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Artigos-->O Tropicalismo e Fidel Castro - versões da mesma história -- 06/01/2004 - 01:21 (Carlos Frederico Pereira da Silva Gama) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sempre me impressionou a semelhança entre o domínio exercido por El Comandante em Cuba e o exercido pelos egressos do Tropicalismo na cultura brasileira, desde que suas táticas de guerrilha os levaram ao poder, respectivamente no fim dos anos 50 e 60. Os frutos desse domínio férreo perduram até nossos dias, gritados a plenos pulmões pelas massas subjugadas nos respectivos rituais de reafirmação do poder.



1) Os patronos



O fidelismo cubano logo encontraria abrigo sob as asas da União Soviética, no xadrez geopolítico da Guerra Fria sessentista.



O tropicalismo, por sua feita, foi o braço tupiniquim do movimento hippie desencadeado simultaneamente no High Astbury de São Francisco (EUA) e na swinging London britânica.



2) As conquistas



Cuba era o virtual bordel estadunisense pré-1959. E se tornou um exemplo de conquistas sociais para o continente e o mundo.



O cenário musical brasileiro dos anos 60 vivia a ressaca bossa-novista no olho do furação político - engajados X entreguistas . A Tropicália trataria de borrar as tintas do quadro, jogando para o alto as noções pré-estabelecidas de esquerda, direita, popular, erudito. E por um breve momento, o cenário nacional viveu novo ápice.



3) As perdas



Cuba, não obstante campeã dos direitos sociais, os obteve via sacrifício dos direitos civis e políticos. Um povo bem-alimentado, educado e quase 100% empregado não podia desfrutar de qualquer das potencialidades daí advindas. Ressalta-se que a isonomia social fez-se num baixo patamar de renda média - exceção feita à camarilha de Fidel, esta eivada de riqueza de montante, este sim, verdadeiramente revolucionário. E ai de quem não concordasse com isso...Que fosse viver em Miami ou debater com os anjos do céu.



A Tropicália quebrou as dicotomias político-estéticas, em detrimento do "direito da crítica". Não havia mais referenciais para bom, ruim, inovador, derivativo, relevante ou mediano - o que nossos comandantes Caetano e Gil diziam ser lindo era lindo e pronto! E ai de quem ousasse discordar...Até hoje.



4) Os bloqueios



O bloqueio estadunidense a Cuba é, atualmente, tido como causador de todos os males na ilha (inclusive aqueles advindos da própria Revolução de 59). Ao que parece, Cuba ainda depende sobremaneira de seu gran hermano del Norte - mesmo comerciando com boa parte do mundo há anos. O fato do dólar ter se tornado moeda franca em Havana parece eloquente a respeito da ambivalencia cubana para com os EUA.



O Tropicalismo amargou queda de qualidade e de vendagem a partir da segunda metade dos anos 70. O eterno culpado? O povo brasileiro, incapaz de absorver toda a genialidade que gentilmente Caê e Gil disponibilizaram para nos civilizar. Curiosamente, de tempos em tempos ambos fazem suas concessões ao populacho obstaculizante - Caetano a gravar Sozinho e Gil lançando discos temáticos a cada nova moda. Enfim, tudo lindo não é mesmo?



Poderíamos falar em um outro tipo de bloqueio. O bloqueio de forças oposicionistas, mantido ferreamente tanto em Cuba quanto em Pindorama. No caso brasileiro, de forma mais sutil, sem necessidade de recorrer às armas para fazer o que discursos de 7 horas não dão conta: basta a cooptação. Todos os movimentos contestatórios ou autônomos frente ao Tropicalismo acabaram, em poucos anos, reconciliados confortavelmente com nossos pajés-sultães de Salvador. De Titãs a Sepultura (!). Afinal, segundo Gil, o mundo é mesmo uma geléia geral não? Fidel devia aprender conosco.



5) Os expurgos



Camillo Cienfuegos, Che Guevara e outros responsáveis diretos pela Revolução de 1959, ao lado de Fidel, foram paulatinamente tirados de cena pelo Gran Comandante, direta ou indiretamente. Alguns por suas próprias mãos!



Tom Zé, Jards Macalé e outros bastiões do Tropicalismo amargaram o ostracismo da crítica e do mercado à medida que Gil e Caê estabeleciam seu monopólio sobre a cultura nacional, cortando possíveis obstáculos críticos e salvaguardando seus seguidores - afora os soldados de primeira leva Gal e Bethânia, Mutantes, Tribalistas etc.



6) A mídia



Mais do que redundante falar sobre o monopólio das comunicações na ilha e no binômio Globo-Bahia que plin-plina em nossas casas desde meados dos anos 60! Discursos de 7 horas do Gran Comandante, ao menos, não são tão chatos quanto o Globo Repórter...



7) O resumo da ópera



A Cuba de hoje sobreviverá a Fidel? Esta é a aposta que fazem os simpatizantes do regime, como Frei Betto e nosso embaixador na ilha, Tilden Santiago. Os falcões de Bush, propelidos pelo lobby de Miami, continuam a apostar no contrário e nas benesses do livre mercado. Enquanto as opções forem esse preto no branco, não há por que nutrir esperanças, a menos que se aposta na capacidade de ação política do próprio povo cubano - algo que Fidel e Bush irmanamente repudiam. Ambos têm a explicação na ponta da língua para tudo, e ai do mundo se este ousar discordar...



Ao contrário de Fidel, o Tropicalismo não veio para explicar, mas, como Chacrinha (ícone máximo do movimento), para confundir. Confundir para reinar. Se tudo é lindo, nada é lindo. Mas que importa, se Caê, Gil e asseclas continuarem tranquilos a reinar sob o sol de Itapoã? (Agora, mais do que nunca, o reinado parece inexpugnável). Sua capacidade fagocitória parece estar para além de dicotomias e valores. O Tropicalismo é um exemplar perfeitamente acabado da filosofia pragmático-conservadora. De tempos em tempos, algo tem que mudar para que tudo permaneça como está. Subvertendo a própria mudança, Caê & Gil tornam-se perpétuos demiurgos do imaginário nacional. O novo, o ultrajante, o incômodo, o desafiador é transformado em rotina, vassala de nosso Leviatã cultural baianocêntrico. Mas que importa, diabos? O mundo é lindo...
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