QUANDO
Quando se tem um amor,
É preciso que se atente,
Com muito cuidado e emoção,
Para que ele viceje, sempre ardente,
Nos rumos inquietos do coração.
Porque quando a gente, desatenta,
Esquece da conta que deve dar,
Ele começa a mudar de repente.
Apagando o sopro que o alenta.
Quando se tem um amor,
É preciso ter o pique da juventude,
Porque só ela tem o quente vigor,
De abrir as pernas sem pejo,
Quando o desejo explode com ardor.
É preciso viver e sentir com plenitude
O orgasmo, escorrendo em opacidade,
Como se a vida com ele se acabasse.
Quando se tem um amor,
É preciso que se animem
As rugas que a face decoram,
E os duros anos implacáveis,
Que os ossos do corpo deterioram,
E que os músculos afrouxam.
Porque faz parte deste destino
Aquelas entregas em desatino,
Velhos prazeres inquestionáveis.
Quando se tem um amor,
É preciso que se guarde
A boca úmida de paixão,
E os lábios plenos de fantasia.
Esperar, por mais que tarde,
Toda a angústia do tesão,
Porque faz parte desta magia
Impedir que ele se esvaia
E que caia no nó da solidão.
Quando se tem um amor,
É preciso que se tenha no sexo
O sentido de complementação.
Quem sabe, assim se impeça
Toda vida sem nexo (nem complexo),
Que mutila as entranhas sem pudor.
Porque as vísceras, assim corrompidas,
São sempre as formas de tentação
Das aventuras nunca esquecidas
Quando se tem um amor,
Não importa o quando
E muito menos o onde,
Porque ele é quem esconde
Num arfar muito brando,
A linha funda, esguia esquina,
Da face, que atrai e fascina.
Enquanto o olho, já enevoado,
Perdido num distante passado,
Sonha o sonho enternecido,
Estímulo jamais esquecido.
Quando se tem um amor
É preciso que se viva
Todo dia com paixão intensa,
Lambendo as próprias feridas
Das infiéis traições superadas.
Porque a alegria é imensa,
Quando a partida, já pronta
Tem a esperança que aponta
Para as vidas fecundadas
Pelas antigas emoções vividas!
Quando se tem um amor,
É preciso que a saudade
Não seja a eterna companheira,
Porque toda a felicidade
Se veste, meiga e altaneira,
Daqueles desejos incompletos,
Que são mágoa e dor
Naqueles peitos abertos
Pelas entregas da paixão,
Que o tempo acaba por desbotar,
Mas permanecem no coração
Testemunhas do verbo amar!
Quando se tem um amor,
Toda lágrima se evapora
E seca num gesto de carinho.
Desabrocha e então aflora,
Qual rosa sem espinho,
Um sorriso de doce aceitação,
Porque embora o tempo passado,
Renasce sempre no coração,
O querer estar apaixonado,
Porque viver é fogo e paixão!
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