palacete em Pinheiral – RJ, próximo a Volta Redonda. Em ruínas a casa do Comendador José de Souza Breves, que já foi Posto Zootécnico Federal, visitado pelos reis da Bélgica, e que funciona hoje o Colégio Agrícola Nilo Peçanha. A casa-grande que foi do Comendador José de Souza Breves (irmão de Joaquim), foi doada em testamento (não teve filhos) para que ali se estabelecesse uma entidade de ensino, com prêmios anuais e verba destinada ao seu funcionamento. A propriedade passou ao Governo, que ali se fixou.

Hoje, completamente destruída, com o madeiramento de pinho-de-riga, tetos em estuque pintados a trompe- l’oeil, portais ricamente decorados, serve de abrigo a mendigos, morcegos e outras criaturas. Estive lá e fiquei horrorizado. Aqueles enormes salões incendiados com a vegetação nascendo entre as táboas.

Ora, o Colégio Agrícola é uma extensão da Universidade Federal Fluminense. Por que a Universidade não restaura o casarão? Poderia servir à comunidade local para eventos (teatro, museu, ou mesmo extensão do próprio colégio). Foi uma das maiores fazendas de café da antiga província, com toda a riqueza de história que bem conhecemos (foi palco de escravaria numerosa, banda de música, hospital, armazéns, jardins, bailes e festas, reuniões políticas,etc). Visitada por ilustres em 1870 como Cantagalli – embaixador da Itália, Ternaux-Compans (legação francesa), e o português Augusto Emilio Zaluar, que descreve em suas cartas, a magnífica residência.

Em visita ao local em 1993, fiquei chocado com o estado do casarão, que tinha sido vítima de incêndio criminoso. Soube que vence em pouco tempo o contrato de comodato entre o Ministério da Agricultura e a UFF – Universidade Federal Fluminense, que mantém o colégio. O que será feito daquelas terras? O casarão continuará dominado pelo mato (árvores mesmo)? Os projetos de cunicultura e suinocultura, que já foram transferidos para outro local, devido à insegurança dos galpões, serão continuados? O ensino agrícola, tão importante para o País. Como fica?



O Comendador José de Souza Breves, meu tetra-avô, ficaria perplexo. Deixou em seu testamento, terras, a casa-grande e dinheiro para que se criasse uma instituição de ensino. O governo lamentavelmente, administrou mal. Hoje só temos destruição e caos.



São João Marcos: A bela cidade colonial foi demolida pela Light que inundou suas ruas criando o lago de Ribeirão das Lages. Despareceram a fazenda de Santo Antônio da Olaria, cópia do Pallazo Brescia, construída por Joaquim Breves para sua moradia. Mármores raros nos pisos em mosaico ainda são vistos quando as águas baixam. Outra fazenda, a Bela Vista, também demolida. E a ponte Bela. Magnífica esta ponte em arco e pedra de cantaria que podemos ver e passar, quando as águas descem. Difícil hoje é chegar ao local. O mato tomou conta de tudo. Na entrada vê-se uma placa – “São João Marcos, tombado pelo Patrimônio Histórico”. Parece piada de mau-gosto. A Light que nos anos 30/40 desapropriou terras, desalojou populações inteiras, poderia investir no turismo da região e resgatar um pouco da história desse rincão fluminense. Também foi demolida, ou melhor, dinamitada a bela matriz de São João Marcos. Alegavam os engenheiros estrangeiros que a água cobriria suas torres. Triste projeção. A água não chega ao primeiro degrau da antiga matriz.



Ressalto algumas atitudes isoladas de preservação:



§ empresários que compraram algumas fazendas e restauraram;



§ a Fundação Mario Peixoto Breves em Mangaratiba, que preserva o antigo trapiche dos escravos, e as ruínas do teatro;



§ a estrada Mangaratiba-Rio Claro, primeira estrada de rodagem do Brasil, inicialmente construida por Joaquim Breves para desaguar sua enorme produção de café. Com bebedouros, muros de contenção e rancho em pedra para descanso de animais e viajantes;



§ a recuperação dos retratos pintados por Claude Barandier, Chevrell entre outros, do Comendador Joaquim José de Souza Breves, sua mulher Maria Izabel Breves e outros parentes. Por iniciativa minha, e juntamente com o Embaixador João Hermes de Araujo, pesquisador da História de nosso Estado, o IHGB – Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, adquiriu as telas que hoje se encontram em restauração;



§ a preservação da Restinga e Ilha da Marambaia, ocupadas pelas Forças Armadas, que impedem a devastação. Bem verdade, que resta pouco da casa-grande e dos armazéns dos Breves, antigos proprietários daquela faixa de mar, que lhes servia de entreposto entre a África e Brasil, no comércio dos escravos.



Divulgar os fatos sempre é o melhor remédio contra a ignorância. Preservar o pouco que resta é a tarefa de todos nós.

(Aloysio Clemente M I de J Breves Beiler - Rio de Janeiro, 5 de março de 2002)

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