1.969 - Missó
Esta semana troquei de carro com o meu filho Guilherme para cuidar da documentação do carro dele. A documentação é chata e burocrática, aquelas necessidades cartoriais de reconhecimento de assinatura presencial e no livro; vistoria no carro em entidade própria, etc e mais etc, além de precisar de um despachante para a devida regularização e troca das placas, etc e mais etc. Haja paciência, mas não era disso que eu queria falar.
Eu quero falar do lado bom, que é a oportunidade de vê-lo e de, como hoje, poder almoçar juntos. A Edna escolheu um restaurante japonês, localizado lá na Aclimação, perto da casa dele e com a desculpa de destrocar os carros eis-nos à mesa, prontinho para as delícias que virão e que, de fato, vieram, já que estou escrevendo agora na hora da janta.
Antes, voltando no tempo, quero dizer da minha primeira experiência com essa comida, que não houve, pois a Dona Cida não gostou do missó, comprado na Cooperativa e pelo que eu me lembro de, ele ficava num tambor. Era o Zezinho Assunção quem atendia e servia, só que não teve jeito, minha mãe se incomodou com o cheiro não sei o motivo e da cooperativa a gente só comia bolacha, acho que se chama sembei.
Missó é um ingrediente tradicional da culinária japonesa, feito a partir da fermentação de arroz, cevada e soja com sal. Esta pasta é usada para fazer a sopa misoshiru, que é o missó dissolvido em água quente, misturado com vegetais e legumes, um pouco de macarrão. Foi minha primeira pedida e devo dizer que já estou com saudade.
Sei que não vão acreditar, mas sou quase um craque no manejo dos pauzinhos, os hashi, a ponto de não sobrar nada no prato de yakisoba minha segunda opção. Óbvio ser um prato de origem japonesa, cujo nome significa macarrão de sobá frito, composto por legumes e verduras, juntamente com o macarrão e algum tipo de carne. Não sobrou nadinha e fiquei com vergonha de pedir outro prato; já estou arrependido.
Apesar da Dona Cida não se dar com essas comidas, quando criança eu tinha acesso ao yakisoba num restaurante na Vila Leopoldina em São Paulo, após meu pai descarregar as cargas de batatas no Ceasa, ou na Cooperativa Agrícola de Cotia. Geralmente pelas duas ou três da manhã e o restaurante se chamava Kosaka; era um prato bem servido e pedíamos também frango frito. Que fome que está me dando. Nessa memória por volta de sessenta e nove entra a presença dos Jorge Nicolau, Roberto Moisés, João Santiago, Jurandir e o Toninho Vampiro.
Logo no meu início em São Paulo, em setenta e dois, o Naile me levou para jantar num restaurante tradicional na Liberdade, logo eu que só conhecia o yakisoba do Kosaka, imaginem uma criança no meio dos sushis e sashimis. Primeiro uma dose de saquê, ou duas e depois uma pegadinha. Ele foi sacana e colocou um monte de raiz forte num sashimi com arroz e pediu para eu engolir de uma vez, dizendo ser uma maravilha o sabor e que eu precisava saber. Topei e quase morri, fiquei com falta de ar, a garganta trancada, foi um horror para aquele menino, que foi salvo por uma golada de cerveja gelada. O Naile morrendo de dar risada da minha desgraça e batendo nas minhas costas.
Claro que essa tal de raiz forte nunca mais andou pelos meus pratos e hoje ela até apareceu, nunca mais digo eu. Continuando no almoço com sushis, sashimis, rolinho primavera, temakis e tempurás. Temaki é um sushi em formato de cone e tempurá é um prato de origem portuguesa, mas popularizado pelo Japão. Consiste de pedaços de vegetais, ou mariscos, envolvidos numa massa mole e fritados em óleo muito quente.
Ah, veio também um prato de hot roll, que é um sushi empanado recheado com salmão e cream cheese; teve que ter uma repetição, pois estava muito bom e vocês já estão pensando de como eu sei tudo dessa culinária, não é. Digo neste domingo, dezenove de oito de dezoito, que só sei comer e que também sei procurar na internet, foi o que eu fiz. Posso dizer também que quem sabe disso tudo é o Eigi; perguntem para ele...
|
