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Artigos-->NOSSAS CRENÇAS PESSOAIS - Parte 1 -- 20/08/2001 - 20:47 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NOSSAS CRENÇAS PESSOAIS

J.B.Xavier



NOSSAS CRENÇAS PESSOAIS



Quase toda sociedade, empresa ou comunidade tem, hoje ainda, seu mago particular, seu pajé - aquele que possui algum tipo de conhecimento secreto e, diz-se, pode ver o futuro no emaranhado das informações disponíveis. Os que não têm um guru próprio buscam os conselhos dos oráculos modernos, magos e embusteiros de todos os quilates, exatamente como buscavam o famoso oráculo de Delfos, na antiga Grécia.



Esses gurus, encastelados em grande experiência de vida ou algum “conhecimento secreto” têm o poder de, em alguns casos, e sob certas circunstâncias, alterar o curso da vida de uma empresa ou um produto, uma idéia, e, conseqüentemente, o curso de, talvez, milhares de vidas humanas.



Nem as aldeias mais valentes, ou que fossem dirigidas pelos caciques mais bravos e ousados, dispensavam os conselhos de um bom pajé. Igualmente, nossas “aldeias modernas” não dispensam as opiniões desses “videntes”, quando desejam saber sobre os riscos de seus investimentos e suas possibilidades de sucesso ou fracasso pessoais.



Joga-se búzios no horário nobre da TV, medido em dezenas de milhares de reais por minuto, lê-se mãos nas ruas, horóscopos estão por toda a parte, mapas astrais tentam enxergar à frente, no nebuloso futuro. É a inata necessidade humana de controlar seu próprio destino.



Dentre nossas crenças mais arraigadas, acreditamos que nosso destino está estabelecido e flui, como o tempo, do futuro em direção ao passado. Em algum ponto desse fluxo, encontramo-nos nós, recebendo o que se nos está preparado, inapelavelmente.



Supondo que isso seja verdade - que forças poderosas estabeleceram esse fluxo - quem pensamos que somos, para, a partir de nossa insignificância, modificá-lo ao nosso bel prazer?



Se, como imagina o senso comum, há de fato um escorrer inexorável de eventos, despejados sobre nós por qualquer divindade que adoremos, por que essa divindade brindaria alguns com lunetas especiais capazes de antever suas intenções divinas? Ou será que algo escapou ao controle da divindade e alguns humanos mais espertos que ela encontraram um meio de ludibriá-la, e espertamente utilizam essas habilidades especiais – concedidas por sabe-se lá quem – para, invarialvelmente, ganharem dinheiro?



Resta portanto, a hipótese de que essas habilidades sejam presentes que a divindade oferece a alguns eleitos. Nesse caso teremos uma séria discussão a respeito dos critérios das escolhas desses eleitos, e mesmo a respeito da utilidade desses presentes.



A esses eleitos cabe projetar o presente para além da linha do horizonte onde as vistas dos mortais comuns não alcançam, e, após traduzirem os sinais herméticos percebidos, prever tendências.



Mas o mundo dos videntes, magos, cartomantes, gurus e agregados complicou-se com a rápida evolução social e tecnológica dos últimos anos.



Alguns deles que tentaram embarcar na onda da tecnologia, deram-se mal, como Mãe Diná, por exemplo, que, após ter adquirido um “mailing” (lista de endereços) começou a mandar previsões gratuitamente, pelos correios, para algumas pessoas, como forma de auto promoção. Ela se esqueceu que a administração de um banco de dados é coisa pra profissionais. Resultado, por não conseguir atualizar seus dados em tempo, acabou enviando muitas previsões de um futuro feliz para pessoas que já haviam falecido.



Constatada a fraude, Mãe Diná desapareceu de cena, mas não aprendemos nada com a experiência, porque, a cada ano novo, gurus vêm à cena tentar nos prevenir sobre nosso futuro.

Nem todos, no entanto, se dão mal. Paulo Coelho que o diga.



Quem ler a entrevista de Paulo Coelho em Veja de 20/08/2001 há de lê-lo dizendo-se capaz de abrir o trânsito com o pensamento, chamar a si ventanias repentinas, ou comunicar-se telepaticamente com outras pessoas. A própria revista desmente, durante a entrevista, muitas de suas declarações.



Mas isso é irrelevante. O importante é a constatação de que, em certa altura do processo, os videntes acabam por acreditar no que dizem e perdem o senso do ridículo, ou simplesmente sentem-se tão à vontade e seguros com a fé cega de seus seguidores, que podem se dar ao luxo de se contradizerem a todo momento, sem que sua reputação sofra nenhum arranhão.



É o caso da entrevista de Paulo Coelho, que ao invés de construir templos, escreveu livros. O alvo, no entanto, é o mesmo: pessoas cujas crenças pessoais fazem-nas acreditar que a divindade em que acreditam unge de vez em quando um de seus filhos – inexplicavelmente mais especiais que os outros – e transformam-nos em emissários de suas diretrizes na terra.

Nossas crenças pessoais buscam por segurança, e qualquer um que se disponha a antecipar o que nos aguarda no futuro, terá nossa atenção.



Como as previsões dos mais espertos geralmente se atêm a generalidades, do tipo “grandes tempestades ocorrerão neste ano na Costa Oeste americana” ou “você vai passar por uma fase de felicidade”, algumas delas acabam por acontecer e corroboram para a fama do mago.



E Nostradamus? Bem, se em pleno terceiro milênio, um acerto de um “vidente” é potencializado, e seus numerosos erros são esquecidos, mesmo com todos os meios de comunicação disponíveis, o que dizer da Idade Média - uma época de trevas - onde a ignorância pululava, onde menos que 3% das pessoas sabiam ler, e menos que 1% sabia escrever?



Numa palavra, tentamos trapacear a própria divindade em que acreditamos, na medida em que tentamos obter um trunfo que outros não têm, para enfrentar nossas dificuldades futuras em condições mais vantajosas.



Num tempo em que o futuro era previsível - há bem pouco tempo! - a projeção era retilínea, ou seja, um evento baseado em fatores culturais, econômicos ou sociais tinha grandes possibilidades de evoluir em linha reta, numa relação de causa e efeito bastante previsível aos olhos argutos dos “futuristas”.



Por exemplo: para um observador arguto o bastante, não teria sido difícil prever que Hitler estava condenado a perder a guerra. Ele foi um bom soldado da primeira grande guerra, condecorado, inclusive, com a Cruz de Ferro! Mas “fazer” é uma coisa, e “fazer fazer” é outra, bem diferente e bem mais difícil!



Um atento observador dos fatos, naqueles tempos tempestuosos, teria visto que Hitler era um mau – aliás - péssimo estrategista. Na Batalha da Normandia, onde os aliados, num ataque maciço retomaram a França, ele dividiu suas divisões blindadas, diante da estupefação de seus generais, e algumas delas, estacionadas, obedeciam apenas às ordens vindas diretamente dele.



FIM DA PARTE 1
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