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Artigos-->Livrai-nos do mal! -- 15/12/2003 - 15:14 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O alto clero brasileiro pediu ao Ministério Público que impeça a exibição do vídeo “Perdão”, criado por Flavio Waiteman, que tem apenas quatro frases: “Depois de séculos, a Igreja pediu perdão pela Inquisição”; “Depois de décadas, a Igreja pediu perdão aos judeus por ter se calado frente ao nazismo”; “Quanto tempo vai levar para a Igreja pedir perdão pelas vítimas da Aids?” A última cena mostra uma camisinha e a frase da campanha “Pecado é não usar”. Imagens de celas da inquisição, de campos de concentração, de Hitler e de vítimas da Aids ilustram o filme. Ele foi veiculado no dia 9 de novembro no programa Fantástico, da Rede Globo.

O pedido de censura foi assinado pelo cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, dom Eusébio Scheid, no dia 24 de novembro. No dia 5 dezembro, o Programa Nacional de Aids do Ministério da Saúde condenou duramente a postura da Igreja Católica em relação à política de prevenção à Aids. Em nota oficial, o programa afirma que “a Igreja está errada ao insistir que o preservativo não protege e pode estar cometendo mais um crime contra a Humanidade”. A carta do Ministério da Saúde defendendo a exibição do vídeo e lembrando que a Constituição assegura “a livre manifestação do pensamento” é assinada pelo coordenador do Programa de Aids, Alexandre Grangeiro que argumenta que “se a Igreja lança o debate da prevenção do ponto de vista dogmático, está chamando a sociedade para discutir a questão. Portanto, não cabe utilizar instrumentos jurídicos para censurar o debate”. A carta sustenta que a Igreja erra ao lançar dúvidas sobre verdades científicas e, dessa forma, põe em risco a vida de pessoas.

Em 9 de dezembro a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) reafirmou o pedido de censura e a posição da Igreja Católica contra o uso de camisinhas como forma de prevenção da Aids. Em texto assinado pelo presidente da CNBB, dom Geraldo Majella, pelo vice-presidente, dom Antonio de Queirós, e pelo secretário-geral, dom Odilo Scherer, os religiosos declaram que a Igreja não é contra o uso da camisinha apenas por questões dogmáticas, mas também educativas e pedagógicas. Criticam o programa do governo federal que distribuirá camisinhas em escolas públicas, alegando que ele “ajudaria a formar adolescentes com uma visão distorcida da sexualidade”.

Mais uma vez, a Igreja pretende impor seus dogmas aos que não rezam pela sua cartilha: quer a censura de idéias que divergem da sua e pretende impor seus preceitos e ditames. Não deixa de ser curioso que um documento escrito pelo alto clero, integrado por homens celibatários, confessadamente virgens, fale em “visão distorcida da sexualidade”.

Vale destacar que muitos comportamentos ditados para toda a sociedade não são cumpridos nem mesmo por parte significativa do clero, como a abstinência sexual, a prática sexual apenas com parceiro de sexo oposto e após casamento, o sexo com o objetivo de único da procriação, o aborto e os métodos anticoncepcionais. Note-se, ainda, que as decisões sobre sexo – aliás, como todas as decisões da Igreja Católica – são tomadas apenas por um dos sexos – o masculino.

Na contramão de toda a evidência científica, o Vaticano e seus seguidores insistem na tese de que a camisinha não é eficiente na prevenção da Aids e de outras doenças sexualmente transmissíveis. Pesquisa realizada nos Estados Unidos demonstrou que o uso correto e sistemático da camisinha em todas as relações sexuais previne em 95% a transmissão do HIV. Outro estudo realizado nos EUA mostrou que o HIV não pode atravessar a camisinha. O látex foi ampliado 2 mil vezes (utilizando-se de microscópio eletrônico) e não foi encontrado nenhum poro. Foram examinadas as 40 marcas de preservativos mais utilizadas em todo o mundo, ampliando 30 mil vezes (nível de ampliação que possibilita a visão do HIV) e nenhuma apresentou poros. Os estudos apontam, também, que as taxas de rompimentos da camisinha durante o ato sexual são inferiores a 1% e o fato dela “arrebentar” se deve muito mais ao uso incorreto do que a falha do produto em si. O dado mais convincente sobre a efetividade da camisinha foi demonstrado por estudo realizado entre casais onde um dos parceiros estava infectado pelo HIV e o outro não. Foi demonstrado que com o uso consistente do preservativo a taxa de infecção pelo HIV nos parceiros não infectados foi menor que 1% ao ano. O uso correto e consistente da camisinha contribui, de forma concreta, para a prevenção de enfermidades e a gravidez indesejada.

O agravante da postura da CNBB de maior dimensão quando se sabe que, no Brasil, a ocorrência de gravidez entre os 15 e 19 anos vem crescendo. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) realizada em 1996 demonstrou que 14% das mulheres nesta faixa etária tinham pelo menos um filho e que as jovens mais pobres tinham mais filhos do que as de melhor nível sócio-econômico. Ocorreu aumento no percentual de partos de adolescentes de 10-14 anos atendidas pela rede do Serviço Único de Saúde e, também, de curetagem pós-aborto. No país, 13% dos casos diagnosticados de doenças sexualmente transmissíveis entre 1980 e 1998 foram em adolescentes.

”Diante de uma epidemia não há espaço para se discutir a adoção de estratégias que sabidamente não são mais eficazes. Cada vez que gastamos tempo com uma discussão ultrapassada, significa que mais pessoas estão morrendo. Nesse sentido é um equívoco da Igreja”, disse Grangeiro. Para ele, não se trata de discutir a opção por fidelidade ou abstinência em âmbito pessoal. “Não podemos adotar isso como política pública, até porque desrespeitaríamos a diversidade da sociedade. Além disso, não fazemos campanhas de prevenção para quem não faz sexo, mas sim para quem faz”.



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