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Artigos-->A verdade no vinho -- 22/12/2003 - 11:42 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Na Grécia antiga, tudo tinha uma divindade ou um espírito protetor. Mas Dionísio era "bastante palpável. Bebia-se efetivamente o deus do vinho, e tê-lo dentro de si afastava de fato as preocupações", conta Hugh Johnson no seu "A história do vinho". Os vários festivais de Dionísio ocorriam a partir de dezembro, durante o inverno. A raiz da palavra comédia é komos, o nome de um falo gigante que representava um fruto rijo entre folhas da hera, planta parecida com a videira, sobrevivente ao inverno, em torno da qual se dançava nas celebrações dionisíacas. O culto a Dionísio incitava-o a retornar do mundo dos mortos. "Sem dúvida, a morte e renascimento de um deus, simbolizando a ressurreição da natureza, é um dos temas religiosos mais antigos e comuns", escreve Johnson.

A versão mais conhecida da vida de Dionísio é contada por Eurípides de Salamina (480-406 a.C.) na sua última peça, As Bacantes (adoradoras de Baco, o nome de Dionísio na Lídia). Dionísio era filho de Zeus, o deus, com a humana Sêmele. Ela morreu durante a gravidez e Zeus guardou o bebê imortal em sua coxa (assim como Soma, o filho do deus indiano Indra, também nasceu de uma coxa e assim como Jesus, filho da humana Maria, era também filho de Deus). Na peça de Eurípides, Dionísio refere-se a si próprio como "o Feliz" e, de antigo deus da vegetação em geral, torna-se deus da videira e do vinho.

Johnson relata que, mesmo antes de Eurípides, Dionísio "aparece pela primeira vez como consorte (ou filho) da própria mãe-terra. Provavelmente é a figurinha das representações mais antigas (às vezes curiosamente similares às da Virgem com o Menino) que remontam a pelo menos 9 mil anos, aos santuários da Idade da Pedra de Çatal Hüyül, a primeira cidade de que se tem notícia". Essa mãe, Kubaba (também chamada Kubil e Kybele), era cultuada na Mesopotâmia, juntamente com seu filho, Sabázio, em cerimônias que celebravam anualmente sua morte e renascimento.

O autor de "A história do vinho" registra: "A metamorfose de Dionísio — de deus da vegetação e da fertilidade a deus do vinho — ocorreu gradativamente ao longo de cerca de um milênio. Não se encerrou por aí, porém, mas continuou com ritos cada vez mais complexos e misteriosos, até abranger a todo um sistema de crenças relativo à espiritualidade e à vida após a morte: o precursor imediato do cristianismo".

Dan Stanislawski, no seu "Dionysus westward: early religion and the economic geograph of wine", fala da importância do vinho dos cultos gregos: "Exaltação para os místicos; sentimento de união com o todo e de participação para os deserdados; coragem para os tímidos; paz para os espíritos perturbados; esquecimento para as almas atormentadas; afrodisíaco para os amantes; alívio aos que têm dor; anestésico para os que vão submeter-se a cirurgias; alegria para os deprimidos".

Atualmente, a Oração Eucarística, da Igreja Católica, que transforma o vinho em sangue de Cristo, reza: " Tomai, todos, e bebei: este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova eterna aliança, que será derramado por vós e por todos para remissão dos pecados. Fazei isto em memória de mim. Eis o mistério da fé!". A estes dizeres os fiéis respondem: "Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus".

Mas ainda faltavam 100 anos para o surgimento da mitologia cristã quando Baco (como os romanos chamavam Dionísio) deixou de ser apenas o deus do vinho para também assumir o papel de salvador, com o poder de conceder vida após a morte. Os seguidores das doutrinas de Orfeu, que popularizou Baco, estavam familiarizados com a idéia de comer o corpo de deus e beber seu sangue — o vinho. "Outros cultos vivos na época também deram sua contribuição à nova religião" (o cristianismo), "destacando-se sobretudo o do deus solar Sol Invictus, popular no exército romano. Dessa fonte iluminadora, os cristãos tomaram emprestado o símbolo do halo" (círculo brilhante que circunda o Sol e a Lua) "e a data do Natal, o renascimento do sol no dia mais curto do ano", narra Johnson. E continua: "No século IV, o imperador Constantino declarou o cristianismo a religião oficial de Roma e seu Império. Nessa época o cristianismo confundia-se tanto com o velho culto de Baco que, ao construir seu mausoléu na igreja de Santa Costanza, a filha de Constantino revestiu o teto com símbolos báquicos convencionais e se fez retratar com uma grinalda de videira".

Como diz a locução latina, In vino veritas (a verdade está no vinho). Ou, como cantam os Salmos (105,15), o vinho "alegra o coração do homem". Um brinde, neste Natal, a todos os leitores destas linhas. E boas festas.

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