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Artigos-->Salsichas e obras-primas -- 29/01/2004 - 06:41 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os sofrimentos do crítico à leitura dos novos catálogos das editoras



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Por Katharina Döbler [Die Zeit, 06/2004]

Trad.: ZPA

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Há anos, houve um filme em que milhares e milhares de salsichas viam a luz do mundo. Uma atrás da outra, em rósea simetria, eram regularmente expelidas de suas máquinas. Na trilha sonora, ecoava um coro fervoroso, a entoar nos registros mais profundos: "Koyaanisqatsi-i".



Regularmente também, duas vezes ao ano, essa seqüência me vem à mente. É quando os coloridos catálogos das editoras, com os novos lançamentos planejados para o próximo semestre, voltam a formar pilhas ameaçadoras sobre a escrivaninha. Então, posso divisar grandes máquinas, das quais, um depois do outro, livros, livros, livros borbotam. Um coro de muitas vozes retumba: "Literatura-a".



Naturalmente qualquer leitor, mas sobretudo os críticos, com toda a arrogância própria de sua profissão, sabem que uma editora não é uma fábrica de salsichas. E que livros não são simétricos, nem idênticos, nem róseos. Mas são tantos!



Mas, onde, nessa massa, esconde-se a obra-prima?



Claro, quase toda editora tem pelo menos uma no programa. É o que se lê nos catálogos. E as editoras, de resto, oferecem o generoso auxílio de sua orientação.



Por exemplo: Um autor desconhecido natural de, digamos, Cuba, que escreveu algo de maciçamente épico, pode ser encontrado sob a etiqueta "Thomas Mann caribenho".



A herança literária pertence a todos, escreveu certa vez Joseph Brodsky, e dela cada qual pode se servir.



Assim, quando aqui um autor lembra Flaubert e acolá um outro faz recordar Jonathan Franzen (Franzens brotam em quantidade considerável na nova estação), nisso nada há de reprovável nem no sentido do leitor nem de Brodsky, devendo antes ser compreendido como, no caso das salsichas, se lhes fosse atribuída a classificação "aves".



Talvez seja um pouco especulativo, quando uma editora de solidíssima reputação afirma de um determinado livro:



"Forrest Gump encontra Graham Greene".



A mensagem deste ilustre encontro significa simplesmente: Este aqui é um livro para pessoas que apreciam as coisas divertidas de Mr. Greene, mas preferem muito mais ir ao cinema.



Audaciosas, ao contrário, são hipóteses como:



"Se Max Frisch e Stewart O’Nan tivessem se encontrado, na certa teriam escrito uma obra-prima como a obra tal de fulano de tal [no original, cita-se um exemplo: Das goldene Ei , de Krabbé]".



Pode-se imaginar como o sr. Frisch – em não importa qual College, ao longo de não importa qual viagem à América –, tendo-se encontrado com o hiper-realista americano e seus dois best-sellers, detidamente o examina e, aspirando seu cachimbo, diz: "Nós dois deveríamos escrever, juntos, uma obra-prima…"



Please, por que não? Tudo é possível na literatura. Mesmo terem se encontrado uma vez Goethe e Günter Grass. E talvez não tenham necessariamente escrito juntos uma obra-prima, mas um hobby comum serve também como elo de ligação.



Daí, a dica esotérica da produção editorial da primavera vindoura: "Deste e do outro lado da Arcádia. Goethe e Grass como desenhistas da paisagem".



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