Sim, te ouvi, claro que te ouvi! Sempre te ouvi, e sempre fiz o que pude para te ajudar. Ouvi quando choravas teus desesperos, e derramavas teus medos no travesseiro, molhando-o com tuas mágoas. Ouvi tuas súplicas quando atravessavas teus momentos mais difíceis, e ouvi teus lamentos pelo amor perdido. Ouvi tuas imprecações contra os céus quanto a fatalidade levou teu pequenino filho, e ouvi teus gritos de revolta pela traição que sofrestes. Eu te ergui muitas vezes, e te coloquei de pé outras tantas. Ouvi quando o bater forte do teu coração anunciava a chegada de teu segundo filho e senti tuas apreensões quanto ao seu futuro. Estive contigo quanto partistes em tuas viagens de férias, porque também em tuas alegrias eu sempre estive presente. Eu nunca te deixei só. Muitas vezes estive presente nas soluções dos teus problemas, e muitas outras te assisti e te orientei. Pensas que não sinto teus medos? Que tuas tristezas não me entristecem? Que tuas lágrimas não apertam meu coração? O que mais desejo é te ver feliz, mas quem aplaca a tristeza que sinto por tua ingratidão? Quando foi que eu ouvi um agradecimento teu? Por onde andas quando não precisas de meu auxílio? E o que faço se sempre mais me chamas para debelar as tristezas que insistes em cultivar? O que se pode fazer por alguém que não crê que as respostas estão dentro de si mesmo? Como ajudar alguém que não cultiva a humildade, e, assim, vai afastando seus aliados? Como ajudar alguém que se atira à s alegrias e à s tristezas com ênfase sem limites, ignorando que a Verdade nunca está nos extremos, mas num ponto qualquer entre eles?
Sim, te ouvi! E vou continuar te ouvindo e te auxiliando até o dia em que saibas caminhar teu próprio caminho, até o dia em que resolvas compartilhar tuas vitórias, e não somente as tuas mágoas. Até lá serei teu aliado, depois tu serás o meu para que juntos possamos resgatar outros que, como tu, queixam-se mais do que estão dispostos a elogiar e pedem mais do que estão dispostos a ofertar.
